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Eufonia ou a harmonia das vozes na Rádio e na Televisão

Eufonia ou a harmonia das vozes na Rádio e na Televisão

Em 17/18 março 2005 participei no IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos e no II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos

Convidado a apresentar uma comunicação, escolhi “Eufonia ou a harmonia das vozes na Rádio e na Televisão”

É esse trabalho que reconstruo.

A reflexão que aqui se deixa é fruto de dezenas de anos de prática e da observação que se tem feito ouvindo a rádio e a televisão que se fazem em Portugal. É preocupante a leviandade com que a língua é tratada na sua expressão oral por quem serve, apesar de tudo, de referente a uma população que, fundamentalmente, ouve e vê informação mediática (e raramente lê). Rádios e televisões de dimensão nacional descuidam-se na utilização da voz, da fala, da fonética e, por arrastamento, comprometem a credibilidade do emissor. Quem acredita em alguém que, quando quer informar, hesita, tropeça, mastiga, empastela aquilo que está a dizer? Não será esse conjunto de “hums”, “mnhes”, “ããããs” uma fonte incomodativa de ruído, fruto de quem não está convencido do que informa, resultado expressivo de quem está inseguro? É uma espécie de moda que só pode ter sido lançada por quem não gosta de rádio e quer dela afastar tudo o que seja ouvinte.



Assim, esta reflexão tem por objetivo ponderar os diversos aspetos em que a comunidade académica interessada nas Ciências da Comunicação pode dar o seu contributo de forma a exigir-se que prepondere a eufonia sempre que haja comunicação para públicos mais ou menos vastos.

Podemos definir eufonia como uma emissão verbal harmoniosa e agradável ao ouvido. Do grego eu, bem ou bom, e fonos, som, voz. À eufonia opõe-se a cacofonia (do grego cacos, mau, feio, defeituoso, e fonos, som, voz). Eufonia é também um efeito rítmico e harmónico agradável produzido pelas sequências fónicas de um sintagma, de uma microestrutura textual. Eufonia significa, assim, som agradável, escolha harmoniosa dos sons, suavidade de pronúncia. Efetivamente, o que se diz na rádio ou na televisão deve soar bem, além do comunicador o dizer bem.

A eufonia (a harmonia, a agradabilidade) deve ser, pois, uma finalidade do som em geral e da rádio e da televisão muito em particular, já que marca uma relação que, para o ser, tem de constar de satisfação mútua, dotar o ouvinte/espectador do sentido da fruição, para que se sinta bem com o meio de comunicação. A rádio e a televisão têm de assumir em todos os momentos que a voz, acima de todos os outros elementos (música, efeitos, silêncios, imagem ou dados), é a garantia sonora da compreensão mútua e do entendimento com os ouvintes/espectadores.

A propósito da questão da linguagem radiofónica, por exemplo, considerando a rádio como meio de difusão, comunicação e expressão, implica que se privilegie a expressividade e o papel a desempenhar pela palavra mediada pela voz, pela música, pelos efeitos sonoros e pelos silêncios. Pegando no conceito de eufonia, ligado à agradabilidade do som da voz, alarga-se à harmonia que deve enformar a expressividade radiofónica. As potencialidades abertas pela digitalização apresentam-nos a rádio e a televisão como multimédias, o que levanta a questão dos conteúdos que, cada vez mais, pedem ao comunicador de rádio ou de televisão um permanente exercício da criatividade e alargada pela vertente interativa.


