A SITUAÇÃO DA RÁDIO EM DAB EM PORTUGAL

A SITUAÇÃO DA RÁDIO EM DAB EM PORTUGAL

 

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Estávamos no início do segundo milénio. A novidade permitia-me devaneios de quem gosta muito de rádio. A Expo-98 tinha alimentado ilusões, o meu desejo de progresso confundia querer com poder. Mas os estudos ficaram e talvez um dia sejam úteis. Até que veio a decisão política: “Desliguem tudo porque a RTP precisa de dinheiro para outras coisas”.

 

 

O DAB (Digital Audio Broadcasting) é o sistema europeu de digitalização das emissões de rádio que abre o caminho da rádio para uma nova era, disponibilizando interessantes serviços multimédia com uma inexcedível qualidade de som e, muito importante, destinado a audiências numerosas. Apesar da menos consideração dos teóricos da comunicação e apesar da explosão de outros serviços, os números mostram à evidência que milhões de europeus (e de americanos) continuam a apreciar a rádio como algo de especial no seu quotidiano, como parte essencial de uma existência cultural e democrática (mais de duzentos milhões de pessoas ouvem rádio diariamente na Europa, mais de 3 horas por dia). A rádio não pode ser afastada do debate do audiovisual e considerada como algo já ultrapassado enquanto se mantiverem os elevados índices de mobilidade das populações que fazem deste meio de comunicação o privilegiado enquanto se viaja ou se desenvolve uma qualquer outra atividade.

O DAB caracteriza-se pela digitalização da emissão. O som quase perfeito é agora possível em emissões de Rádio. A base de trabalho assenta num emissor audionumérico que converte o som numa configuração de nomes ou números. Os recetores audionuméricos captam estes sinais e reproduzem um som em que a qualidade é consideravelmente superior à do som reproduzido pelos rádios analógicos atuais. Aliás, da mesma forma que o som dos discos compactos é melhor que o dos discos de vinil.

Trata-se de um sistema de emissão de rádio que proporciona ao consumidor uma receção isenta de ruídos e interferências mesmo em viagem, um som com qualidade equiparada à do Compact Disc, sintonia automática de emissões e transmissão de textos, dados, mapas e imagens fixas. Enfim, é a chegada do multimédia à rádio.

Digital Audio Broadcasting é a mais significativa evidência do avanço tecnológico na rádio depois da introdução das emissões em FM. Para além de ser possível receber estas emissões em recetores fixos, portáteis ou auto-rádios, um DAB-card permite o acesso por computador a outros serviços.

Os automobilistas, com a possibilidade de uma audição sem interferências nem ruídos, são os potenciais grandes interessados desde que lhes sejam proporcionadas as informações de que carecem em notícias, trânsito, meteorologia, entre outras. O mesmo acontece em relação aos entusiastas da música de alta fidelidade e aos jovens, pela sua especial apetência ao novo.

 

O futuro aliciante da rádio

 

O DAB não é apenas um novo sistema de emissão de um sinal áudio de grande qualidade, mas abre também possibilidades de criação de serviços completamente novos. Futuramente, a rádio vai continuar com programações semelhantes às que conhecemos hoje, mas acrescentadas de imagens, texto e gráficos como valor acrescentado à informação áudio, numa verdadeira dimensão multimédia. Informações de trânsito e sobre itinerários de viagens, noticiário económico-financeiro, paging, dados auxiliares de orientação e localização, edições electrónicas, jogos, etc., tudo a ser exibido num écran (ou num painel de plasma, por exemplo).

Assim, num futuro não muito longínquo (5 anos?), os conteúdos multimédia poderão repartir-se por:

1.    Informações de trânsito e itinerários, dando a conhecer os problemas de circulação, os percursos alternativos que tanto podem ser fornecidas em áudio como mostrados num pequeno écran sob a forma de mapa. Podem ser divulgados mapas digitais da área em que o veículo se encontra.

