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“Estética do erro”

 

“Estética do erro”

Alguns teóricos, como Emílio Prado, falam numa “estética do erro” (1989, p. 21)[1], uma expressão retirada do jazz e do improviso, como contraponto a uma leitura impecável, que – de tão perfeita – poderia ter um efeito distanciador no ouvinte. A “estética do erro” significa, mais do que cometer erros premeditados (ou seja, o jornalista de rádio ao escrever já calcula onde se vai enganar de propósito...), deixar campo aberto para que eles apareçam... naturalmente. O conceito pretende produzir uma “aproximação entre emissor e recetor, uma certa cumplicidade amigável e, em definitivo, uma humanização da expressão que favorece a criação de um clímax comunicativo” (Prado, 1985: 21, apud Meneses, 2012: 49)[2].

Quando se pede clareza, o jornalista vai provocar erros de leitura porquê? Diz a “estética do erro” que uma leitura perfeita pode ter um efeito distanciador no ouvinte. E a leitura com erros aproxima o ouvinte? Aliás se a estética é a filosofia da arte que, por sua vez, procura o belo nunca pode condescender com a provocação do erro.

Quando se espera credibilidade das notícias, a provocação do erro não a compromete? Se o jornalista se engana, tropeça nas palavras, acrescenta-lhe sons estranhos reúne condições para ser credível? Ou, pelo contrário, compromete essa credibilidade, provocando o erro, levando o ouvinte a rejeitar tal manifestação de insegurança que o faz pensar que quem assim age não sabe do que fala e, portanto, não interessa.

O que se exige é uma leitura coloquial, que transmita proximidade e que conquiste a confiança de quem ouve. Um impulso de afeto. A provocação do erro subverte a relação de naturalidade com o ouvinte.

Consequentemente, a eficácia da mensagem é grande se excluir o tom académico, doutrinário, palestrante que faz com que, em especial alguns comentaristas, apareçam ante o ouvinte como um mestre, um clérigo ou um juiz.

As notícias (género básico de informação) têm características peculiares na rádio. Reúne condições elementares de veracidade, novidade, atualidade e interesse geral, bem como as respostas às seis perguntas clássicas

quem?

O quê?

Quando?

Onde?

Como? e

por quê?

Concisão, frases curtas, preferir o presente ao passado, a voz ativa à passiva. Repetição pontual de tópicos numa redação em espiral. Às vezes, é necessário fornecer ao ouvinte pontos de referência. Se a notícia for longa, o lead pode ser repetido, resumido, entre os detalhes da exposição. O lead é a entrada ou o início de informações com seus principais dados resumidos. A voz do comunicador acrescenta um elemento pessoal e diferenciador. Também permite o uso de ênfases, pausas e mudanças no ritmo da leitura.


Exemplo de notícia em espiral

 


“A rádio não evoluiu; adaptou-se” (Meneses, 2012: 159). “Ou seja: a rádio, de ontem e até de hoje, pode definir-se como um conteúdo sonoro (palavra e/ou música) predeterminado por alguém (a direção de programas ou o autor) para ser ouvido (através de difusão hertziana terrestre ou outra, como o cabo, o satélite ou mesmo a Internet) por muitos (nos mais variados tipos de recetores), passivamente (o luxo é linear, irrepetível e não manipulável)” (ibidem, 2012: 162).

“O erro verbal é uma primeira dimensão do fator de clareza do som, que geralmente mostra um erro na leitura das notícias escritas anteriormente; mas também um defeito de articulação ou dicção, uma atitude insegura, uma formulação incorreta, complexa e confusa. Estes elementos questionam a formação profissional do jornalista, como se ele não dominasse todos os instrumentos de sua profissão. O ouvinte julga naquele momento a credibilidade daquele que não demonstra conhecer todos os elementos da sua tarefa profissional, com base num estímulo informativo, com uma má estrutura sonora, pouco inteligível ou pouco agradável ao ouvido” (Balsebre, 1994a: 56)[1].

Para um jornalista de rádio cujo instrumento principal é a sua voz, a articulação dos sons deve ser perfeita, pois implica que os seus recetores possam captar a mensagem em toda a sua extensão[2].

O jornalismo radiofónico não dispensa a objetividade e não aceita exageros de subjetividade. Tudo tem a ver com as características do suscetível de ser notícia, naturalmente, paredes meias com a linguagem utilizada pelo jornalista.

É verdade que da rádio se espera uma linguagem lúdica, afetiva, recriadora da realidade.

Luís Filipe Costa, nas conversas que fomos tendo, chamava-me a atenção para nunca divagar, concretizar, ir direto ao assunto. Com o tempo, fui aprendendo que devia trabalhar um texto dinâmico, na busca do concreto, com riqueza informativa e potencial afetivo, provocando recordações, emoções e sentimentos.

Barthes falava da característica polissémica do texto informativo que implica uma cadeia flutuante de significados entre os quais o recetor pode escolher uns e ignorar outros, é o fundamento textual da capacidade ressignificadora do recetor.

Há que escrever pensando numa perceção associativa, ou seja, o ouvinte associa sincronicamente vários códigos: imagem auditiva, palavra, som.

Sobre a eterna questão da objetividade nunca me deixei embalar na discussão do “sexo dos anjos”. A prática, os colegas e os ouvintes exigiam um comportamento preocupado com a verdade.  Sempre pensei que a veracidade se liga à pesquisa da verdade, ao caminhar na sua direção, fazer tudo para chegar lá. É a qualidade que distingue o jornalista responsável - ser credível perante o público.

Uma vez, estando de serviço em Sunderland, enviei uma crónica sobre um incidente num shopping, que envolvia jogadores da equipa que eu acompanhava. Filipe Costa disse-me, depois, que não tinha deixado ir para o ar a minha crónica. Concordei com ele porque, no “calor do momento”, eu tinha desprezado o princípio da imparcialidade. Aprendi com ele que não basta contar a verdade dos factos e ser objetivo. Se não for imparcial, tudo se desmorona. Objetividade, verdade (veracidade) mas também imparcialidade.

A garantia de imparcialidade começa na seleção do objeto relevante da informação determinada pelo direito do ouvinte a ser informado, não por interesses, favores ou privilégios. E, claro, com a apresentação de todos os pontos de vista, cuidando da neutralidade de seleção dos testemunhos.

Retomando o fio condutor, reconhecemos nas notícias na rádio (género básico de informação) características peculiares. Aí se encontram as condições elementares de veracidade, novidade, atualidade e interesse geral. Nunca consegui ver a informação fora de uma perspetiva estética. Rudolf Arnheim e a sua Estética Radiofónica ajudaram a reforçar ideias. A partir do intertexto teórico e estético dos anos 1930, começa uma fenomenologia precisa da rádio. Era McLuhan que falava sobre o "espaço acústico da rádio". O espaço de interação centralizado pelo narrador oral cria um ambiente intuitivo centralizador de um imaginário cultural. A oralidade mediada pela rádio, sem essa centralidade sensorial, tem que caminhar na partilha de uma imagem acústica criada no espaço acústico com as características de invisibilidade, simultaneidade, envolvimento, inclusão, integração, de modo a constituir o espaço como meio envolvente.

A noção de meios como extensão sensorial constituiu a grande hipótese que McLuhan explorou na questão fundamental: a mudança de perceção como possibilidade única que a cultura elabora para alterar os seus processos cognitivos.

Menezes diz que “Quase tudo se resume, na rádio, a falar e a escrever (e a ler, mas disso tratamos mais à frente) de modo a que o ouvinte nos entenda, de princípio a fim, com o mínimo de distração (o “ruído”).”[3]

É ele que afirma com propriedade que

o jornalismo – principalmente o da rádio – tem de ser direto, curto, incisivo e linear (sem que se torne básico ou vulgar).”