Entre 1968 e 1975, no Rádio Clube Português, realizei e apresentei o programa "Norte Dia a Dia" onde experimentei, com sucesso, um noticiário regional escrito para ser lido com o balanço e o ritmo de uma música de jazz de características eletro-acústicas. Resultou de um trabalho conjunto de Gonçalo Nuno Faria, Rui Lima Jorge e eu próprio. Normalmente o texto era do Gonçalo e eu ou o Lima Jorge procedíamos à leitura e respetiva sonorização. Estava encontrada uma fórmula que resultava em pleno, dotando a rádio que se fazia de uma expressividade cativante. Quando, anos mais tarde, o Gonçalo tentou repetir a fórmula na RDP, não encontrou nem vozes nem sensibilidades artísticas que fizessem com que o processo resultasse. E aquilo que, anos antes, tinha sido um sucesso, revelou-se, com outras vozes, um autêntico fracasso. A diferença não estava na palavra escrita, mas na falada e na ausência de sentido de eufonia de outros profissionais. O título do espaço noticioso era o mesmo, "Norte em Notícia", o autor do texto continuava a ser o Gonçalo Nuno Faria, mas eram outros os responsáveis pela expressividade radiofónica (ou sua ausência, para ser mais correto).

Pude aqui descobrir duas das funções da linguagem de que fala Jackobson. A função fática ao procurar estabelecer e manter a atenção do ouvinte, em que o prazer de comunicar quer dos criadores (emissor) quer do ouvinte (recetor) estabelece uma comunhão de interesse e atenção partilhados. A função metalinguística, do código, em que os criativos numa linguagem radiofónica, por certo arbitrária, mas que se afirmou naquele específico contexto social. Aliás, a necessidade de passar informação que apelasse à inteligência para uma descodificação do sentido verdadeiro, era um recurso utilizado com frequência para iludir a censura.

O profissional de rádio tem de ter presente que é pela voz e pelo ouvido que o homem adquire o seu estatuto de sujeito. Ouvir alguém na rádio é ouvir a sua voz e, cada vez que o ouvinte concentra a sua atenção na escuta, deixa ecoar dentro de si a fala do outro. É pela voz que o ouvinte vai descobrir o "não dito", o sentido profundo da mensagem. Se o profissional não tem consciência disto, as suas palavras ficam vazias. Ao abdicar da coloquialidade está a colocar o ouvinte à distância. Não comunica com ele. O afeto deve passar através da fala num esforço permanente do profissional da rádio fazer sentir ao ouvinte de que está com ele e que partilha um código de compreensão, ou seja, de comunicação.

"A voz permite que a linguagem fique retida no corpo do sujeito sem se alienar: inversamente, garante à linguagem o seu peso como matéria, sem o qual se converteria apenas em código vazio". Isto leva-me a deduzir, sem dificuldade, que a eufonia, a harmonia, a agradabilidade deve ser uma finalidade do som em geral e da rádio muito em particular, já que marca uma relação que, para o ser, tem de constar de satisfação mútua, dotar o ouvinte do sentido da fruição, para que se sinta bem com a rádio.

 


"Al margen de que la palabra que se difunde sea improvisada o leída, escrita por uno mismo o por otro, de carácter sugestivo o meramente informativo, el primer contacto sensitivo del oyente con el emisor es la voz. Ella es la que identifica y sitúa  psicológicamente al hablante en la mente de quienes se encuentran al outro lado del recetor" (Muñoz y Gil, 1986: 53)

 

Aqui têm influência três fatores fundamentais: a vocalização, a entoação e o ritmo. Quanto à vocalização, basta referir que uma pronúncia deficiente dos fonemas tem como consequência imediata a perda da clareza da mensagem.

A entoação diz respeito ao facto de a linguagem oral incorporar uma musicalidade que, através do timbre, do tom e da intensidade da voz (convenientemente modulada) transporta maior carga semântica e possibilidades expressivas mais ricas. Conforme Rodríguez (1998: 85), reconhece-se que o timbre é uma sensação auditiva complexa que nos possibilita perceber a estrutura acústica interna dos sons compostos e que é independente da duração, do tom e da intensidade, sendo-lhes, contudo, simultânea.

