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 A rádio, as pessoas e as suas coisinhas



A rádio tem a sorte de ter um estudioso como o professor Rogério Santos. Entre várias obras publicadas, artigos e comunicações diversas, tem HISTÓRIA DA RÁDIO EM PORTUGAL, em https://radio.hypotheses.org/.

Aconselho, a quem gosta de rádio, a passar pelo site. Lá se conta muita coisa interessante. Deparei-me com a “Micas Eletromecânica”, figura que conheci pessoalmente e cuja fama gerava invejas e maledicência. O Professor Rogério Santos, com base numa carta depositada na Torre do Tombo, conta a história que aqui se reproduz.

Rogério Santos
Doctor of Philosophy

“Lover Come Back to Me foi traduzido por Amor Salta para as Minhas Costas. A Micas Eletromecânica não deixava por mãos alheias uma mais que boa tradução! O problema maior era quando dizia ládi em referência a uma senhora, pois havia sempre uns ouvidos sensíveis. Do relato sobre a intervenção da locutora, ficou ainda a resposta torta do dono da rádio. A Micas Eletromecânica gostava de ir para o estúdio de avental e de chinelos, diziam os críticos. Ela era a verdadeira super-mulher, dividida entre dona de casa e radialista. Isto tudo se passaria no já longínquo novembro de 1945. De todos os modos, simpatizo com a tradução. Andar às costas de alguém é tão polissémico e a permitir diversas interpretações para um psicanalista.”

O Electro-Mecânico ficava na rua de Santa Catarina, por cima da confeitaria Atlântida. Lembro-me do cheiro a bolos que pairava naquele primeiro andar onde conheci a Liliana de Abreu, a Maria do Carmo, o Álvaro Pacheco e o Alfredo Alvela, mais tarde, meus colegas no Rádio Clube Português. Júlio Guimarães, Fernando Gonçalves, António Batista, Henrique Geração, Aníbal Barroso frequentavam, mais ou menos assiduamente, os estúdios sempre em renovação.  Manuel Moreira foi dos primeiros a comprar equipamento Ampex, de qualidade top em material de gravação de som.

Por tudo isto estou à vontade para dizer que a senhora em questão tinha cultura suficiente para não cometer um erro tão crasso. A mesma história foi-me contada em Lisboa, pessoalizando-a também numa voz feminina. A cultura “marialva” aproveitava tudo para subalternizar o papel da mulher na sociedade.

Como esta, há muitas histórias, mais ou menos anedóticas, como a do locutor que se despiu na cabine enquanto fazia a emissão, na jornalista que falava do rio Cavado, em vez de Cávado, ou da que esmiuçava o mapa de África para descobrir onde ficava o apartheid.

A resposta de Rogério Santos não tardou.

Caro Rui de Melo, caro amigo. Eu procuro nunca especular sobre um assunto de História. A minha fonte é uma carta depositada na Torre do Tombo, datada e assinada. Logo, não deve (pode) ser ignorada. A hipótese mais extrema de erro por parte de quem escreveu seria a de uma calúnia numa época de censura e maledicência, mas parece-me pouco provável. Os outros exemplos não os comento, por não possuir documentação adequada.

A maledicência era corriqueira em relação a quem fazia rádio, cantava, fazia teatro ou tinha um qualquer destaque público. Embora criança, acompanhei todo aquele ambiente feito de gente interessada, interessante, mas com alguma megalomania que, frequentemente, revelava uma ausência completa do sentido do ridículo.

A carta da Torre do Tombo é semelhante a tantas outras que aliviava as frustrações de certa gente. Umas vezes escondiam-se no anonimato e outras usavam nomes inventados. Era um fenómeno muito frequente.

Conhecedor dos cuidados criteriosos do Professor Rogério Santos, achei por bem dar-lhe o meu testemunho.

A Laura Moreira, por viver em união de facto com o proprietário Manuel Moreira, situação "escandalosa" para a época, era uma mulher de iniciativa, invejada e muito criticada. Dirigia peças de teatro, convidava autores, fazia adaptações de obras consagradas. Por lá vi gente dos "Modestos" e do "Experimental". Eu próprio fui dirigido por ela em papéis infantis de teatro radiofónico.

Quando o Electro-Mecânico deixou a Rua de Santa Catarina e se mudou para D. João IV, ela resolveu não acompanhar a mudança porque, julgo saber, não concordava com ela. E lá se recolheu na casa do Jardim de S. Lázaro onde morava.

Lembro-me da sua figura a um tempo bonacheirona, mas determinada na sua "autoridade". O pessoal que por lá passava tinha-lhe respeito.