Credibilidade significa "tomar como certo algo que o entendimento não alcança ou que não está provado ou comprovado".

É muito importante acreditar que o que nos é dito é verdade, que as notícias e acontecimentos são verdadeiros e que quem nos comunica merece a nossa confiança.

Tendemos a acreditar no que está de acordo com as nossas próprias crenças, experiências, desejos, preconceitos ou esperanças e, portanto, colocamos a nossa confiança nos informadores que têm o nosso modo de pensar sobre diferentes aspetos da vida. Embora isso não signifique que os outros não sejam confiáveis, o nosso comunicador escolhido será mais aceite porque depositamos nele a nossa confiança. É por isso que a confiança é tão importante para se ganhar credibilidade, não apenas para alcançá-la, mas também para a manter.

Voltando à ideia inicial, se se pede clareza, o jornalista não pode provocar erros de leitura. Uma leitura perfeita tem um efeito de credibilidade no ouvinte. E a leitura com erros afasta o ouvinte. Aliás se a estética é a filosofia da arte que, por sua vez, procura o belo nunca pode condescender com o erro. A provocação do erro compromete a credibilidade das notícias. Se o jornalista se engana, tropeça nas palavras, acrescenta sons estranhos não reúne condições para ser credível. Ao comprometer essa credibilidade, leva o ouvinte a rejeitar tal manifestação de insegurança que o faz pensar que quem assim age não sabe do que fala e, portanto, não interessa.

 


Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

Referências

BALSEBRE, Armand, El lenguaje radiofónico, Madrid: Ediciones Cátedra

Díaz Rodríguez, La educación de la voz radiofónica,  Universidad de Sevilla. Departamento de Comunicación Audiovisual, Publicidad y Literatura, 2014

Meneses, João Paulo, “Estudos sobre a Rádio”, Mais Leituras Editora, 2012

Meneses, João Paulo, Jornalismo radiofónico, Formato eBook, 2016, dezembro

Prado, Emílio, Estrutura Da Informação R



[1] BALSEBRE, Armand, El lenguaje radiofónico, Madrid: Ediciones Cátedra

[2] Díaz Rodríguez, La educación de la voz radiofónica,  Universidad de Sevilla. Departamento de Comunicación Audiovisual, Publicidad y Literatura, 2014

[3] Meneses, João Paulo, Jornalismo radiofónico, Formato eBook, 2016, dezembro


A baralhar datas se esquece a história

A baralhar datas se esquece a história

 

 

 

Ouço a pompa e a circunstância com que a rádio da RTP fala da comemoração dos 85 anos da emissora  nacional. A EN fez parte do grupo de emissoras que foi nacionalizado e integrado na nascente RDP, em 1975.  RDP desaparecida ou absorvida na RTP. A história diz que, naquele grupo de emissoras estava o Rádio Clube Português, nascido a 21 de Abril de 1931, quase a fazer 90 anos. No entanto, quem ouve aquela rádio da RTP só ouve falar da EN. O resto não conta?  Tal como a RDP já não existe na RTP. Qualquer dia o que conta para a história é 1957, o nascimento da RTP. Com gente que renega a história tudo é possível.

Se o arquivo sonoro do RCP foi sempre desvalorizado, ainda resta o riquíssimo espólio de Igrejas Caeiro com muita coisa feita nesta estação emissora.

Se isso não bastar, recorram à cinematografia portuguesa em que o cenário não era outro senão o das instalações do Rádio Clube Português e com histórias lá vividas.

Chego à conclusão que a história também é contada por sectários.

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto.