 

"Intensidad o propiedad por la que un sonido es más o menos fuerte.(.../...) Tono o propiedad por la que un sonido es más o menos gráve o agudo. (.../...) Duración o persistencia durante un tiempo. Es la velocidade com que aparece el sonido: rápido, lento" (Cebrián,1995: 359)

 

A propósito da entoação, Balsebre fala da melodia da palavra, componente desprezada com frequência desmesurada na rádio que se ouve. Para ele, a expressão musical da palavra radiofónica e a sua significação linguística são definidas conjuntamente pela melodia ou pela entoação. Na expressão de Constantin Stanislavski (citado em Balsebre, 1996: 57):

 

“El subtexto es un tejido de esquemas innumerables y diversos dentro de la obra y del personaje, hecho de "síes mágicos", cir¬cunstancias dadas, todo tipo de ficiones de la imaginación, movi¬mientos internos, objetos de atención, verdades pequeñas y gran¬des y la creencia en ellas, adaptaciones, ajustes y otros elementos similares. Es el subtexto lo que nos hace decir las palabras que de¬cimos en una obra»”.

 

No que diz respeito ao ritmo, devemos ter em conta que varia em cada tipo de mensagem ou, inclusivamente, ao longo da mesma mensagem. Não deve ser demasiado apressado nem exageradamente lento. O primeiro pode “cansar” o ouvinte e o segundo pode aborrecê-lo. Em qualquer dos casos ele “desliga” do que está a ser dito e até pode "ligar" para outra emissora.

 


"En un sentido más subjetivo, entendiendo el proceso de percepción ¬radiofónica como una aprehensión de formas sonoras ininterrumpidas ¬en una secuencia, y como percepción de una periodicidad previsible (…/…), ritmo es la periodicidad percibida, la dimensión que fija la naturaleza de la periodicidad percibida, la proporción en que son percibidas las distintas secuencias sonoras" (Balsebre, 1996: 69)

 

A rádio, tenho-o dito com frequência aos meus alunos, é o meio mais motivador de imaginação no contexto mediático. A experiência mostrou-me isso inúmeras vezes. Cito o exemplo de um colega de profissão que era dotado de uma voz jovial e de grande expressividade. Estávamos no início dos anos 70 e os estúdios do Rádio Clube Português, no Porto, ficavam perto de uma escola secundária feminina. Umas quantas alunas pediram autorização para visitar os estúdios e disseram que gostariam de conhecer o locutor tal. Lá veio o meu colega, careca, gordo, baixinho. Desilusão completa para as meninas cuja imaginação tinha colocado aquela voz num corpo muito mais interessante e sedutor. O cumprimento foi cerimonioso e, no fim de contas, a visita aos estúdios não passou do hall de entrada porque, estava visto, o que as meninas queriam era conhecer de perto o seu “ídolo”. Só que ele estava nos antípodas daquilo que imaginaram e a debandada foi imediata. Para desgosto do meu colega...

Guy Rossolato (citado por Castarède, 1991:161) identificava na voz uma origem corporal, orgânica e de excitação, e considerava-a uma força, um campo, um objetivo, de prazer, ligado a uma tensão que é preciso reduzir, um objeto, para atingir um recetor, assegurar uma comunicação. “Pode-se considerar a voz, e, por conseguinte, a música, como uma metáfora do impulso em geral - o impulso sem outro representante a não ser a própria música”.

Este impulso de afeto e até de representação (não só através da música, mas também dos efeitos e do silêncio) compõe a expressividade harmónica estruturada e estruturante, dotando de sentido a mensagem apelativa da imaginação do ouvinte que a completa. O que leva Balsebre (Ibd. 41) a dizer que

 

"El tratamiento musical de la voz, sin perjuicio para la significación semántica (inteligibilidad del texto en un contexto comunicativo), há de estar presente también en la connotación estética de la palabra radiofónica. En la radio, la componente estética del mensaje radiofónico transciende el significado puramente lingüistico de la palabra. De outra manera, será muy difícil aceptar la importancia de dimensiones acústicas, como la intensidad, el tono, el timbre o el ritmo en la codificación de la palabra radiofónica".

 

A rádio digital vem colocar todas estas exigências em relação à palavra radiofónica como condição sine qua non para o comunicador avançar com novas propostas de composição harmónica dotada de sentido estético, envolvendo agora uma específica qualidade sonora e a particularidade de lidar com outros elementos representativos traduzidos em dados (que podem representar, sons, textos, imagens ou gráficos).