Finalmente, quero expressar a minha admiração, o meu respeito e agradecimento pelo trabalho desenvolvido pelo Rogério. É um serviço público que não há dinheiro que pague. Um grande abraço do

Rui de Melo

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

 

Um criativo singular num exercício ficcional de rádio


Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 


Tito Ballesteros López é colombiano e um comunicador social. Especialista em Gestão de Comunicação Organizacional. É produtor, pesquisador, coordenador e co-autor de diversos livros. Assina Cuadernos de radio que disponibiliza em https://drive.google.com/drive/folders/1wiyZ2w-dsUcLiam2PJ-u12Ioc9I_0xOB.

Faz parte da muita informação que recebo de todos os quadrantes, incluindo a América Latina onde há gente muito interessante no estudo e na investigação em rádio. Só muito recentemente comecei a ler trabalhos deste autor e acho que vale a pena partilhar com os meus seguidores um texto singularmente criativo embora, naturalmente, especulativo. Sempre entendi que a rádio implica criatividade, ser diferente e ter um estilo próprio. O texto de que, parcialmente, vos dou conta, denuncia o gosto que sempre tive em surpreender o ouvinte, em partilhar informação, em acrescentar qualidade de vida ao ouvinte. Nesta linha, tive sempre gente muito inovadora nos temas e respetiva abordagem como, entre muitos outros, foram os casos de Costa Carvalho e Joaquim Fernandes, com Extravagário, o Século XX e OVNIs. Criou-se, inovou-se, transmitiu-se conhecimento.

Sempre com os olhos e os ouvidos postos na realidade, trabalhou-se a ficção, desafiando o ouvinte a acompanhar a nossa imaginação.

Julgo que esta breve introdução explica a divulgação das ideias de Tito Ballestreros.

Ele parte do princípio que vivemos numa esfera digital movida pelo conceito de objeto mudado ou Internet das coisas[1], que, no caso dos meios de comunicação, modificará a rádio e, particularmente, as suas ofertas programáticas.

Ele pensa em pessoas conectadas a aparelhos de escuta, a partir dos seus próprios impulsos cerebrais, sintonizando os canais de áudio da sua escolha. Essa nova noção de programação baseada em impulso irá ordenar ao cérebro, com base nas impressões digitais de cada ouvinte, para contatar qualquer meio no mundo via online e permitir o acesso a conteúdo específico.

A programação de rádio não será mais proposta por um comunicador ou especialista em matéria de som, mas sim por uma espécie de algoritmos ou sensores cerebrais. Além disso, a programação da rádio será alimentada por outros conhecimentos que não a comunicação social e prevemos que intervirão físicos, matemáticos, assistentes virtuais, inteligência artificial e até robótica.

Ballestreros avança na ficção dizendo que graças aos avanços médicos, as pessoas viverão mais, enquanto as experiências de rádio serão modificadas para servir a novos públicos. O texto sonoro terá uma ótima receção em pessoas entre 90 e 110 anos, as formas de narrar, portanto, mudarão e o meio não será nada sem a ajuda de suportes biónicos ou sentidos expandidos. As emissoras terão muito mais atores disponíveis para receber suas mensagens e o público será cada vez mais exigente. Começará a era do turismo espacial e aumentarão os programas de rádio sobre esta experiência e diariamente serão realizadas transmissões ao vivo do espaço. Tudo isso acontecerá no futuro e o fato de não participarmos disso não significa que não existirá.

Sabemos, por informações biológicas, diz ele, que a mudança de humor de uma pessoa pode ser modificada de acordo com o ambiente em que se encontra. O suporte da tecnologia e da Internet das Coisas, os humores podem mudar de forma autónoma. Práticas como mudar as cores das paredes de uma sala, acender ou apagar as luzes, escolher roupas, usar maquilhagem mais ou menos colorida no futuro serão simplesmente rotinas.


A programação como a conhecemos hoje será uma coisa do passado. Outras formas florescerão. Os meios de comunicação, em geral, “vão-se render” ao público, vai construindo as suas ideias, agora sim, com ele. A inovação continuará a ser oxigénio para o meio de comunicação e, a partir de agora, o mundo estará sempre em beta, em teste.

As notícias, segundo Ballestreros

As notícias deixam de ser massivas e os públicos focados nos geo-hábitos vão querer ter informações personalizadas e tudo isso também vai acontecer graças aos algoritmos e à chamada pegada digital. As rádios noticiosas irão programar os seus conteúdos não apenas a partir do som, mas comunicarão suas ideias a partir de propostas baseadas em novos e ampliados sentidos externos como os proporcionados pela realidade aumentada.