As Qualidades do Bom criador de Reportagens em Rádio

 As Qualidades do Bom criador de Reportagens em Rádio


Reflexões vertidas para aulas por
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa 
Com base em artigo da professora Susana Herrera Damas, publicado na Revista RE - presentaciones Periodismo, Comunicación y Sociedad. sherrera@udep.edu.pe
Embora por razões de tempo e recursos não esteja muito alargado na prática, a reportagem é um género que tem um grande potencial e que oferece abundantes possibilidades para a sua exploração na rádio. A razão: a sua capacidade para oferecer uma maior profundidade na altura de relatar os factos, interpretá-los, contextualizá-los, oferecer um maior relevo e situar a informação numa perspectiva mais ampla. Contudo, nem sempre é fácil elaborá-las. É verdade que é um género que deixa certa margem à liberdade expressiva do seu autor (1). Mas, por isso mesmo, a ausência de moldes prefixados gera por vezes incerteza sobre o modo de proceder. O objectivo deste artigo é descrever algumas das qualidades mais importantes que podem ajudar o repórter no desempenho do seu labor. Antes, descreveremos brevemente a essência deste género a partir do retrato dos seus sinais de identidade mais significativos.
2. Características da reportagem em rádio
A reportagem é um “modelo de representação da realidade que a partir do monólogo radiofónico pretende narrar e descrever factos e acções de interesse para o ouvinte, proporcionando um contexto de interpretação amplo nos conteúdos e no uso de fontes; rico e variado nos recursos de produção, e cuidado e criativo na construção estética do relato” (Martínez-Costa e Díez Unzueta, 2005: 114). Esta definição formal poderia ficar completada com outros traços que também identificam o género.
Quanto ao seu conteúdo, a reportagem caracteriza-se pela sua atitude informativa, por ter certa conexão com a actualidade, pelo seu carácter narrativo descritivo e por uma maior profundidade jornalística que não se conforma com descrever e narrar os elementos mais noticiosos de um facto, mas também trata sempre de ir mais além. Assim, a reportagem é um género que se inspira em factos reais e concretos e que admite uma alta versatilidade temática.
Quanto aos seus recursos estilísticos, relativos à expressividade e ao pôr em cena, a reportagem define-se como uma alta intensificação dos recursos expressivos e um uso de fontes rico e variado nos recursos de produção e cuidado criativo na sua construção estética. Desta forma, o repórter participa no texto e tem liberdade para estruturar o seu relato, escolher a linguagem e para fazer um uso intencional de todas as possibilidades expressivas que a técnica e a linguagem radiofónica oferecem. Outros traços são a sua originalidade, o seu estilo pessoal, a sua grande liberdade estrutural, a diversidade de recursos expressivos que admite e o monólogo para a sua apresentação.
Quanto às suas condições de produção, são características da reportagem a sua emissão habitual em diferido e desde a emissora e a sua extensão variável que pode ir desde os 2 ou 3 minutos das reportagens elementares até às reportagens de investigação, muito mais profundas e cuja extensão pode chegar até aos 60 minutos.
Finalmente, quanto ao lugar do género dentro do conjunto de programas que compõem a oferta de uma emissora, a reportagem tem uma ligação informativa e encontra-se nos serviços principais de notícias ou nos noticiários especiais. Por vezes, pode chegar também a constituir programas autónomos.
3. Os tipos de reportagem em rádio
Por sua vez, nem todas as reportagens são iguais. Na prática, é possível classificá-las a partir de diferentes critérios. Numa tipologia própria (Herrera, 2007e) importa distinguir diversos critérios, segundo se refiram às técnicas de realização, ao grau de profundidade, ao lugar de emissão e ao conteúdo. Segundo a técnica de realização, podemos distinguir as reportagens em directo, em diferido e mistas. Segundo o grau de profundidade, as reportagens podem ser elementares, documentais e de investigação, com um grau crescente de profundidade, conforme passamos de um a outro. Atendendo ao lugar de emissão, encontramos reportagens de rua, editadas em estúdio ou mistas. Finalmente, quanto ao conteúdo, as reportagens podem abordar factos, acções ou declarações, embora, na prática, estas modalidades não se costumem apresentar em estado puro mas também pode haver uma reportagem que comece relatando um facto e inclua depois uma série de declarações para fechar finalmente com a exposição das acções que se seguirão no futuro, em razão do facto em questão.
Não obstante, à margem do tipo de reportagem, a maior parte das qualidades que vamos descrever são, na realidade, válidas para toda a tipologia. Isto é, trata-se de qualidades que ajudam o repórter a desenvolver o seu trabalho, quer numa reportagem elementar ou de investigação, por exemplo. Juntamente com elas, há outras qualidades que são específicas de alguma modalidade concreta, como teremos ocasião de ver.
4. O estilo da reportagem em rádio
Antes, um par de notas breves sobre o estilo das reportagens em rádio e sobre as fases da sua elaboração. Quanto ao estilo, um dos traços característicos do género é a sua originalidade. Qualquer reportagem quer ser original, nova, inovadora, diferente, único e diferente. De alguma forma, qualquer reportagem quer ser recordada porque, antes dela, nunca se escutou algo assim. Na prática, esta originalidade alarga-se desde o fundo até - sobretudo - à forma que a reportagem adopte.
Quanto ao fundo, há reportagens que querem ser originais pelo tema que abordam, enquanto outras querem ser pela perspectiva ou ponto de vista que se adopte. Quanto à forma, a originalidade da reportagem nota-se sobretudo na redacção, no tipo de narrador que se use, nos tratamentos de tempo e espaço ou no ritmo (Herrera, 2007c). Na prática, esta originalidade exige certas qualidades expressivas por parte do repórter.
5. As fases na elaboração da reportagem em rádio
Quanto às fases de elaboração da reportagem em rádio, estas são o resultado de um processo laborioso que inclui: ideia, propósito, perspectiva, investigação, selecção, ponderação ou avaliação, elaboração e apresentação (Ulibarri, 1994: de 51-57 e Herrera, 2007d). Dizemos isto porque, em cada uma destas fases, o repórter deve empregar uma ou várias das qualidades que vamos descrever a seguir. Com toda esta apresentação preliminar, vamos ver agora quais são essas particularidades que ajudam o repórter a desenvolver o seu trabalho.
6. As qualidades do bom criador de reportagens em rádio
Uma vez descritos os principais aspectos da reportagem radiofónica, passamos agora a expor as principais qualidades de todo o bom criador de reportagens em rádio. Na realidade, falar destas qualidades daria lugar a uma enorme relação que, naturalmente, deixaria de fora o labor de muitos repórteres. Ao fim e ao cabo, a excelência profissional é um valor limite ao que todo repórter deve aspirar mas que, em muitas ocasiões, sobretudo devido à exigência laboral a que está submetido, será difícil de alcançar. Aos efeitos deste trabalho, e sem deixar sempre de animar os repórteres a que procurem fazer o seu trabalho com o máximo rigor possível, preferimos deter-nos só naqueles traços que definem especificamente o seu labor, isto é aquelas qualidades que lhes serão mais necessárias e úteis ao enfrentar o seu trabalho.
Neste ponto, vamos empregar a resposta que Sánchez Sánchez (2000: 161-175) dá à pergunta sobre as qualidades que deve reunir um estudante de Jornalismo, um bom jornalista ou qualquer comunicador. De entre todas as formulações que se fizeram neste ponto até à data[1], consideramos que esta é a proposta mais sugestiva, simples e ao mesmo tempo completa de quantas analisámos. Por muito que leiamos sobre as qualidades que um bom profissional da informação deve ter, cremos que a sua apresentação, além de estar muito bem exposta, tem o indubitável mérito de voltar à essência, ao núcleo, ao coração e à alma do que é um bom jornalista.
Em palavras de Sánchez Sánchez, o bom comunicador não é aquele que domina umas técnicas ou destrezas mais ou menos mecânicas, mas quem é capaz de saber ver, escutar, pensar e expressar aquilo que viu, ouviu e pensou. E acrescenta uma qualidade mais:
“O bom comunicador é aquele que tem um conhecimento profundo do que é o homem e do mundo que o rodeia. Algo que não se pode resumir numa mera cultura superficial, no sentido mais usado da palavra: é verdadeira cultura, não erudição” (Sánchez Sánchez, 2000: 161-162).