A receção das mensagens radiodifundidas

Os quatro tipos clássicos de receção das mensagens radiofónicas foram explicados por Abraham Moles (citado por Ortriwano, 1985: 82):

 

"a) ambiental: quando o ouvinte deseja que a rádio lhe propor¬cione um "pano de fundo", seja através de música ou de palavras;

b) companhia: o ouvinte presta uma atenção marginal interrompida pelo desenvolvimento de alguma atividade paralela;

c) atenção concentrada: supõe que o ouvinte, mesmo exercendo outras atividades paralelas, aumenta o volume do recetor, concentrando a atenção na mensagem que lhe interessa;

d) seleção intencional: é a seleção de um programa concreto por parte do ouvinte".

 

Considerando que a enunciação discursiva na rádio é de base verbal, a voz é o elemento principal da expressividade radiofónica. Num meio desprovido de imagem visual, a voz adquire mais importância do que no teatro, no cinema ou na televisão.

Por definição, eufonia significa som agradável, escolha harmoniosa dos sons, suavidade de pronúncia. Efetivamente, o que se diz na rádio deve soar bem, além do comunicador o dizer bem. Copeau (citado por Merayo, 1992: 296) dizia:

 

“Será necessário que as vozes sejam bonitas. Será necessário que sejam simpáticas. Será necessário que sejam diversas em maturidade. Será necessário que estejam organizadas. Será necessário que sejam capazes de todos os tons, do mais ligeiro murmúrio à declamação mais ampla e sustentada, até ao canto”.

 

Tais exigências, imprescindíveis nos programas de criação, são também, prudentemente, aplicáveis à informação. A alternância de vozes de timbres diferentes e tom agradável melhora a apresentação das notícias, torna os noticiários mais dinâmicos e, portanto, mais “fáceis” de ouvir.

A eufonia tem muito a ver com uma locução adequada e também com a combinação harmónica da palavra com os outros elementos sonoros. Embora de forma muito limitada, já é possível ouvir efeitos sonoros e até musicais, a enquadrarem as notícias, servindo de cortina separadora de temas. Mas, em tempos, o Rádio Clube Português chegou a utilizar efeitos sonoros a separar cada notícia, fazendo para o ouvido aquilo que o ponto e parágrafo fazem na escrita. Sabia o ouvinte que tinha acabado uma notícia e ia começar outra.

Se ao caráter expressivo da voz humana lhe acrescentarmos efeitos e cortinas musicais, como timidamente alguns vão fazendo, a informação radiofónica identifica-se mais com o meio que vive exclusivamente do som, adquire mais vivacidade e resulta num verdadeiro espetáculo para o ouvido que se espera que a rádio seja. Tudo isto no pressuposto estético e deontológico de não cair no ridículo e dispersar a atenção do que verdadeiramente é importante - a notícia. A combinação dos recursos sonoros que integram a mensagem radiofónica, deve não só adequar-se à ética profissional como perseguir o sentido estético de uma verdadeira harmonia acústica.

O princípio essencial assenta no facto de os espaços de emissão deverem constituir um conjunto harmónico com o todo da programação em que estão inseridos. Esta harmonia, ambientação eufónica por extensão, exige que a todo o momento, os diferentes elementos da mensagem radiofónica (palavras, música, efeitos ou silêncios) se ajustem esteticamente, sem que transpareçam combinações bruscas, desordenadas ou cacofónicas.

O nosso ouvido, perante uma simultaneidade acústica, pode combinar vários sons, percebê-los todos juntos e selecionar os que mais lhe interessem, subalternizando ou desprezando todos os outros. Após a seleção, estão criadas condições para corresponder à atenção dirigida e concentrar-se no que lhe interessa. Também acontece que o nosso ouvido está condicionado por um determinado ritmo à sucessão de sons que lhe apresentam. Assim, o ritmo musical ou o ritmo da linguagem falada repercutem-se na audição e correspondente compreensão das mensagens.