2.    Informações sobre o apresentador da emissão, os jornalistas, os intérpretes e as músicas que estão a passar em áudio naquele momento, que poderão ser facultadas no écran como mensagens em desenvolvimento progressivo.

3.    Para que o utilizador possa aceder a outras informações para além do áudio, o DAB transmite um sistema de selecção por menu que, inclusivamente, pode permitir a seleção de um idioma diferente.

4.    As emissões em DAB podem também ser recebidas em computador pessoal mediante cartões específicos que já estão no mercado.

5.    Edição eletrónica. Os recetores DAB do futuro vão incluir GSM, o que os torna acessíveis ao serviço on line ou a CD-ROM. Estes recetores, provavelmente mediante um eventual sistema de pagamento por “smart cards”, vão ter condições de acesso a estes e outros serviços em monitor próprio de forma imediata e cómoda. A geração futura de receptores pode vir a incluir também o ITTS (Interactive Text Transmission System).

6.    Emissão de imagens. O DAB está em condições de incluir fotos e outro tipo de imagens nas suas emissões. Durante a transmissão de uma música, por exemplo, podem visionar-se mapas de estradas, previsões meteorológicas, com imagens de satélite.

7.    Fax. Ligando um fax aos futuros recetores de DAB, podem imprimir-se textos e imagens para serem analisados com calma pelos acompanhantes em viagem ou pelo próprio numa próxima paragem.

8.    A geração avançada de recetores para DAB inclui também a combinação com o sistema GPS de localização, possibilitando aos automobilistas a indicação de percursos alternativos com segurança. A utilização conjunta do DAB e do GPS (Global Positioning System) será um bom contributo para um perfeito conhecimento do posicionamento do utilizador-ouvinte a todo o momento. Adivinha-se o interesse não apenas para o utilizador comum mas também para táxis, ambulâncias e diferentes serviços de transporte. O écran pode mostrar outras informações úteis a quem viaja como localização de endereços, características, preços e vagas em hotéis da área pretendida e até mesmo fotografias dos locais. Também informação sobre eventos turísticos locais, parqueamento de viaturas, postos de abastecimento de combustível, oficinas de assistência, etc..

A fiabilidade da rádio digital decorre, assim, da utilização de um receptor "inteligente" que comporta um "minicomputador". Enfim, a rádio digital pode proporcionar serviços em que a imaginação é o limite. E, uma vez que esta nova tecnologia se baseia no tratamento numérico, os recetores digitais podem vir a receber e transmitir ficheiros informáticos.

 

O DAB em Portugal

 

Dado o posicionamento do seu atual presidente do conselho de administração no contexto da atividade da UER, desde os tempos em que era diretor de programas, a RDP começou muito cedo a interessar-se pelo fenómeno DAB, no ano de 1989, imediatamente a seguir à implantação do sistema RDS. O trabalho iniciou-se no âmbito da UER onde o Eng. José Luís Magalhães representou a RDP.

A primeira demonstração em Portugal foi concretizada pela RDP em Janeiro de 1998. A apresentação oficial ocorreu no decorrer da EXPO’98, em 3 de Agosto de 1998 no recinto da Exposição. Na altura foi anunciada a abertura do concurso para atribuição de uma licença de âmbito nacional para o estabelecimento e fornecimento de uma rede de radiodifusão sonora digital terrestre – T-DAB.

Na fase atual estão a ser transmitidos em DAB seis canais:
quatro da RDP (Antena 1, Antena 2, Antena 3 e Rádio EXPO, este último durante a Exposição Mundial de Lisboa) e dois da Rádio Renascença (Canal 1 e RFM).

Transmite em VHF, banda III, canal 12B, frequência central (225,648 MHz), rede sincronizada de emissores, todos na mesma frequência. No final de 1998, estava completa a cobertura do eixo litoral Setúbal-Braga que inclui a auto-estrada A1. Mais de 50% da população está abrangida por esta cobertura DAB. No biénio 1999-2000, a RDP alargará a cobertura a todo o litoral, desde o Algarve até ao Minho[1].