Se estas exigências afectam qualquer comunicador são ainda mais necessárias no caso do repórter, já que os seus textos se caracterizam, entre outros, por um afã de aprofundar e consolidar mais o conhecimento de uns factos para expor a sua verdadeira natureza e para revelar os seus significados mais ocultos. Vamos ver o que significa na prática cada um destes cinco requisitos.
6.1. Saber ver
No desempenho do seu trabalho, é muito importante que o repórter saiba ver, saiba aproximar-se do mundo com curiosidade e interesse e, procedendo assim, tome consciência do que são as coisas:
“O que pensa que já sabe tudo, o que está de passagem, não é capaz de ver nada, de escutar nada, de pensar nada nem de contar nada que verdadeiramente valha a pena. Só saberá falar da sua própria suficiência. Só o que sabe passear com calma, fixando-se nas coisas, nos detalhes, o que desfruta com aparente simplicidade, o que lê por ler, aprende aquela lição: “As coisas são complexas - disse um professor -, bastaria que aprendessem isso”” (Sánchez Sánchez, 2000: 164).
Saber ver, saber observar e saber dar conta é fundamental na altura de redigir reportagens para rádio. Ao contrário do repórter medíocre que é aquele que “só sabe ver o que já viram centenas de vezes, em situações parecidas, utilizando a mesma receita para descrever desfiles, acontecimentos desportivos e festas folclóricas” (Arnheim, 1980: 130), o bom repórter é um curioso que se questiona sempre sobre o porquê das coisas:
“A curiosidade é, de entrada, o desejo de saber, de conhecer as coisas que nos rodeiam e de poder explicá-las racionalmente (…) é a condição de possibilidade do estudo, embora, para poder levar este a cabo, é preciso, além de curiosidade, uma boa dose de constância. O profissional curioso não se contenta com uma resposta simples, mas também mergulha nas coisas com o fim de conhecer porque são, como são e porque funcionam como funcionam” (Torralba, 2002: 296).
Mais que em outros géneros, na reportagem, essa curiosidade e esse afã de ir mais além é chave, porquanto a profundidade é um traço nuclear do género. Isto é, a reportagem não se limita a descrever e narrar os elementos mais noticiosos de um facto mas também, uma vez conhecidos estes, trata de proporcionar uma maior profundidade (Herrera, 2007a).
Isto consegue-se graças à investigação e é o que permite interpretar os factos, contextualizá-los, oferecer um maior relevo e situar a informação numa perspectiva maior. Neste sentido, Martín Vivaldi (1987: 108) afirma, sobretudo da grande reportagem, que deve ser reveladora. Para Lewis, o repórter tem uma exigência maior que a do redactor de notícias:
“A responsabilidade do repórter não é simplesmente dizer “isto sucedeu”, mas “isto sucedeu e assim foi como sucedeu, por isto sucedeu, e estas são as perguntas que permanecem sem resposta”. Para este tipo de jornalismo, o repórter deve ler muito, ser inteligente, reflexivo e céptico. Deve imprimir a sua inteligência sobre o material retocado, e dar-lhe forma e ordem, ainda quando o evento mesmo ofereça só um montão de ideias caóticas e meras impressões” (Lewis, 1994: 95-96)
Neste sentido, o afã do repórter é sempre dar respostas à maior quantidade de perguntas. O bom repórter, sabe, como diz Sancho, que já não basta responder aos tradicionais 5 W´s:
“ (O repórter) sabe que, no jornalismo de hoje, os clássicos 5 W”s (What, Who, When, Where & Why; em Português que, quem, quando, onde e porquê) não ficaram obsoletas mas sim superadas e enriquecidas com mais perguntas perante as quais o leitor necessita respostas: para quê, a quem afecta, quem o promove e porquê, quais seriam as consequências, que posso fazer eu, como o fizeram, como o faremos aqui, quem está interessado, a quem beneficia… e assim num esmiuçar que, de modo específico, desmonta cada informação” (Sancho, 2004: 60).
No repórter, esse saber ver será fundamental para discernir o que um facto tem de estranho, uma acção de diferente e para saber intuir também o cariz que tem uma determinada declaração. Além disso, embora dependa muito do tipo de repórter, em geral, esse “saber ver” está muito condicionado ao que previamente conheça do tema: só quando tenha um grande conhecimento sobre um assunto poderá captar com maior facilidade o que tem de novo, inédito ou diferente. Por isso, seria muito desejável que esse saber ver incluísse também um conhecimento profundo do tema - tanto nos seus aspectos mais gerais e conhecidos como nos mais particulares e desconhecidos -, assim como um trabalho completo de documentação. Estas duas tarefas darão respostas a perguntas sobre acontecimentos similares em outro momento ou lugar e servirão também para chegar ao fundo de todas aquelas questões que têm alguma relação com a reportagem. Nas variantes mais sofisticadas da reportagem de investigação, será útil também que o repórter esteja alfabetizado informaticamente já que são cada vez mais as reportagens que se encontram depois de enormes quantidades de informação que se armazenam nas bases de dados. O repórter não poderá, portanto, deixar de “ver” também nesta direcção.
6.2. Saber escutar
Além de saber ver, o repórter deve saber escutar, não só ouvir. Escuta-se com os cinco sentidos, não só com o ouvido: prestando atenção e - sobretudo - querendo entender:
“Quando se escuta de verdade, presta-se atenção. Isto é, suprime qualquer outro objecto de atenção que não seja a pessoa escutada. E não só ouve a sua voz, mas também a vê, a toca, a cheira, a saboreia. E não só quer entender o que o outro lhe diz, mas também quer entender que lhe quer dizer com o que lhe diz (…). Saber escutar é algo mais que prestar toda a atenção, algo mais inclusivamente que tentar entender que me quer dizer, o outro com o que me diz. Escutar é, sobretudo, querer entender por completo, querer entender como o outro se entende a si mesmo. Isto é o que em linguagem comum chamamos “pôr-se no lugar ou na pele do outro”” (Sánchez Sánchez, 2000: 168-169).
No repórter de rádio esse saber escutar é duplo. Por um lado, saber escutar os dados como “portadores de sentido” (Burguet, 2004: 132), que lhe permitam “orientar-se entre as espessuras da actualidade e alcançar todos os dias o claro onde se ilumina a jornada” (Vigil, 1972: 171). E, sobretudo, saber escutar as pessoas como seres humanos concretos, com sentimentos, sensações, ideias e reacções.
Mas, além disso, na rádio, esse saber escutar tem que se traduzir logo num texto que seja contado e escutado. Efectivamente, dada a natureza sonora do meio, o repórter deve fazer um esforço adicional para levar essas imagens visuais aos ouvintes utilizando só o som:
“Escrever para a rádio é escrever para que a sucessão de sons produzidos pelo emissor gere ideias e realidades não só inteligíveis para o ouvinte, mas também capazes de recriar imagens com sentido. No terreno informativo e do ponto de vista redactorial deve-se trabalhar para conseguir que essas imagens que o ouvinte recria sejam o mais precisas e próximas da realidade dos factos e acções que se narram” (Martínez-Costa, 2002: 98).
Desta forma, o bom repórter radiofónico tem que fomentar o hábito de saber escutar, a fim de construir logo textos que contenham uma carga importante de imagens com sentido. Como se pode ver, escutar não é só estar atento a todas as fontes, mas ter a capacidade de contar logo o que se viu, através de sons.
6.3. Saber pensar
Uma vez que o repórter viu bem e escutou com atenção, confronta-se com a tarefa de parar a pensar, o que significa precisamente isso: parar e logo, uma vez parado, pensar: “Só o que pensa bem e com clareza é capaz de expressar algo que valha a pena e de um modo inteligível. E se o que diz é genuíno e valioso, com certeza que acertará a expressá-lo devidamente. (…) A força, o vigor, a garra de uma mensagem escrita, sonora ou audiovisual não dependem tanto da sua forma como da força, o vigor ou a garra do pensamento que expressam” (Sánchez Sánchez, 2000: 170).
Como vemos, neste saber pensar, o rigor e a independência são requisitos chave. Do rigor, diz Sancho (2004: 43) que reforça a credibilidade: “O jornalista não existe para especular nem aventurar, mas para averiguar o que não sabe, para procurar os dados, os argumentos e as opiniões de que necessita para corroborar as suas afirmações”. Por sua vez, segundo o autor, o rigor implica por sua vez outra série de princípios (Sancho, 2004: 43):