A saúde da voz

Depois do que se disse sublinhe-se que as características da voz falada exigem que a respiração seja natural. Assim, o ciclo completo de respiração varia de acordo com a emoção e o comprimento das frases e a velocidade de fala, o que implica uma inspiração relativamente lenta e nasal nas pausas longas, sendo mais rápida e bucal durante a fala, com uma pequena movimentação pulmonar e da expansão da caixa torácica. Estamos aqui no domínio da coordenação pneumofonoarticulatória.

O objetivo da voz falada é, então, a transmissão da mensagem, com articulação precisa mantendo a identidade dos sons. Vogais e consoantes com duração definida pela língua que se fala. O padrão de articulação sofre grande influência dos aspetos emocionais do falante e do discurso. Fala aparece espontânea e articulada.

Em nenhum lado se aprende a falar com hesitações, com ruídos, com tropeções. Então onde é que alguns dos nossos profissionais da rádio e da televisão, nomeadamente jornalistas, vão buscar as bases para falar tão deficientemente?

Há tantos e tão divertidos exercícios para fazer. Há tantos aspetos a cuidar na nossa voz. São enormes as vantagens que obtemos conhecendo coisas elementares que os profissionais da saúde nem acreditam que os comunicadores tudo façam para menosprezar o seu instrumento de trabalho: a voz.

Daí que seria interessante motivar os comunicadores, professores incluídos, a terem conhecimentos de fisiologia (mecanismos e funções) da voz e cuidados com o aparelho fonador, a evitar o abuso e o mau uso da voz no trabalho e, principalmente, nas atividades extra profissionais. Evitar condições adversas: ambiente refrigerado, poeiras, acústica inadequada, pressões psicológicas, falta de hidratação adequada, falar fora de seu registo vocal, dinâmica corporal inadequada, hábitos alimentares inadequados, consumo de tabaco, álcool, e por aí fora.


Conclusão

A formação do ouvinte/espectador, na minha compreensão, passa pela formação da sua cidadania. Esse é o compromisso de quem é comunicador profissional.

Os cidadãos têm uma forte componente de formação na medida em que os profissionais dos media estimulem o seu gosto pela informação e lhes proporcionem estratégias de conhecimento que lhes possibilitem a fruição máxima dos sentidos textuais. Daí, então, as duas condições necessárias para a formação do ouvinte/espectador/leitor: ter o prazer de ouvir par depois poder contar.

A primeira condição não se circunscreve, é claro, apenas ao prazer estético ou ao lazer, mas inscreve-se no atendimento das mais diversas necessidades de informação do cidadão; a segunda, por sua vez, não é exclusiva dos media nem das salas de aulas.

Os media e os jornalistas não são os únicos responsáveis pela formação do cidadão: a família, a escola e a sociedade, conforme os desenvolvimentos que a agenda setting tem evidenciado, são corresponsáveis no processo formativo fundamental. Porque uma criança recebe as influências da família, por cujas figuras parentais modela a sua personalidade. Para ela, o ato de ler, por exemplo, não pode pertencer apenas ao universo escolar. Assim, o indivíduo que vive em sociedade se quer participar com consciência no processo de decisão tem de se informar.

É preciso, então, termos a clara noção da partilha dessa responsabilidade de formação/informação a fim de não remeter para o jornalista (apenas) ou a escola (somente) ou a família (unicamente) ou a sociedade (exclusivamente) a sensação de fracasso e o complexo de culpa pelo défice de cidadania. O problema que aqui se colocou está antes de tudo isso. Localiza-se em razões tão elementares como o saber escrever e saber falar para poder veicular informações. Ora se nós que “O Papa foi internado com um problema cardio-respiratório” porque é que o jornalista de rádio ou de televisão há-se dizer:

 “a mmmmm o Papa aaaa foi internado mnhhhhh, com um problema a cárdio-respiratório”?

Quem leva a sério uma leitura nestes termos? Onde está a credibilidade de quem assim nos fala?

Da forma como raciocinei acima, posso ter dado a entender que todos os jornalistas optaram, a partir dos anos 90, pela “mastigação” dos textos objetos das suas leituras/notícia; não é, de forma alguma, tanto assim: o que tentei foi apontar muito sumariamente a situação que se vive em alguma da nossa comunicação mediática audiovisual.