 

As notícias deixarão de ser apenas ouvidas. Será possível cheirar, sentir e ouvir através de um dispositivo móvel. Os odores de reportagem de notícias deixados por uma explosão podem ser farejados por meio de um dispositivo móvel. O teletransporte das informações ou convidados para a cabine será diário[2]. Em alguns anos, o ouvinte controlará toda a experiência auditiva.

Com a superabundância de informações, a rádio perderá credibilidade como meio de comunicação de massa, notícias falsas e não confirmadas inundarão a sua vida e ganharão aqueles que mantiverem o melhor equilíbrio informativo. não será necessário ter um rádio para ser informado. As notícias vão saltar em todas as partes do mundo, vamos tropeçar nelas e é por isso que a rádio noticiosa, que não oferece mais que notícias, perderá a sua grande força, a sua zona de segurança. será necessário aprofundar a análise, a convergência, em algo mais do que relatar a partir da já exaurida pirâmide invertida, do quê, quem, como, quando e onde.

A rádio, as coisas

As cabines das estações mudarão a sua aparência sem necessidade de grandes investimentos.

O dispositivo físico a partir do qual o meio de comunicação é sintonizado, conectado à Internet, também permitirá o aparecimento de hologramas. "Muda a frequência, os hologramas mudam”.

Graças à Internet das Coisas, a transmissão conectada à Internet fornece aos produtores informações em tempo real sobre os temas que estão a ser tratados em cada espaço sonoro. Estatísticas, dados, figuras, mapas e recursos que serão conectados via Bluetooth para alimentar os conteúdos programáticos quando necessário.

Os microfones biónicos terão discos rígidos. Em última análise, com a Internet das Coisas, os objetos "pensarão" por si próprios.

A partir do aparelho de escuta será possível saber informações adicionais àquelas narradas por cada locutor, o aparelho a partir de telas adicionais ou suspensas fornecerá links, bibliografias, dados, estatísticas, etc.

Todos terão a voz que desejam. Graças à realidade aumentada, os ouvintes podem "caminhar" virtualmente pelos locais descritos nos programas de rádio. Se o locutor narra uma perseguição policial ao vivo e direta, ela pode ser acompanhada a partir de realidade aumentada pelos ouvintes como se estivessem no local dos fatos.


Usando implantes de chips no corpo humano, podem ser gravadas paisagens sonoras, por exemplo.

A música de cada estação pode ser personalizada. Pode haver composições musicais ou arranjos feitos pela comunidade onde os meios de comunicação estão localizados. A Internet das Coisas transformará as produções sonoras em conteúdos envolventes. Ou seja, menos transmissores com mais recetores participando da ação da rádio.

Todos os equipamentos recetores serão dotados de inteligências que permitem traduzir qualquer mensagem e oferecê-la na língua do lugar geográfico de onde o sinal é sintonizado. Os tradutores ficarão melhores e mais rápidos.

A tecnologia impulsionará a criatividade temática. Outros tipos de narrativas que não conhecemos hoje irão aparecer e os géneros e formatos serão reformulados. O criativo da rádio nunca pode ser substituído, o resto da equipe pode não ser necessário. Correr riscos sempre será importante e fará, como hoje, a diferença entre um e os outros líderes de rádio.

A internet será regulamentada. Como modelo de negócio, a web oferecerá respostas para formas reais de monetizar conteúdo, canais e multicanais. Ninguém vai querer pagar por publicidade como hoje é feita nos meios de comunicação porque a forma de promover os produtos encontrará mais efeitos positivos nos espaços alternativos do que nos convencionais. O futuro representa uma mudança de mentalidade para a publicidade: o comércio eletrónico será sua nova plataforma, seu novo aliado.

Os futuristas dizem que até 2030 milhões de empregos desaparecerão. As pessoas terão mais tempo livre. Os empregos serão escassos e o ludismo reunirá todas essas experiências que procuram passar o tempo utilizando-o em alguma atividade, então, a rádio terá um público ávido por entretenimento, informação e participação.


 

Ballestreros antevê novos dispositivos

Visualizadores de realidade virtual.

Assistentes virtuais para procura de notícias.

Dispositivos com inteligência artificial para aprender mais sobre o público.

Novos sentidos fora do corpo para ouvir de forma diferente e assim interagir com o público.

Mãos e dispositivos remotos para programar o meio de comunicação.

Equipamento para projeção de holografias e transporte da imagem para o aparelho recetor.

Microfones e terminais inteligentes que contribuem com recursos para programas ao vivo.

Óculos para monitorar o público onde quer que esteja.

