A rádio digital como hipermédia

 

A rádio digital como hipermédia

Comunicação de Rui de Melo na Conferência "Relações com os media", promovida pelo Semanário Económico e pelo IIR (Institute for International Research)

 

 

 

Ponderei as questões postas para esta sessão de trabalhos e centrei o meu interesse no ponto que se refere à "Comunicação com os Media e Comunicação Interna: como consolidar a comunicação pública com uma comunicação interna coerente." E, dentro deste tema, creio estar em condições pôr à consideração a importância da rádio no contexto mediático.

 

O certo é que a rádio continua a desempenhar um papel determinante na Sociedade da Informação e que tem vindo a ser menosprezado no debate audiovisual na União europeia: 

- Mais que 210 milhões de europeus ouvem a rádio diariamente. 

- A Europa tem mais de 9600 estações de rádio.

- A rádio é ouvida mais de 3 horas por dia e por pessoa.

- Em 5 Estados membros, há mais pessoas a ouvir rádio do que a ver televisão.

- A publicidade na rádio rende três mil milhões de dólares por ano.

- O volume anual de negócios da rádio ultrapassa, anualmente, os sete mil milhões de dólares.

- O mercado áudio de venda ao público ronda os quatro mil milhões/ano.

(Fonte: WorldDAB Study, 1998 de Abril - www.worlddab.org.) 

 

O Professor João Palmeiro disponibilizou-me os últimos resultados de audiência de rádio em Portugal, respeitantes a 1998. Trata-se do estudo mais desenvolvido de todos quantos se fizeram no nosso país. Ficou a saber-se que quase 58% dos portugueses maiores de 15 anos ouve rádio mais de três horas por dia, o que corresponde a cerca de seis milhões de pessoas.

 

Se a tudo isto acrescentarmos as soluções multimédia e hipermédia que a rádio digital vai proporcionando, então vale a pena dedicar a este meio alguma atenção e ponderar, sobretudo, no novo serviço que está a ser lançado em Portugal: o DAB, Digital Audio Broadcasting.

 

 

O futuro aliciante da rádio

 

O DAB não é apenas um novo sistema de emissão de um sinal áudio de grande qualidade, mas abre também possibilidades de criação de serviços completamente novos. Futuramente, a rádio vai continuar com programações semelhantes às que conhecemos hoje, mas acrescentadas de imagens, texto e gráficos como valor acrescentado à informação áudio, numa verdadeira dimensão multimédia. Informações de trânsito e sobre itinerários de viagens, noticiário económico-financeiro, paging, dados auxiliares de orientação e localização, edições electrónicas, jogos, etc., tudo a ser exibido num écran (ou num painel de plasma, por exemplo).

 

Assim, num futuro não muito longínquo (5 anos?), os conteúdos multimédia poderão repartir-se por:

 

Informações de trânsito e itinerários, dando a conhecer os problemas de circulação, os percursos alternativos que tanto podem ser fornecidas em áudio como mostrados num pequeno écran sob a forma de mapa. Podem ser divulgados mapas digitais da área em que o veículo se encontra.

 

Informações sobre o apresentador da emissão, os jornalistas, os intérpretes e as músicas que estão a passar em áudio naquele momento, que poderão ser facultadas no écran como mensagens em desenvolvimento progressivo.

 

Para que o utilizador possa aceder a outras informações para além do áudio, o DAB transmite um sistema de selecção por menu que, inclusivamente, pode permitir a selecção de um idioma diferente.

 

As emissões em DAB podem também ser recebidas em computador pessoal mediante cartões específicos que já estão no mercado.

 

Edição electrónica. Os receptores DAB do futuro vão incluir GSM, o que os torna acessíveis ao serviço on line ou a CD-ROM. Estes receptores, provavelmente mediante um eventual sistema de pagamento por “smart cards”, vão ter condições de acesso a estes e outros serviços em monitor próprio de forma imediata e cómoda. A geração futura de receptores pode vir a incluir também o ITTS (Interactive Text Transmission System).

 

Emissão de imagens. O DAB está em condições de incluir fotos e outro tipo de imagens nas suas emissões. Durante a transmissão de uma música, por exemplo, podem visionar-se mapas de estradas, previsões meteorológicas, com imagens de satélite.

 

Fax. Ligando um fax aos futuros receptores de DAB, podem imprimir-se textos e imagens para serem analisados com calma pelos acompanhantes em viagem ou pelo próprio numa próxima paragem.

 

A geração avançada de receptores para DAB inclui também a combinação com o sistema GPS de localização, possibilitando aos automobilistas a indicação de percursos alternativos com segurança. A utilização conjunta do DAB e do GPS (Global Positioning System) será um bom contributo para um perfeito conhecimento do posicionamento do utilizador-ouvinte a todo o momento. Adivinha-se o interesse não apenas para o utilizador comum mas também para táxis, ambulâncias e diferentes serviços de transporte. O écran pode mostrar outras informações úteis a quem viaja como localização de endereços, características, preços e vagas em hotéis da área pretendida e até mesmo fotografias dos locais. Também informação sobre eventos turísticos locais, parqueamento de viaturas, postos de abastecimento de combustível, oficinas de assistência, etc..