BIBLIOGRAFIA

BALSEBRE, Armand, 1996, El lenguage radiofónico, ed. Catedra, Madrid.

CASTARÈDE, Marie-France, 1991, A voz e os seus sortilégios, Caminho, Lisboa.

CEBRIÁN HERREROS, M., Mariano, 1995, Información audiovisual, Sintesis, Madrid.

MERAYO, Arturo, 1992, Para Entender La Radio, Upsa, Salamanca.

MELO, R. de, 2001, A Rádio na Sociedade da Informação, Ed. UFP, Porto.

MUÑOZ e GIL, José Javier e César, 1986, La Radio Teoria y Práctica, IORTV, Madrid.

ORTRIWANO, Gisela Swetlana, 1985, A informação no rádio, Summus Ed. - S. Paulo.

RODRÍGUEZ, Ángel, 1998, La dimensión sonora del lenguaje audiovisual, ed. Paidós, Barcelona.

 

Rui de Melo

 Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos

II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos

17/18 MARÇO 2005

 

 

 

 

 

 

 

A voz e o estilo radiofónico

A voz e o estilo radiofónico

“A Rádio é uma arte para ouvir, mas ouvir, neste caso, não é apenas um dos cinco sentidos do organismo humano.” (MINKOV; 1982:11),

 


A voz e o estilo radiofónico

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

 

São elementos essenciais da rádio o som, a propriedade acústica e o áudio na perceção das transmissões radiofónicas.

“A Rádio é uma arte para ouvir, mas ouvir, neste caso, não é apenas um dos cinco sentidos do organismo humano.” (MINKOV; 1982:11),

“Trata-se (. . .) de uma relação em que a presença do corpo não entra, em que todo o trabalho é feito pela voz” (CLÉMENT, 1975:183).

“É um fenómeno vibratório capaz de provocar uma sensação auditiva originada pela vibração (...) produzindo ondas que se propagam no espaço tridimensional, transmitindo por sua vez a vibração para os demais corpos que encontram pelo caminho” (MEDITSCH;1996:127).

Quando a construção de imagens por parte dos ouvintes se dá no interior da mente do ouvinte, são de um carácter extremamente rico, comportando em si três dimensões: a táctil, a olfactiva e auditiva, sendo “ (...) a selectividade e a versatilidade proporcionadas pela sua condição invisível que garantem a eficiência do discurso do rádio” (MEDITSCH,1997:13).

A voz conta com três traços vocais o timbre, o tom e ritmo que permitem trabalhar os enunciados de duas formas diferentes que caracterizam "estilos de comunicação vocal"

A "expressividade" da fala fornece indicações suplementares [a "distância e a distanciação" são as equivalentes sonoras de processos tipográficos tais como as aspas ou o itálico (...)] - a escolha das entoações modifica eventualmente o sentido do enunciado (...)".

Traços estes que estão para além das características individuais e que têm como pressuposto que a voz participa na significação da mensagem (LAVOINNE;1975:l).

Segundo Emma Rodero entende-se por tom de voz a altura ou elevação da voz, que resulta da frequência das vibrações das cordas vocais.

Se estes músculos vibram num número elevado de vezes por segundo a sua tensão aumenta, a altura da voz é maior e a voz eleva-se.

Ao contrário, quanto menor for a frequência, menos vibrações por segundo são emitidas e a tensão das cordas vocais diminui, a voz desce de tom e logo, torna-se mais aguda.

O tom mede-se pela frequência vibratória das cordas vocais, e identifica-se perante os demais como super-egos sociais, tornando a comunicação radiofónica num factor de concordância social (LAVOINNE; 1975:3).

A frequência diz respeito ao número de vibrações emitidas por segundo, bem como de ciclos vibratórios por segundo e é medida em hertz (ANTÓN,2001:2).

O timbre, por seu lado, é o que faz a distinção entre um instrumento musical e a voz humana entre milhões. O fenómeno desenrola-se desta forma: quando um corpo vibra propaga ondas sonoras com uma determinada frequência e põem em movimentação uma série de outras ondas sonoras com frequências diversas.