Simuladores para a realização de transmissões ao vivo.


Plataformas holográficas para fixar pontos de transmissão.

Roupas inteligentes para se conectar com o público e receber informações.

Telefones inteligentes, autónomos e com inteligência artificial.

Equipamento de tradução inteligente para quebrar a barreira do idioma em espaços aéreos.

Monitores com áudio e vídeo da mais alta qualidade.

Dispositivos pequenos para armazenar grandes quantidades de música.

Smart desks que vão “falar” com quem interage.

Cadeiras e móveis conectados à Internet.

Antenas e transmissores em tamanhos pequenos.

As edições de rádio podem ser feitas telepaticamente.

A rádio, que é uma tecnologia, é chamada a abraçar com todo carinho e trabalhar em equipe com as novas tecnologias. A dinâmica da mudança exige que os jornalistas de rádio mudem.

O caminho é incerto, mas, certamente, também emocionante.


 

Inspiração em Cuadernos de radio, de Tito Ballesteros López.

Fonte:

https://drive.google.com/drive/folders/1wiyZ2w-dsUcLiam2PJ-u12Ioc9I_0xOB.

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa



[1] O conceito de Internet das Coisas foi proposto por Kevin Ashton no MIT Auto-ID Center em 1999.

[2] A palavra teletransporte foi criada pelo escritor e pesquisador americano Charles Fort no início dos anos 1930. Ele usou a palavra para descrever a conexão entre desaparecimentos e aparições misteriosas em diferentes partes do mundo.

Adriano Correia de Oliveira, meu colega dos desafinados da turma B

 

Adriano Correia de Oliveira, meu colega dos desafinados da turma B



Rui de Melo

 

Tributo a Adriano Correia de Oliveira apareceu no grupo de amigos de Arnaldo Trindade, no Facebook.

Fomos colegas na turma B do 1º ano, no Liceu Alexandre Herculano. Adriano era um rapaz alto, afável, bom colega e bom aluno. Enquanto ele era o maior da turma eu era um dos mais pequenos. Fazia questão de me proteger dos cachaços que os mais pequenos levavam dos mais crescidos. Quando chegou a altura de fazer a classificação das vozes, lembro-me que havia três categorias: a primeira voz, a segunda voz e os desafinados. O Adriano e eu fomos classificados como desafinados…

O Adriano entrou na Faculdade antes de mim. Quando nos reencontrámos, na Estação Nova, em Coimbra, rejubilámos e recordámos o episódio dos “desafinados”. Adriano era, então, a par de José Afonso, uma figura reconhecida no meio universitário como uma das importantes vozes de intervenção contra a situação política que se vivia.

A minha atividade na rádio permitia-me divulgar tudo o que o Adriano produzia. Foi sempre um dos "obrigatórios" nos meus programas

O espírito sereno que lhe conheci nos tempos do liceu tinha dado lugar a um espírito agitado. Coimbra mudara o rapaz de Avintes que andara comigo nos estudos liceais. No entanto, continuava generoso, tendencionalmente protetor dos mais fracos como sempre o mostrou no seu intervencionismo.

A vida profissional fez-me abandonar a Faculdade. A vida militar separou-nos ainda mais. Os encontros esporádicos em Coimbra deixaram de acontecer.

Nunca me disse que tinha aderido ao Partido Comunista. Também nunca lhe perguntei nada sobre particulares opções políticas porque o importante é que éramos do “contra”.

Só quem viveu aqueles tempos pode dar o verdadeiro valor do que foi o ato heroico de cantar Manuel Alegre, em O Canto e as Armas.

Adriano Correia de Oliveira está entre os fundadores da Cooperativa Cantarabril (com quem, mais tarde, romperia). A atividade despoletada pelo 25 de Abril fez-nos só reencontrar em entrevistas ocasionais de espetáculos ou lançamento de discos. Depois, perdemo-nos de vista. Quando soube da sua morte e trágicas circunstâncias, em 1982, lamentei o nunca poder ter retribuído o protecionismo juvenil que dele recebi. Em compensação, ajudei a fazer de cada disco dele um êxito.

Alguma justiça lhe fizeram os poderes públicos. Em 24 de Setembro de 1983 foi feito Comendador da Ordem da Liberdade e a 24 de abril de 1994 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, ambas as condecorações a título póstumo.

Os amigos mais íntimos foram criando formas de o manter vivo na nossa memória e na nossa gratidão por quem deu tudo pela liberdade e pela justiça social num cantar único de sensibilidade atuante. Assim se criou o Centro Artístico e Cultural Adriano Correia de Oliveira e escolas e ruas têm o seu nome.