 

A fiabilidade da rádio digital decorre, assim, da utilização de um receptor "inteligente" que comporta um "minicomputador". Enfim, a rádio digital pode proporcionar serviços em que a imaginação é o limite. E, uma vez que esta nova tecnologia se baseia no tratamento numérico, os receptores digitais podem vir a receber e transmitir ficheiros informáticos.

 

 

O DAB em Portugal

 

Dado o posicionamento do seu actual presidente do conselho de administração no contexto da actividade da UER, desde os tempos em que era director de programas, a RDP começou muito cedo a interessar-se pelo fenómeno DAB, no ano de 1989, imediatamente a seguir à implantação do sistema RDS. O trabalho iniciou-se no âmbito da UER onde o Eng. José Luís Magalhães representou a RDP.

 

A primeira demonstração em Portugal foi concretizada pela RDP em Janeiro de 1998. A apresentação oficial ocorreu no decorrer da EXPO’98, em 3 de Agosto de 1998 no recinto da Exposição. Na altura foi anunciada a abertura do concurso para atribuição de uma licença de âmbito nacional para o estabelecimento e fornecimento de uma rede de radiodifusão sonora digital terrestre – T-DAB.

 

Na fase actual estão a ser transmitidos em DAB seis canais:
quatro da RDP (Antena 1, Antena 2, Antena 3 e Rádio EXPO, este último durante a Exposição Mundial de Lisboa) e dois da Rádio Renascença (Canal 1 e RFM).

 

Transmite em VHF, banda III, canal 12B, frequência central (225,648 MHz), rede sincronizada de emissores, todos na mesma frequência. No final de 1998, estava completa a cobertura do eixo litoral Setúbal-Braga que inclui a auto-estrada A1. Mais de 50% da população está abrangida por esta cobertura DAB. No biénio 1999-2000, a RDP alargará a cobertura a todo o litoral, desde o Algarve até ao Minho[1].

 

Nos anos seguintes, proceder-se-á à instalação de novos emissores que vão permitir a cobertura dos principais eixos rodoviários do interior, concluindo-se o plano com a cobertura de todas as capitais de distrito, eventualmente não contempladas nas fases anteriores.

 

Como resultado do concurso público, ficou entregue à RDP, radiodifusor público português, a exploração e gestão dos emissores DAB, cumprindo-lhe, por um determinado preço, facilitar o acesso às estações de âmbito de cobertura nacional e regional.

 

Quanto à atribuição dos canais regionais, não vai valer o princípio da frequência única pois, por exemplo, a TSF vai ter várias frequências segundo a região do país. Tal forçou a empresa a negociar com os fabricantes de receptores de rádio a inserção de um dispositivo (semelhante à sintonia automática do RDS) nos aparelhos vendidos em Portugal, para não forçar o ouvinte a procurar a sintonia conforme a região do país. Por outro lado, por desinteresse na instalação do sistema de emissão regional pela RDP e por qualquer outro operador, devido às condições demasiadamente onerosas do concurso público, fez com que a TSF desencadeasse um processo de estudo de aquisição de equipamento autónomo de emissores. Entretanto, o legislador optou por refazer por completo a regulamentação das condições de atribuição da exploração das redes regionais de DAB.

 

Em Portugal já dispomos de emissões em DAB no canal 12 B, banda III, num processo liderado pela RDP e onde se reproduzem as emissões da Antena1, Antena 2, Antena 3, do Canal 1 da RR e da RFM. Os receptores disponíveis, porém, ainda são muito primários e extremamente caros. Em Inglaterra, por exemplo, já estão disponíveis por 200 £, cerca de sessenta mil escudos. O receptor que foi adquirido recentemente para os estúdios da RDP no Porto custou cerca de 700 mil escudos... Aqui reside, para já, o busílis do DAB em Portugal. No entanto, e à semelhança da absorção de outras tecnologias pelo mercado, os preços irão baixar substancialmente e as dimensões e a qualidade dos aparelhos receptores irão melhorar. Daí que se possa, para já, optar pela solução de ouvir em computador enquanto não chegar ao mercado uma geração de receptores DAB, acessível e multi-optativa.

 

 

Rui de Melo

Junho de 1999

 

Rui de Melo

 

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto


[1] Frequências, localizações e áreas de cobertura atribuídas a Portugal: POR / NATIONAL WIDE, 12B (224.880 MHz - 226.416 MHz), área aprox. 1562 937 km2. POR1 / MINHO/PORTO, 11D (221.296 MHz - 222.832 MHz), área aprox. 9283 km2. POR2 /TRAS-OS-MONTES, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 8 248 km2. POR3 / BEIRA-LITORAL, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 7 152 km2. POR4/BEIRA-ALTA/BAIX., 11C (219.584 MHz - 221.120 MHz), área aprox. 13 268 km2. POR5 / ESTREMADURA, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 7989 km2. POR6 / ALTO-ALENTEJO, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 9 247 km2. POR7 /BAIXO-ALENTEJO, 11D (221.296 MHz - 222.832 MHz), área aprox. 14 840 km2. POR8 / ALGARVE, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 4 628 km2. POR9/FUNCHAL-MACHICO, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 394 km2. POR10/SANTANA-VICENTE, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 302 km2. POR11 / PORTO-SANTO, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 34 km2. POR12 /AZR/S.MIGUEL, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 3 621 km. POR13 /AZR/TERCEIRA, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 4 586 km2. POR14 /AZR/ FLORES, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 83 km2.


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