O timbre de cada pessoa é produto da junção entre a frequência básica e uma multiplicidade de harmónicos produzidos (MEDITSCH, 1996:129).

O timbre, o tom, a intensidade e a duração são um produto resultante das relações sociais e pessoais

A questão do género é determinante pois o tom é um atributo vocal intimamente ligado ao sexo do indivíduo.

A voz é um elemento decisivo no processo de personalização e de "vedetização“ da informação, introduzindo uma dimensão de intimidade e de liberdade na comunicação.

As relações sociais, e neste caso radiofónicas, ficam condicionadas, pois é a voz que transmite a informação difundida pela rádio e que estabelece a ligação entre o ouvinte, sendo determinante quando estes se fidelizam a esta ou outra emissora radiofónica.

A percepção da importância da voz e o discurso do rádio jornalista

As vozes femininas graves são associadas a perfis psicológicos e físicos negativos, uma mulher com voz de tipo grave é sempre a "feia", a "má" do filme.

No entanto, os tons mais apropriados às mulheres serão os tons médios-graves.

A percepção da importância da voz e o discurso do rádio jornalista abordada pelos profissionais e a criação de um estilo próprio ou de uma assinatura auditiva torna-se importante para demarcar fronteiras e estilos tanto entre os rádio jornalistas, bem como entre as várias estações de rádio.

Mais do que criar uma só personagem, o jornalista cria um vasto rol de imagens vocais que terão de ser credíveis. Um profissional da rádio tem que se aproximar do ouvinte.

Ao comunicar, o rádio jornalista necessita ter em consideração que, apesar de ser o ouvinte a procurar uma determinada estação cabe-lhe a ele cativar o auditório, utilizando não só os atributos vocais, mas também as suas qualidades enquanto comunicador.

A credibilidade não é procurada só por parte dos que fazem informação, mas simultaneamente por aqueles que animam os programas das emissoras.

Porém, a sua relevância tem vindo a mudar ao longo das últimas décadas, e por isso, interessa perceber o lugar dado à importância da voz na hierarquia dos critérios de selecção das vozes que ouvimos nas emissoras.

Um rádio jornalista não se deve só preocupar com o domínio sobre a locução

O jornal radiofónico é um elemento especializado, não podendo ser comparado ao jornal impresso ou ao jornal televisivo,

“(...)ele não vai pronto para o estúdio. É um jornal aberto, não se limita à divulgação dos factos ocorridos”, (BARBEIRO,2001:12)  daí que construa uma ponte imediata que anula as distâncias entre os jornalistas e ouvintes.

A voz cria o tom da informação, “ (...) os caracteres das vozes dos locutores equivalem a caracteres tipográficos: há vozes em itálico, em romano, em garamond, há vozes em maiúsculas - é com elas que se fazem os grandes títulos.

Linguagem radiofónica - uma forma de expressão autónoma da escrita

Há vozes finas e vozes grossas, vozes legíveis e vozes angulosas e cheias de rodriguinhos. (...) Há vozes anódinas, discretas e insípidas" (SCHAEFFER, in Lavoinne, 1975:169).

Durante muitos anos a rádio foi desprezada pelos jornalistas e intelectuais por ser considerada incompatível com o pensamento autêntico.

Esta representa a oralidade e desde o princípio que lhe foi difícil criar um estilo jornalístico que lhe permitisse uma distinção e autonomização do discurso da imprensa escrita.

Os indivíduos são identificáveis através do que dizem

Esta será uma afirmação sustentada por Roland Barthes, na obra O Grão da Voz, onde refere a componente psicológica inseparável da voz, indo mais longe ao localizar na fala a presença de uma variável sócio-linguística.

Os indivíduos são assim identificáveis através do que dizem, mas mais do que isso, expõem-se consoante se expressam e como a sua voz é levada até aos com quem interage.

Uma única palavra o pode “denunciar”, revelando imediatamente a sua posição social e até a sua experiência de vida ( BARTHÉS,1981:67).