 

Rui de Melo


Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Serviço público de radiodifusão e o tributo a Bustamante

 

Serviço público de radiodifusão e o tributo a Bustamante

 


Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

 

O Professor Enrique Bustamante, faleceu no dia 20 de junho, em Málaga.  Catedrático jubilado da Universidade Complutense de Madrid, e um dos principais investigadores europeus da área da Cultura e Comunicação Audiovisual, foi um dos meus professores do Curso de Doctorado da Pontificia de Salamanca. Com ele, entre muitas outras coisas, falámos do serviço público de rádio e de televisão e como ele deve ser objeto de um grande Pacto Social, celebrado entre os seus profissionais e a sociedade civil, apoiado no Parlamento e garantido pelo poder executivo. A minha experiência como profissional do Serviço Público de radiodifusão tinham-me deixado em dúvida quanto às ideias e práticas de participação da sociedade civil nos conteúdos do serviço público de rádio e de televisão.   É uma linha de pensamento que atravessa os investigadores do Conselho da Europa, embora sublinhem que tais propostas não podem substituir as decisões democráticas de base social, mas sim ativá-las, fornecendo elementos de análise e ação.

A legitimidade social, democrática e jurídica do serviço público de radiodifusão é inquestionável à luz tanto da doutrina da União Europeia como das disposições constitucionais e da legislação em vigor. Mas exigem-se condições precisas que garantam a execução do serviço público para os fins pretendidos.

Bustamante dizia que o serviço público de radiodifusão é um mandato imperativo do modelo social europeu, por mais que cada Estado-Membro tenha capacidade para o adaptar às realidades nacionais. Ele lembrava as menções e citações no mesmo sentido do Protocolo de Amsterdão de 1997, incorporado no Tratado de Lisboa com valor constitucional, que concorda, posteriormente, com a Carta dos Direitos Fundamentais da União de 2007 para atender às necessidades sociais e culturais e democráticas da sociedade e ter em conta que, incluindo nas funções de controlo, a Comissão de Bruxelas havia de confirmar a legitimidade do serviço público nas suas comunicações de 2001 e 2009 sobre financiamento público.

Além disso, a referida Carta estabelece os direitos de liberdade de expressão e pluralismo (artigo 11), que segundo o Grupo de Alto Nível criado para este fim (High Level Group on media Freedom & Pluralism) significa a existência de reguladores audiovisuais independentes e meios públicos de comunicação com “regras rígidas que proíbem a ingerência política e garantem o seu pluralismo”.

Desde o famoso McBride Report, vincam-se as obrigações contraídas com a Convenção sobre a proteção da diversidade cultural da UNESCO de 2005, rubricado pela U.E., ou as múltiplas proclamações feitas no Conselho da Europa, muito ativo na definição de boas práticas neste domínio.

Existem também inúmeras resoluções do Parlamento Europeu no mesmo sentido: por exemplo, em 3 de abril de 2012, o Diário Oficial da U.E. publicou uma resolução que proclama o papel fundamental "de um sistema europeu dual de rádio e televisão verdadeiramente equilibrado", exigindo um financiamento estável e suficiente e "apelando aos Estados-Membros para que ponham fim à ingerência política no que diz respeito aos conteúdos produzidos pelos organismos de serviço público".

No Relatório do Conselho para a Reforma dos Meios de Comunicação Públicos do Estado de 2005, foi dada ênfase às estruturas de governação e financiamento, como condições sine qua non para consolidar um serviço público autêntico; embora também tenha sido assinalado que estas estruturas, por si só, não garantiam o sucesso, na ausência de consciência dos agentes políticos e, sobretudo, da sociedade civil. Portanto, concluiu-se que a falta de estruturas adequadas condenou o serviço público à crise permanente, sua degradação e, por fim, sua marginalização ou extinção.

Paralelamente e em escala internacional, um relatório da UNESCO do mesmo ano também reconheceu que “poderia ser simplista supor que uma réplica completa desses sistemas e práticas em diferentes ambientes produzirá os mesmos resultados benéficos”. Porque "como em outras esferas de atividade, o sucesso ou o fracasso do serviço público de radiodifusão depende de uma série de fatores, incluindo a sua história local, geografia, cultura, ethos político e condições sociais e económicas" (UNESCO, 2006).

Recordar esses elementos básicos da boa governança ajudam a enquadrar a situação. Ainda mais no contexto de um sistema mediático e televisivo que evoluiu consideravelmente, não só pelo impulso das mudanças tecnológicas ou da crise económica, mas também como consequência de decisões políticas e regulamentares que, frequentemente, foram envoltos nesses fatores para melhor moldar o espaço público de forma partidária.