a) A objectividade: o jornalista não deve manipular nem tergiversar, mas tratar a informação com seriedade e respeito. Mais além da frase bonita, a missão do profissional não é ajuizar mas oferecer os elementos relevantes para que o juízo da sua audiência seja acertado. A audiência procura dados porque são evidências, não suposições.
b) A profundidade: o repórter averigua até ao último detalhe, oferece todos os dados possíveis e verifica-os. O repórter pergunta e repergunta as vezes que seja preciso porque não afirma nada sem segurança.
c) A precisão: que obriga o repórter a confirmar até o dado mais secundário (um nome, uma referência, uma data...)
d) O escrúpulo: que o leva a um máximo controlo de qualidade da escrita, em todos os seus diferentes aspectos.
Juntamente com o rigor, a independência é também fundamental quando o repórter reflecte sobre o material que seleccionou. Seguindo Sancho (2004: 43), a independência do repórter não se demonstra através de uma posição editorial ideológica concreta mas melhorando o tratamento informativo. Isto significa, entre outros, que (Sancho, 2004: 43):
a) O repórter é mais independente quanto mais amplo o número e a qualidade das suas fontes: afastando-se da excessiva proximidade, confirmando os factos com mais implicados, abrindo o espectro a entidades cidadãs e sociais e - sobretudo - analisando a fundo as suas fontes para discernir quais são fiáveis e quais não são.
b) Um repórter só rectifica quando se equivoca, mas não se retracta das suas informações pelas pressões dos protagonistas ou dos implicados nos factos narrados
c) O repórter nunca acomoda a informação à possível visão interessada e parcial das suas fontes (políticas e económicas) ou dos clientes do meio para que trabalha (anunciantes).
Quer dizer, o repórter deve pensar sobre o material que reuniu nas fases de ideia, propósito, perspectiva e investigação com rigor e independência, não de maneira mecânica ou sem se deter a reflectir sobre as causas, as consequências, as repercussões e, finalmente, sobre o seu verdadeiro significado.
Esse “saber pensar” deve levar o repórter a atribuir um sentido, a explicar o significado do que se passou. Seguindo Burguet, comprovou-se que a objectividade, a que tanto se apelou nos primeiros manuais de redacção jornalística[2], não só é impossível mas também, além disso, é insuficiente. Os dados reclamam ser interpretados, para saltar do seu significado “imediato, insubstancial e deficiente”, para o seu sentido “profundo e contextual”. Desta maneira, continua Burguet (2004: 129), é que, paradoxalmente, a melhor maneira de ser o que tradicionalmente se quis entender por “objectivo” é não o ser e, ao contrário, ser subjectivo: subjectivo e competente:
“E, dessa forma, de acordo com a sua competência contextual e textual e o seu legítimo ponto de vista - inevitável de qualquer maneira - interpretar a actualidade e atribuir-lhe um sentido (…) pelo contrário, a pior maneira de ser “objectivo” será ser “simplesmente objectivo”, informar só o que se costuma chamar informação pura, dados objectivos, cingir-se só aos factos objectivos que são incompletos ou induzem em erro por defeito ou ao engano por omissão e que, em todo o caso, sempre serão insatisfatórios, e inclusivamente fraudulentos” (Burguet, 2004: 129).
Em consequência, o repórter deve ter a capacidade de “fazer falar” os dados, de “decifrar o sentido oculto sob o sentido aparente, desmontar os níveis de significação implícitos sob a significação literal” (Ricoeur, 1969: 16-17), para oferecer um “luminoso quadro de conjunto” (Minguijón, 1908: 195). Por utilizar a expressão de Burguet, é necessário que os repórteres evitem a “miopia contextual” (2004: 133) e interpretem a informação, destapando o sentido da actualidade e tratando também de encontrar uma explicação para o porquê das coisas (Burguet, 2004: 137). Além disso, como resultado do seu labor de investigação num tema concreto, o repórter adquire certa condição de especialista[3] e, como ele, deve ser capaz de “interrelacionar as informações, contextualizá-las e dar-lhes um sentido em relação com a evolução da sociedade e as mudanças do destino humano” (Fontcuberta, 1993: 45).
Hoje, a necessidade de que o repórter reflicta para interpretar e contextualizar a realidade é mais urgente que nunca. Segundo Van Cuilenberg (1987: 105-121), uma das profundas contradições da sociedade moderna consiste precisamente nisto: em que jamais o homem contou com tanta informação - calcula-se que a informação disponível se duplica em cada cinco anos - e, contudo, jamais esteve pior informado; isto é, todos esses dados isolados não chegam para constituir uma resposta cabal às necessidades vitais do homem[4]. O paradoxo explica-se se tivermos em conta que, com frequência, todas essas informações são respostas a perguntas que ninguém formulou e que a ninguém interessam (Sánchez Sánchez, 2000: 172-173). Em consequência, diz Kapuscinski, é que quando “a tecnologia torna possível a construção de uma aldeia global, os meios reflectem o mundo de maneira superficial e fragmentária” (2004: 33)[5]. Em similares termos se expressam Benavides e Quintero para quem os denominados géneros interpretativos adquirem hoje uma importância decisiva:
“Apesar da modernização dos géneros informativos, é pouco provável que uma notícia dê conta do como e o porque de um acontecimento. Em geral, estas perguntas são abordadas pelos géneros interpretativos. Estes se preocupam por proporcionar o contexto e a história necessários para pôr qualquer fenómeno social em perspectiva, de modo que o leitor entenda cabalmente as suas consequências” (Benavides e Quintero, 2004: 176).
Pois bem: dentro do que os autores denominam géneros interpretativos, se situa a reportagem, que, por vezes, demandará também do repórter que tenha certa capacidade de previsão. Neste sentido, a reportagem, como a crónica, está animada por uma vocação informativa que vai mais além de ser mero testemunha do evento que se produz nesse momento e trata de “oferecer alguma curiosidade - leves notas ao fio do acontecer - acerca de possíveis rumos num futuro mais ou menos próximo” (Abril, 2003: 94).
Além disso para a rádio, que tem os seus textos limitados temporalmente, saber pensar é o passo necessário para poder seleccionar e contextualizar os factos de uma maneira adequada. Cumprir com todos os requisitos da reportagem numa peça de 2 ou 3 minutos, por exemplo, só é possível se o repórter reflectiu sobre os factos e/ou acções que se querem narrar para dar com a essência do tema e logo adoptar a forma expressiva breve, clara, coerente e redundante que exige o meio como tal.
6.4. Saber expressar-se
Depois de ver bem, escutar com atenção, analisar as causas e adiantar as possíveis consequências, chega a altura de contar, de que o repórter, como investigador e conhecedor profundo da realidade que estudou transmita aos seus ouvintes a segurança de conhecer bem os factos e o seu cenário. Este, o da expressão, é um passo tipicamente jornalístico que leva a pensar que algo há de certo na afirmação de que “no fundo, tudo é forma”. Dito de outro modo, não ganhamos nada se soubemos ver, escutar e pensar com acerto se, na altura de representar a realidade, fica tudo vertido num texto caótico em que nem sequer é possível distinguir entre os dados, os antecedentes, as causas, as repercussões, os casos similares, as reacções, etc. Também a estes efeitos, a força do estilo de cada autor dependerá do vigor das suas ideias e sobretudo da sua clareza e profundidade (Martín Vivaldi, 1981: 36), o que dá uma nova mostra da importância de que o repórter reflicta sobre o seu material.
No resto, na reportagem, a expressão poderia ter as seguintes cinco características. Deverá ser clara, original, variada, estruturada e com ritmo. Clara, em primeiro lugar, porque também na reportagem como, em geral, em qualquer texto jornalístico, a clareza é a “primeira qualidade da linguagem” (Azorín cit. Em Merayo e Pérez Álvarez, 2001: 101) e “condição primeira da prosa jornalística” (Martín Vivaldi, 1973: 29). Na rádio, o repórter se deve expressar ainda com maior clareza, dado o carácter irreversível do canal e a fugacidade do relato. Em consequência, não se trata sem mais de algo recomendável: trata-se do ser ou não ser da reportagem em rádio. Portanto, o repórter deve ir, como diria Azorín, “directamente às coisas” e cada frase jornalística tem que estar construída de tal forma que não só se entenda bem, mas também não se possa entender de outra maneira. Para isto, a clareza deve ser enunciativa, temática e técnica.