Nos anos seguintes, proceder-se-á à instalação de novos emissores que vão permitir a cobertura dos principais eixos rodoviários do interior, concluindo-se o plano com a cobertura de todas as capitais de distrito, eventualmente não contempladas nas fases anteriores.

Como resultado do concurso público, ficou entregue à RDP, radiodifusor público português, a exploração e gestão dos emissores DAB, cumprindo-lhe, por um determinado preço, facilitar o acesso às estações de âmbito de cobertura nacional e regional.

Quanto à atribuição dos canais regionais, não vai valer o princípio da frequência única pois, por exemplo, a TSF vai ter várias frequências segundo a região do país. Tal forçou a empresa a negociar com os fabricantes de receptores de rádio a inserção de um dispositivo (semelhante à sintonia automática do RDS) nos aparelhos vendidos em Portugal, para não forçar o ouvinte a procurar a sintonia conforme a região do país. Por outro lado, por desinteresse na instalação do sistema de emissão regional pela RDP e por qualquer outro operador, devido às condições demasiadamente onerosas do concurso público, fez com que a TSF desencadeasse um processo de estudo de aquisição de equipamento autónomo de emissores. Entretanto, o legislador optou por refazer por completo a regulamentação das condições de atribuição da exploração das redes regionais de DAB.

Em Portugal já dispomos de emissões em DAB no canal 12 B, banda III, num processo liderado pela RDP e onde se reproduzem as emissões da Antena1, Antena 2, Antena 3, do Canal 1 da RR e da RFM. Os recetores disponíveis, porém, ainda são muito primários e extremamente caros. Em Inglaterra, por exemplo, já estão disponíveis por 200 £, cerca de sessenta mil escudos. O receptor que foi adquirido recentemente para os estúdios da RDP no Porto custou cerca de 700 mil escudos... Aqui reside, para já, o busílis do DAB em Portugal. No entanto, e à semelhança da absorção de outras tecnologias pelo mercado, os preços irão baixar substancialmente e as dimensões e a qualidade dos aparelhos recetores irão melhorar. Daí que se possa, para já, optar pela solução de ouvir em computador enquanto não chegar ao mercado uma geração de recetores DAB, acessível e multi-optativa.

Até que veio a tal ordem: “Desliguem tudo porque a RTP precisa de dinheiro para outras coisas”.

 

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

Profissional de rádio durante 36 anos.

 

 



[1] Frequências, localizações e áreas de cobertura atribuídas a Portugal: POR / NATIONAL WIDE, 12B (224.880 MHz - 226.416 MHz), área aprox. 1562 937 km2. POR1 / MINHO/PORTO, 11D (221.296 MHz - 222.832 MHz), área aprox. 9283 km2. POR2 /TRAS-OS-MONTES, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 8 248 km2. POR3 / BEIRA-LITORAL, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 7 152 km2. POR4/BEIRA-ALTA/BAIX., 11C (219.584 MHz - 221.120 MHz), área aprox. 13 268 km2. POR5 / ESTREMADURA, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 7989 sq km. POR6 / ALTO-ALENTEJO, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 9 247 km2. POR7 /BAIXO-ALENTEJO, 11D (221.296 MHz - 222.832 MHz), área aprox. 14 840 km2. POR8 / ALGARVE, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 4 628 km2. POR9/FUNCHAL-MACHICO, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 394 km2. POR10/SANTANA-VICENTE, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 302 km2. POR11 / PORTO-SANTO, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 34 km2. POR12 /AZR/S.MIGUEL, 12C (226.592 MHz - 228.128 MHz), área aprox. 3 621 km. POR13 /AZR/TERCEIRA, 12A (223.168 MHz - 224.704 MHz), área aprox. 4 586 km2. POR14 /AZR/ FLORES, 12D (228.304 MHz - 229.840 MHz), área aprox. 83 km2.



 

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