Diz Castells, um dos meus autores de referência, que estamos a testemunhar uma clara “crise de legitimidade democrática”. Essa ascensão da síndrome do descontentamento cidadão, que atinge a democracia representativa, incluindo os meios de comunicação e os jornalistas, "não deve ser interpretada como uma crise da política, mas como um processo de mudança”, com a procura de novas formas de participação política e aprofundamento da democracia, com novos representantes da sociedade civil e o combate à corrupção visando a regeneração do sistema político.

A atualidade política portuguesa mostra que a transparência não é fácil, acentuando-se a dificuldade de controle de enriquecimentos não justificados. Num ambiente global de mobilizações de protesto social sem precedentes (da Islândia em 2008, passando pelas primaveras árabes e o 15-M espanhol em 2011, até Hong Kong em 2014 e 2020), a ação direta coletiva é combinada com a ação desencadeada na interconexão social.

Espera-se, assim, uma nova conceção democrática ligada ao Governo Aberto, de transparência informativa dos atos públicos, mas também de compreensão da democracia como um processo de construção coletiva da sociedade em que os cidadãos desempenham um papel ativo como "produtores de governança". Uma profunda transformação da participação direta e do controle dos cidadãos/usuários que as novas redes possibilitam hoje e que é perfeitamente “compatível com a responsabilidade (accountability), com a eficácia e eficiência da boa governança”.

Respeitando as competências dos Parlamentos, como autêntica representação da sociedade, é necessário dar voz direta à sociedade civil e às suas entidades representativas a nível estadual e local, colocando-as no centro da gestão e do controlo das suas missões; além disso, é necessário encontrar um novo modelo viável e sustentável de financiamento do serviço público e tentar consciencializar o público sobre a sua capacidade de influenciar as redes sociais públicas.

Rentabilidade social

A lógica do serviço público europeu é regida pela ideia de rentabilidade social. Esta rentabilidade social implica em termos democráticos (pluralismo ideológico e participação democrática), com acessibilidade total aos serviços audiovisuais para pessoas com deficiência; diversidade cultural (promoção e divulgação de cultura de qualidade); e a defesa dos valores e dos direitos humanos e sociais, desde a luta pela igualdade de género e origem racial até à expressão e defesa das minorias e o apoio informativo e valores do Estado Providência.

A utilização de indicadores que refletem o pluralismo político e social já se tornou uma prática sistemática dos serviços públicos e das autoridades audiovisuais europeias. A rentabilidade social engloba esses aspetos, mas tem de ir muito além e refletir-se num conjunto de indicadores que meçam o impacto do serviço público sobre os cidadãos.

A rentabilidade social do serviço público assenta, singularmente, em alguns conteúdos cuja divulgação cumpre uma importante função no domínio da educação, saúde, cultura, desporto, acessibilidade para pessoas com deficiência, igualdade de género, exercício efetivo dos direitos fundamentais e, em geral, nas campanhas de consciencialização cidadã, cujo impacto dos programas vai muito além das campanhas institucionais planeadas.

O serviço público devia desempenhar um papel importante ao nível da inovação cultural e criativa (incluindo o desenvolvimento de novos formatos audiovisuais) e desempenhar um papel essencial na literacia e no acesso às novas tecnologias e redes digitais.

Porém, a cidadania tem dificuldade em ver o serviço público comprometido com a ideia de uma comunicação de “interesse social”. Desconhece-se qualquer avaliação de impacto social neste sentido, bem como da sua quantificação económica como investimento em capital social.

Já em 2005, o Relatório do Conselho para a Reforma propôs indicadores de controle para medir o pluralismo e a diversidade (ICR 2005, pp. 85-87). Os conteúdos que podem ser considerados de interesse social, como prevenção à saúde, obesidade infantil, cancro, combate ao bullying, violência de género ou acidentes de trânsito.

A criação de sinergias entre as diferentes plataformas é essencial. Sem abandonar a produção de conteúdos para os canais tradicionais, a capacidade de produção do serviço público de radiodifusão deve ser colocada ao serviço da criação de novos conteúdos para plataformas interativas, mas em sinergia com a programação tradicional.

A programação, nos tempos atuais, deve ser pensada em termos de consumo linear e não linear, num compromisso social de televisão e rádio. Toda a programação e conteúdo devem estar disponíveis em plataformas interativas.

Participação e comunidade.