Vejamos que recomendações práticas existem em cada caso, tanto ao escrever como ao pôr em antena uma reportagem (Merayo e Pérez Álvarez, 2001: 102-125)[6]:
a) A clareza enunciativa: que aconselha a frase corta, simples e que tenda à estrutura lógica, o verbo de acção e dinâmico[7], a voz activa, o modo indicativo, o uso do tempo presente e pretérito perfeito, o emprego da redundância e o estilo directo baseado no apelo ao ouvinte. Sugere-se também eliminar a perífrase, o termo vazio de significado e o elemento supérfluo, a muleta estilística, a oração subordinada e o abuso de complementos. Na sua locução, o repórter deverá esforçar-se por vocalizar e articular todos os fonemas de cada sílaba e todas as palavras da frase, adequar a sua voz ao carácter geral do programa, dar sentido ao que lê e ler com ritmo mas não a grande velocidade
b) A clareza temática recomenda que o repórter compreenda primeiro totalmente. Na sua expressão, se aconselha escolher a palavra simples, arredondar números, traduzir gírias e termos científicos, fazer compreensíveis as quantidades, usar tempos psicologicamente próximos do presente e preferir o estilo verbal face ao nominal[8]. O repórter deve evitar o neologismo, o estrangeirismo de última hora, o tecnicismo e a sigla pouco conhecida.
c) A clareza técnica refere-se à transmissão técnica da reportagem mediante um sinal nítido e definido, e que posteriormente se receba sem uma perda considerável da sua qualidade. Isto faz com que a escuta seja mais eficaz já que se realiza com o mínimo esforço de interpretação, a máxima concentração informativa e os melhores padrões de qualidade no som.
Em segundo lugar, a expressão da reportagem em rádio deve ser original. Como dizíamos antes, qualquer reportagem quer ser original, nova, inovadora, única e diferente. De algum modo, qualquer reportagem quer ser recordada porque, antes dela, nunca se escutou algo assim (Cebrián Herreros, 1992: 149). Na prática, esta originalidade alarga-se desde o fundo até - sobretudo - à forma adoptada.
Referimo-nos neste ponto à originalidade quanto à forma que virá, sobretudo, pelo tipo de narrador que se use, o uso da linguagem radiofónica e pelos tratamentos de espaço e tempo. Neste último ponto, o repórter poderá fazer uso de analepse ou prolepse, começos in media res, estruturas circulares, elipses, resumos, cenas, pausas, digressões, relatos singulares, anafóricos, repetitivos, iterativos, etc. (Herrera, 2007c).
Além de clara e original, a expressão na reportagem radiofónica deve ser variada. Dito doutro modo: na altura de elaborar as suas reportagens, o repórter deve ter “mentalidade radiofónica”, posto que o mesmo texto permite “um máximo rendimento e eficácia expressiva do audiovisual para comunicar o que o repórter quer” (Cebrián Herreros, 1992: 153). Isto é assim porque, efectivamente, a principal diferença entre a reportagem e outros géneros dedicados à informação é a maior variedade e intensificação de recursos que se permite. Isto dá à reportagem um colorido mais vistoso e assemelha-a esteticamente a outros como o documental ou o dramático (Martín Vivaldi, 1987: 73 e ss.)[9]. No resto, esta variedade tem muitas facetas que incluem a variedade no uso de fontes, no emprego de testemunhos (Soengas, 2003: 59-60), no uso de géneros, no emprego dos elementos da linguagem, na utilização de transições e também nos tratamentos de tempo e espaço.
De todas estas, talvez convém deter-se na variedade no uso dos elementos da linguagem já que é uma das facetas em que se observa uma maior diferença quanto ao que acontece em prensa. Na reportagem em rádio, embora a palavra continua a ser o elemento predominante e o que ocupa o primeiro plano, a música, o silencio ou os efeitos desempenham também um papel importante. Sobre eles recai quase sempre a condição descritiva (Martínez-Costa, 1999: 104) e podem levar a cabo funções ambientais, localizadas, expressivas, narrativas, ornamentais, etc. (Merayo e Pérez Álvarez, 2001: 36-58 e Gutiérrez e Masna, 2002: 33-68). O repórter procurará então a maior quantidade e qualidade de sons possíveis, mostrando também uma predilecção especial pelos sons diegéticos, os captados da realidade (Cebrián Herreros, 1992: 179).
Em quarto lugar, o repórter procurará que a sua expressão seja estruturada, isto é, que esteja disposta de modo coerente, ordenado e de acordo a um fio argumental. Esta é a função de qualquer boa estrutura: ajudar a que o texto se compreenda melhor e a que resulte mais atractivo (Martínez-Costa e Díez Unzueta, 2005: 119). Embora a estrutura geral de qualquer reportagem costuma incluir uma abertura, um desenvolvimento e um fecho, na prática, cada um destes elementos, pode ser de muito diverso tipo (Ulibarri, 1994 e Herrera, 2007b).
Finalmente, é muito importante que, nesse saber expressar-se, o repórter imprima ritmo aos seus textos. No entender de Martínez-Costa e Díez Unzueta (2005: 81), “o ritmo é a maneira peculiar de combinar os diferentes elementos da linguagem radiofónica no tempo e no espaço, de maneira que estabeleçam uma estrutura ordenada e harmónica que outorgue um sentido à mensagem e desperte o interesse de quem escuta”. Ao contrário da notícia ou da crónica - muito mais funcionais -, na reportagem possibilita-se uma “elaboração expressiva e rítmica mais variada que outros géneros de monólogo. Não só no que respeita à palavra, mas também porque permite a inclusão e combinação de música, efeitos e sons” (Martínez-Costa e Díez Unzueta, 2005, pp. 124-125). Na prática, para conseguir o ritmo que deve caracterizar toda a boa reportagem, o repórter dispõe de duas ferramentas: o contraste e a montagem (Herrera, 2007c) mas, em qualquer caso, o mais importante é que este ritmo torne mais clara e atractiva a escuta do texto, sobretudo naquelas reportagens de uma maior duração, como podem ser as reportagens de investigação (Herrera, 2008).
Estes seriam portanto os cinco requisitos que deve reunir a expressão da reportagem. A partir daí, e dado que na reportagem se valora a dimensão estética do texto, se aprecia também o estilo do repórter como um “modo concreto de plasmar, utilizando os recursos de uma língua historicamente determinada, umas ideias, acções ou comentários” (Martínez Vallvey, 1996: 29)[10]. Neste sentido, e de maneira muito condicionada ao tipo de reportagem que se elabore, podiam-se somar aqui todos os requisitos do bom estilo jornalístico que tem a ver com a concisão e a estrutura que capte a atenção (Dovifat, 1959: 125-127), assim como com a densidade, exactidão, precisão, simplicidade, naturalidade, variedade, atracção, ritmo, cor, sonoridade, detalhismo (Martín Vivaldi, 1993: 29-34). A estes podiam-se juntar também a ordenação lógica, a surpresa, o humor, a ironia, o paradoxo, o ritmo, a metáfora, o som, o ambiente, a ordem e o remate (Grijelmo, 1997: 304-341).
Pelo contrário, o repórter procurará fugir de tudo o que tem a ver com o mau estilo jornalístico que se caracteriza por “a obscuridade de pensamento e de expressão, a verborreia pouco significante, a inexactidão e a vacuidade na expressão, a imprecisão na estrutura da fase, o artificioso e rebuscado, na selecção da palavra e construção da frase, a afectação, a vulgaridade, a desnecessária amplitude, a monotonia, a pobreza expressiva, o tom gris ou incolor, a arritmia, a cacofonia e a incorrecção gramatical (Martín Vivaldi, 1973: 37-38). Numa perspectiva mais concreta, o repórter deverá fugir também da pobreza de expressão, da vulgaridade, do abuso de verbos como realizar, haver, ser e estar, os tópicos, os sons disléxicos, os estiramentos, as perífrases, a linguagem de oficina, as contínuas frases intercaladas, o verbo no final, a abundância de advérbios em mente, as cacofonias, o abuso de siglas ou o abuso do guião (Grijelmo, 1997: 341-406). Insistimos uma vez mais: tudo deve estar subordinado à função comunicativa da reportagem, sem esquecer que a clareza é a condição primeira de qualquer reportagem em rádio.
Quanto à sua narrativa, poderia servir a imagem do repórter como bom orador, que é aquele que, além de conhecer bem a matéria, preparou a consciência, sabe-se expressar, convencer e mostra-se seguro (Studer, 1999: 21). Neste sentido, ao repórter pedem-se todas as qualidades que se exigem de um bom orador[11]. Não obstante, vamo-nos deter em duas qualidades específicas do bom orador, e também do bom repórter: a improvisação e a voz.
Efectivamente, - muito mais que em outros géneros -, o repórter, sobretudo o que elabora reportagens de rua e em directo, deverá ser capaz de contar as coisas enquanto se estão a produzir e de improvisar, para saber expressar “sem mais preparação que o conhecimento que se tenha, qualquer coisa com sentido” (Saiz, 2005: 65)[12]. O domínio desta capacidade permite-lhe enfrentar o “medo cénico”[13] que costuma acompanhar as suas primeiras intervenções e evitará também a “parcialidade, o exagero, a prolixidade e a divagação” do que improvisa sem conhecimento[14].
Posto que trabalha em rádio, é preciso também que a sua voz seja clara e agradável, com personalidade e capaz de captar a atenção do ouvinte do princípio até o final (González Conde, 2001: 169). Neste sentido, mudaram as qualidades que actualmente a voz de um repórter radiofónico deve ter:
“Na actualidade se procura mais a voz viva, intensa, comunicativa, que a voz perfeitamente emitida, mas distanciada e grandiloquente. A voz do locutor profissional esteve excessivamente submetida a cânones perfeccionistas em busca de um estilo de dicção, impoluta, mas procurou ao mesmo tempo um distanciamento, uma frialdade comunicativa. As novas maneiras radiofónicas dão prioridade ao estilo directo e informal, e ao mesmo tempo carregado de força expressiva pela vivência que se põe no que se diz” (Cebrián Herreros, 1983: 59).
Além disso é importante que o repórter tenha um conhecimento do meio: da sua linguagem, da sua técnica e de questões específicas do estilo da emissora que, em alguns casos, ficarão expressadas nos livros de Estilo[15] e em outras terão antes o carácter de leis não escritas. Deverá conhecer as peculiaridades da realização técnica, adoptar uma atitude de respeito perante o microfone, seleccionar sons inteligíveis com valor informativo, prescindir daqueles que não tenham qualidade técnica nem informativa e reagir com naturalidade e prontidão perante os erros técnicos (Martínez-Costa, 2002: 102).
E finalmente, também é importante que o repórter recorde que, pese a importância da sua expressão, ele não é o protagonista do texto. Dito doutra forma: embora o repórter imprima um olhar pessoal ao texto - na estrutura, nos verbos, nos advérbios, na linguagem, nos testemunhos que escolha, etc. - Deve cingir-se sempre aos factos e aos seus personagens. Assim o afirma Cebrián Herreros:
“O repórter tem que estar disposto a realizar o seu trabalho em condições precárias, submetido a pressões de que tem que se libertar. Não importam as vicissitudes por que passe: perseguições, prisões ou detenções e homenagens. O importante é o resultado final, as imagens e os sons alcançados. E, além do mais, isto é o único que sai para o ar. O que interessa à audiência é a vida do que mostra, não a do repórter” (Cebrián Herreros, 1992: 158).
Em consequência, o repórter deverá ter consciência sempre de que a sua presença importa na medida em que aprofunda, investiga e expõe de modo variado uns factos, fazendo de intermediário entre esses factos e a audiência. Mas ainda assim, tudo isto não é suficiente para se transformar num bom criador de reportagens em rádio: ainda falta uma qualidade mais.
6.5. Aprender que é o homem
Se antes dizíamos que, no possível, as reportagens teriam que se orientar para dar as verdadeiras respostas às verdadeiras perguntas, continuamos a avançar com Sánchez Sánchez e vemos que a expressão, com toda a importância que tem, por si só não basta. Não basta dominar as linguagens. De novo é preciso dar um passo mais: conhecer a fundo o ser humano, posto que este é o objecto e o fim das suas mensagens:
“Nada interessa tanto ao homem como o próprio homem (…) Só é capaz de entender o genuinamente humano - e portanto de o fazer entender - quem se aproxima sempre das pessoas, não já com respeito, mas inclusivamente com carinho; quem procura tratar sempre os outros, a cada homem e a cada mulher, como fins em si mesmos e não como meios para alcançar outros fins que sempre serão egoístas. O que procede assim - o que trata os outros como meio para os seus próprios fins - é um manipulador, por muito dignos ou elevados que sejam os seus próprios fins. E um manipulador é a antítese de um bom comunicador” (Sánchez Sánchez, 2000: 174)[16].
Isto, que poderia ser válido para qualquer jornalista em geral, é ainda mais útil para o repórter radiofónico, sobretudo porque a natureza do seu ofício se baseia precisamente em falar com uns e outros, e em compreender uns e outros. Neste sentido, Kapuscinski afirma que nenhuma sociedade moderna poderia existir sem jornalistas, mas os jornalistas por si só não existiriam sem a sociedade:
“Um jornalista não se pode colocar acima daqueles com quem vai trabalhar: ao contrário, deve ser um parceiro, um mais, alguém como esses outros, para se poder aproximar, compreender e logo expressar as suas expectativas e esperanças (…) Convém ter presente que trabalhamos com a matéria mais delicada deste mundo: a pessoa” (Kapuscinski, 2004: 16-17)[17].
Este aproximar-se do ser humano tem várias consequências, muitas delas éticas. Desta forma, o bom criador de reportagens em rádio procurará (Sancho, 2004: 49-50):
1) Saber ver, escutar e dialogar com a pessoa, para ver a melhor forma de a servir
2) Não se limitar ao aspecto superficial das coisas
3) Não “coisificar” a existência humana, reduzindo-a ao material ou biológico
4) Não reduzir a enorme riqueza da actividade humana aos seus aspectos meramente políticos. Nem dar primazia à política sobre o saber nem à técnica sobre a ética
5) Fugir da tendência para sublinhar ou ficar só pelos aspectos subjectivos ou sensacionalistas, sem ter em conta os direitos individuais de cada pessoa
6) Expressar os valores humanos dignos de ser difundidos na medida em que contribuem para a construção da comunidade e a promoção do homem
7) Desenvolver um labor positivo de sensibilização cultural e moral dos públicos, enquanto pessoas e cidadãos, num diálogo reflexivo e aberto, estimulando tudo aquilo que favoreça o seu crescimento plenamente humano, de acordo com a sua dignidade
8) Chamar mau ao mau, terrível ao terrível, injusto ao injusto... E bom ao bom, heróico ao heróico, justo ao justo, adequando o tratamento à realidade e ao fim humano, sem trivializar nem tratar com banalidade nem um nem outro
9) Conhecer os efeitos das acções informativas na perspectiva da dignidade da pessoa como dados inatacáveis de autocorrecção (do negativo) e estímulo de melhoria (do positivo).
Numa perspectiva mais concreta, convém recordar também que “as reportagens sobre grandes temas adquirirão maior interesse do princípio se tiver um arranque humano concreto” (Grijelmo, 1997: 63). Além disso é muito recomendável que a reportagem intercale os números e dados com o denominado interesse humano. Em palavras de Grijelmo: “Os números são frios. Os personagens cálidos. Portanto, com a adequada mistura entre uns e outros podemos temperar o nosso texto” (1997: 64). É possível que este interesse humano resulte irrelevante em termos estritamente informativos mas acerca ao ouvinte ao evento e aos seus protagonistas. Uma vez mais, a objectividade é insuficiente também para estes fins:
“Sinto que esta teoria chamada da objectividade é totalmente falsa e produz textos frios, mortos, que não convencem a ninguém. Eu sou partidário de escrever com paixão. Quanta mais emoção, melhor para o leitor. Não tenho dúvidas sobre isto: os melhores textos jornalísticos foram escritos com paixão, transmitem que se está verdadeiramente vinculado e metido no assunto do qual escreve. A emoção dá força ao texto” (Kapuscinski, 2004: 88).
É óbvio que o repórter não deverá empregar esta presumida emoção como coarctada para justificar um ar sensacionalista mais ou menos fácil. Nos seus relatos, procurará antes retratar a essência da natureza humana e a sua dignidade que, ao fim e ao cabo, é o que todos temos em comum e o que transforma algumas reportagens em textos universais.
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[1] Algumas das clássicas são as de Schowebel, Francos Rodríguez, ou Elliot recolhidas e estudadas por Iglesias (1984: 149-195). Neste ponto pode-se incluir também a de Brajnovic (1978: 258 e ss) que completa o panorama numa perspectiva deontológica. Sobre o jornalista radiofónico, pode-se ver Arias, 1964: 405-406, Merayo, 2000: 56-65 ou Saiz, 2005: 15-20.