A interatividade e a participação do público devem ser valores desenvolvidos transversalmente, tanto na programação linear quanto em plataformas interativas. Bustamante chega a propor que todo o conteúdo deve ser projetado para criar comunidades. E sublinha que a participação em redes sociais e a incorporação de conteúdos criados pelo público exige novos padrões em Códigos Deontológicos e Livros de Estilo.

Personalização.

O tratamento dos dados coletados em plataformas interativas deve ser aplicado para melhor determinar as necessidades do público e permitir a personalização do conteúdo. Há que estabelecer critérios de acesso a conteúdos especiais, convite para programas, debates, etc., para além do direito de participar na eleição do conselho geral independente.

O tratamento dos dados será realizado respeitando os direitos dos usuários e sem qualquer exploração comercial posterior. Todos os conteúdos e serviços devem ser customizáveis ​​e permitir ao usuário consumi-los em diferentes plataformas a qualquer hora, lugar e dispositivo.

O esforço a desenvolver deve compatibilizar-se com o caráter bilateral da taxa. Ou seja, é também um pagamento que deve ser feito para receber algo em troca. No âmbito público, por exemplo, ao pagarmos a taxa de saneamento básico estamos a receber em troca o serviço de recolha de lixo das ruas, providenciado pelo ente público. Também aí há uma troca de serviço pelo pagamento. Ora, a taxa do audiovisual sempre foi de bilateralidade problemática. Não há a linearidade do exemplo citado. Ou seja, a escolha do serviço não se liga, diretamente, à vontade própria do utilizador.

A bilateralidade mitiga-se no conselho geral e no conselho de opinião. Ao dar uma vista de olhos pelos seus componentes verifica-se uma umbilical relação partidária. Com mais ou menos variáveis, a velha lógica mantém-se: assembleia nomeia governo, governo nomeia administração, administração nomeia diretores, diretores nomeiam chefes, o que resulta numa unilateralidade imposta

Procurando contrariar esta lógica, Henrique Bustamante formou o Teledetodos.

Propostas de participação cidadã de teledetodos

Bustamante acreditava que os meios de comunicação públicos apostariam na participação cidadã efetiva e com toda a amplitude possível. A sociedade civil (organizações e movimentos de cidadãos com capacidade representativa) pode e deve estar ciente da importância que o serviço público de comunicação pode ter na melhoria da qualidade democrática da vida pública e no progresso da sociedade como um todo. Portanto, a sua presença nos mais altos órgãos de gestão do serviço público e sua participação sistemática nas decisões de programação e conteúdo devem ser consideradas lógicas e naturais.

Esta ligação entre os cidadãos e o seu direito à participação efetiva deve traduzir-se numa mudança profunda nos canais e procedimentos de consulta, de acordo com os princípios elementares do que deve ser um governo aberto.

Além disso, o desenvolvimento de um serviço público exige imperativamente, por razões de legitimidade e raízes na sociedade e como marcas da doutrina europeia, uma gestão autónoma, controlada por autoridades externas e independentes, bem como por uma comissão parlamentar; protegido da interferência de governos e grupos de pressão privados e enraizado na participação intensiva dos cidadãos.

Quem quiser, pode visitar o site https://teledetodos.es/

 

Rui de Melo

 

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

 

Alfredo Alvela, dos mais criativos de Rádio que conheci

 

Alfredo Alvela, dos mais criativos de Rádio que conheci



Conheci Alfredo Alvela, no início dos anos 50, ainda no Electro-Mecânico. Em 1957, passou a integrar os quadros do Rádio Clube Português no Porto como locutor. Em 1963, passámos a ser colegas na Delegação do Norte do RCP. Senhor de voz privilegiada, era criativo e possuía um grande poder de improviso. Com ele aprendi que “o melhor improviso é o escrito”. Ou seja, cada reportagem em direto deve ser devidamente estudada, preparada e devemos ter sempre à mão elementos auxiliares de memória para que não haja hiatos na narração.   Ficou famosa a sua reportagem a bordo do Gil Eanes acompanhando a saga da pesca do bacalhau.

Com ele partilhei reportagens que marcaram aquele tempo. A inauguração da ponte da Arrábida e da ponte de Amarante, e a visita ao Porto do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek. Acompanhou a digressão do Orfeão Universitário do Porto aos Estados Unidos (1968).

Alvela, além de excelente na cabine, animando uma emissão, era um repórter de referência.

Enquanto em Lisboa; Aurélio Carlos Moreira alimentava a ideia do Passatempo para Jovens, no Porto, Alvela, com Humberto Branco, também de Rádio Clube Português, criava o programa Clube da Juventude (22:30-00:00), com a frase “Em cada jovem há um homem, em cada homem houve um jovem; mantém em ti o jovem” a acompanhar o indicativo do programa. O “Clube” transformou-se num centro de debate cultural de literatura, artes plásticas, filatelia, jazz, aviação, poesia, cultura física, música de concertos e participação de ouvintes através de cartas.

Com Alfredo Alvela e Eugénio Alcoforado, participei em programas culturais criados por Maria José Teixeira de Vasconcelos (descendente de Teixeira de Pascoais) como a Paisagem Intelectual ou “Os grandes esquecidos”. Com ele participei num programa de referência da época, o PBX, realizado por Carlos Cruz e Fialho Gouveia,

Um conflito com a direção, afastou-o do Porto e levou-o para Lisboa. A sua atividade passou a centrar-se, exclusivamente na informação. Alfredo Alvela acabou a sua vida profissional no Porto. Era eu diretor da Delegação da RDP no Norte, no fim da década de 80, quando me veio pedir “abrigo político” por desajustamentos laborais em Lisboa.

Contra o parecer da administração, achei por bem acolhê-lo. Pensava que era possível combater a instabilidade emocional que, por várias razões, o abalou. Não foi. Mas para mim há-de ser sempre uma referência profissional com quem muito aprendi.

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

José Afonso e uma experiência única


 

José Afonso e uma experiência única

 

Estávamos em 1962, em Coimbra, no período de exames de outubro. Cabia-me fazer a aptidão ao curso de direito da Universidade. Empreendimento em que tive sucesso.

O dinheiro não abundava e não dava para ir para uma pensão. Tinha um amigo que estava ligado à Rás-te-Parta, conhecida “república” de estudantes, a quem pedi que conseguisse que me deixassem pernoitar até acabar o exame de aptidão. O Sérgio Martins era muito bom aluno e não precisava da época de outubro o que dificultava a “cunha”. No entanto, o relacionamento do meu pai com o Rás-Mor facilitou as coisas. E assim pernoitei na Rás-te-parta.

O Rás-Mor disse para ficar tranquilo a estudar no quarto e que não me incomodasse com o “movimento” que ia acontecer durante a noite. Havia outros convidados para passar a noite naquela casa. José Afonso era um deles. Fui-lhe apresentado com a indicação de que trabalhava na rádio no Porto. Fomos conversando sobre música, discos e, inevitavelmente, fado de Coimbra. José Afonso surpreendeu-me quando disse que estava cheio de fados de Coimbra. Ele que tinha discos editados pela Valentim de Carvalho! Disse-me que queria gravar outras coisas que não fado e pediu-me que sugerisse editoras do Porto. Falei-lhe da Rádio Triunfo, do Arnaldo Trindade e da Rapsódia. Pôs logo a Rádio Triunfo de lado e disse que não conhecia a Rapsódia. Dei-lhe o contacto e insisti no Arnaldo Trindade. Depois disse para eu ir estudar porque o exame que ia fazer não era brincadeira.

Por volta de uma da manhã começo a ouvir cantar uma música bem conhecida, mas com uma letra diferente:

A 13 de maio,

Na Cova da Iria

Não aconteceu nada

É tudo mentira!

Divertiram-se com mais uns temas populares até que, solicitado pelos colegas e com Rui Pato à viola, ouvi, pela primeira vez, “Os Vampiros”. Poema de numa força nunca antes ouvida por mim. Não me atrevi a sair do quarto. Olhando pela janela, encostado à parede, estava um homem que desconfiei ser da polícia política. Temi que a noite tivesse consequência funestas No dia seguinte, disseram-me que, com os estudantes em grupo, os “pides” não se atreviam.

Passados uns meses aparecia no mercado “Os vampiros”, em lançamento da Casa Rapsódia, da Rua de Sto António (hoje, 31 de janeiro). Depois, foi o que toda a gente sabe. Arnaldo Trindade acabaria por dar a José Afonso as condições de trabalho que o seu valor exigia. A Rapsódia foi um episódio isolado.

Devo dizer que, no encontro da Rás-te-Parta, estava também um rapaz de Avintes, chamado Adriano Correia de Oliveira. Ele será o tema da minha próxima história.

Voltei a encontrar José Afonso quando ele veio aos estúdios do RCP por altura da I Convenção Internacional do Disco, realizada em Ofir por Arnaldo Trindade, em 1969. Um acontecimento de criação só possível por Arnaldo Trindade.

Propositadamente nunca tratei José Afonso por Zeca. Só os mais íntimos o tratavam assim. E eu, infelizmente, não o era.

José Afonso foi sempre obrigatório nos programas de rádio que realizei e apresentei.

 

 

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