[2] Nos últimos anos, a objectividade ha sido muito criticada e inclusivamente desterrada. Trata-se, se disse, de um mito, de uma ilusão ou directamente de um engaño, que sempre se encontrará com o limite insalvável de que o jornalista é um sujeito e não um objecto e, portanto, a objectividade plena é impossível. Existe ademais um grande consenso entre os autores em que todo acto jornalístico é um acto interpretativo e, por conseguinte, subjectivo (Abril, 2003: 22). Partilham este parecer a maior parte dos estudososde a redacção jornalística em Espanha: Gomis, Núñez Ladeveze, Casasús, Aguinaga, Borrat, Fagoaga, Verón, Morin, etc. Em consequência, pretender a objectividade em jornalismo é um erro de concepto. Simplesmente não é possível.
[3] A necessidade de interrelacionar a informação não é o único aspecto que partilham as figuras do jornalista especializado e o repórter. Bergança (2005: 75) propõe outras formas de proceder para o jornalista especializado que bem podem asimilar-se para o caso do repórter: “la desconfiança da informação que se vierte em ruedas de prensa e através de portavoces oficiais; a formação baseada na experiência profissional; a paixão por um jornalismo vital, de acção, que procura relatar os acontecimentos dos que é testigo, desconfiando dos dados que lhe transmitem as fontes institucionais e interessadas; a preferência por determinados géneros jornalísticos (…); a perspectiva humano, directo, pessoal e original das informações; a exactitude e o rigor; o não ficar-se com a descripção fragmentada do pressente, adelantando-se na previsão dos acontecimentos futuros (…)”.
[4] Kapuscinski partilha esta impressão quando afirma: “Corremos o peligro de chegar a uma situação na qual os dados abundem mas nuestra imaginação não saiba como processá-los e utilizá-los em nuestra vida prática. Esta contradicção sintetiza o drama de nuestra cultura: acumulamos mais e mais dados, mais e mais rapidamente, mas fazerlo não nos ajuda a entender nem melhorar o mundo” (2004: 89).
[5] E, em outro momento, Kapuscinski acrescenta: “O bom e o mal jornalismo se diferênciam fácilmente: no bom jornalismo, ademais da descripção de um acontecimento, tenéis também a explicação de por que ha sucedido; no mal jornalismo, por outro lado, encontramos só a descripção, sem nenhuma conexão ou referência ao contexto histórico. Encontramos o relato do mero facto, mas não conhecemos nem as causas nem os precedentes” (2002: 58).
[6] Este apartado pode-se completar com algumas das recomendações que oferece Martínez- Costa (2002: 97-119) para escrever notícias para rádio.
[7] “É sempre o verbo o que presta alas à marcha da linguagem. Embora esta é uma verdade básica, de aprendiz, hoje se lhes esqueceu inclusivamente a pessoas muito doctas. A mania de substantivizar paraliza a vida de qualquer linguagem. Parece como si um temer que se lhe perder algo no fluir das coisas e do idioma, e por isso o fixa angustiosa e espasmódicamente no substantivo. Na informação, o emprego desta condensação lingüística do medo é duplamente desacertado, pois os substantivos, em especial os acabados em -ção e -dade, se atraviesam como troncos no caminho, enquanto os verbos, especialmente na forma activa, operam, movem e empujam para delante” (Dovifat, 1959: 126).
[8] Segundo Núñez Ladeveze isto provoca certa inexpressividade, um distanciamento do sujeito narrador, de ocultamento da personalidade de quem enuncia. Frente a isto , “o dinamismo do relato depende da acção verbal enquanto o carácter objectual e abstracto dos nomes provoca uma impressão mais estática e menos pessoal” (1991: 118).
[9] Em parecidos termos se expressa Chilhón para quem a característica mais importante do género é a diversidade funcional, temática, compositiva e estilística e “o único limite é o imposto pelas exigências de clareza, exactitude e eficacia inherentes a todo jornalismo informativo de qualidade” (1994: 19)”.
[10] Quanto ao estilo em geral, Rodríguez Jiménez (1991: 113-116) destaca que as características de qualquer estilo devem ser seis: sinceridade, clareza, precisão, simplicidade, concisão e originalidade.
[11] Isto verifica-se em requisitos mais concretos como “Fala de campos que conhece, domina a matéria, conhece o seu público ou, no seu caso, é capaz de fazer rapidamente uma ideia sobre ele, estruturou o seu discurso de forma óptima, dispõe de um amplo vocabulário, mostra-se estilisticamente seguro, recorre a refrães e ditos no momento adequado e cita de forma correcta, mostra-se interessado pela matéria que trata e desperta interesse no auditório, ao qual sabe motivar e atrair para a sua causa” (Studer, 1999: 21).
[12] A este respeito, costuma ser útil preparar um esquema, mental ou escrito, com aquelas três ou quatro ideias chave que o ajudarão a sair com êxito da sua narração ou exposição improvisada. Assim, na altura de improvisar, o repórter poderia seguir estas directivas (Saiz, 2005: 66-67):
i) enfrentar a improvisação numa boa base de conhecimento e preparação, ou seja, com essa boa bagagem de saber e experiência que se supõe que o profissional tenha,
ii) Tomar cosciência de que se vai improvisar, sabendo que se vai saber fazer bem e superar o problema,
iii) Evitar o excesso de segurança ou confiança que pode ser mau,
iv) Ter certo medo superável ou certa tensão emocional, positiva, que não afecte mas que alerte, já que isto pode facilitar uma reacção rápida a esse imprevisto que se produz num momento e que leva a pôr em marcha o mecanismo da improvisação,
v) Utilizar uma voz bem colocada e segura que não mostre vacilações nem se julgue dubitativa e
vi) Acrescenta uma enorme capacidade de imaginação que lhe permitirá dizer, da melhor maneira possível e do modo mais compreensível para o ouvinte, as melhores ideias ou uma correcta e interessante narração de uns factos.
[13] Denomina-se medo ou pânico cénico ao temor de falar ou aparecer em público. É possível que se trate de um dos maiores medos do homem, pois altera o pulso e o metabolismo em geral, o qual se pode manifestar através de sintomas chamativos como palpitações, corar, suores frios, garganta seca, tensões musculares ou voz tremida. Para um repórter, tal como para um orador, a pior das manifestações destes medos é a de ficar mentalmente em branco, o que em inglês se chama blackout (Studer, 1999: 91)
[14] Para o superar, a boa improvisação baseia-se no empenho que se ponha nos ensaios, na escuta atenta doutros profissionais e numa boa documentação (Blanco, 2002: 102). Assim, Balsebre (1994: 37) recomenda não falar do que não se conhece, não sair do tema e aprender a expressar-se com naturalidade e educação, mostrando uma atitude relaxada, de cumplicidade com a audiência. Juntamente com estes, o repórter deve evitar continuar a falar, construir discursos que possam incluir mentiras ou coisas incertas - só pelo medo de ficar em branco - ou ligar demasiadas ideias com um facto de forma que se afaste do objectivo principal da narração.
[15] Partilhamos com Cebrián Herreros a ideia de que estes não devem ser vistos como uma mordaça à liberdade de expressão, mas antes como a “plasmação da identidade corporativa, que marca a identidade jurídica e programática de uma emissora” (1994: 377).
[16] No mesmo sentido, afirma Kapuscinski (2002: 38), “as más pessoas não podem ser bons jornalistas. Si se é uma boa pessoa pode-se tentar compreender os outros, as suas intenções, a sua fé, os seus interesses, as suas dificuldades, as suas tragédias. E transformarse, imediatamente, no primeiro momento, em parte do seu destino (…) Mediante a empatia, pode-se compreender o carácter próprio do interlocutor e partilhar de forma natural e sincera o destino e os problemas dos outros”.
[17] A necessidade de que o repórter sinta respeito pelas pessoas apresenta-se de um modo particular na crónica de tribunais pelo que este nunca deverá esquecer que detrás dos acusados há famílias prejudicadas e sensíveis: “o jornalista deve medir com sumo cuidado que palavras utiliza e sobretudo a sua qualidade humana, sendo sempre sensível e respeitador nas suas informações” (Seijas, 2004: 347).

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa 

Com base em artigo da professora Susana Herrera Damas, publicado na Revista RE - presentaciones Periodismo, Comunicación y Sociedad. sherrera@udep.edu.pe

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