Na rádio a voz é a matéria-prima dos seus profissionais e o veículo facilitador da identificação da estação de rádio

Esta mesma identificação estabelece o processo comunicativo, sinaliza os diferentes momentos da programação, distingue claramente o que é humor, do que é informação, do que é entretenimento, demarca fronteiras que se desejam vincadas e que estabeleçam com os ouvintes uma sinalética, criando

"(...)uma série de processos que tendem a transpor para uma simbologia sonora os símbolos gráficos a que nos habituaram" (SCHAEFFER in LAVOINNE, 1970:2).

As vozes chamam a atenção dos ouvintes

Sinalizam as mudanças de assunto e a procedência das notícias, informam sobre a identidade e o contexto.

Até o som estabelece uma hierarquia das mesmas vozes intervenientes no espaço informativo quando nos detemos na qualidade do mesmo:

"(...) na base o entrevistado, com postura amadora; acima dele o repórter, treinado com o microfone; no ápice o apresentador no estúdio, com as melhores condições de emissão. O estúdio insonorizado cria distanciamento em relação aos acontecimentos noticiados" (MEDITSCH, 1997:6).

Quatro variáveis da fala: inflexão da voz, sequência, ritmo e cadência das palavras.

Isto origina uma série de estilos passíveis de identificação de variados conteúdos e formas programáticas.

Sendo que a informação radiofónica se caracteriza por uma estreita adequação ao público e que traz ao de cima o carácter instantâneo da comunicação, por uma dupla dimensão factual e subjectiva (papel da voz), mais aberta ao imaginário que ao analítico (LAVOINNE,1975:68).

De qualquer forma a velha dicotomia geradora de grande polémica mantém-se mesmo quando a Rádio já detêm uma identidade e estilo jornalístico próprio, refiro-me ao discurso improvisado e ao discurso escrito e planeado.

O melhor improviso é o escrito

O improviso, segundo Eduardo Meditsch e tendo por referência Erving Goffman, faz parte de três distinções de produção da fala na sociedade contemporânea letrada e que compõem no seu todo a fala na rádio:

a recitação (de um texto previamente escrito);

a leitura em voz alta de textos não memorizados e a fala de improviso ou instantânea e que é a composição ou codificação simultânea do texto sob a exigência de uma resposta à audiência numa situação corrente.

A voz é o veículo de um trabalho

Na busca incessante do tom coloquial, o jornalista muitas vezes cai no erro de confiar excessivamente no seu poder oratório e até de memória ao arriscar ir para o ar apenas com umas folhas que lhe indicam os tópicos a serem abordados naquela emissão.

Se algo corre mal origina o ruído na comunicação e o ouvinte repara, sendo que para isso não é necessário um ouvido muito treinado.

Essa quebra faz com que o ouvinte se distraia e que até mude de emissora.

Nesta etapa podemos referir que a voz é apenas o veículo de um trabalho de edição mais ou menos bem elaborado, contendo maior ou menor dose de profissionalismo e de experiência.

As estações de rádio antes de demarcarem o estilo dos profissionais, marcam vincadamente o seu público-alvo e o seu carácter.

Público este que vai definir a produção da mensagem, tanto na sua forma como no seu conteúdo.

Consoante o produto que vendem, as emissoras radiofónicas procuram um determinado estilo de jornalistas, no entanto, tal como um actor, um rádio jornalista e um animador, apesar de fronteiras diferentes, devem ter capacidade para criarem personagens vocais o mais apropriadas possíveis ao seu auditório.

Actualmente, a preocupação dos profissionais recai não só nas capacidades intrínsecas da voz, mas também no profissional como um todo, dando grande destaque às suas capacidades enquanto comunicador e se é o comunicador adequado para o produto que se pretende vender ou a imagem que se quer passar.

 

A credibilidade da voz como aspeto persuasivo de criação radiofónica

 

A credibilidade da voz como aspeto persuasivo de criação radiofónica

 

M. Julia González Conde

Doctora en Periodismo (UCM). “Información universitaria en la radio pública”.

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

 

Pegando na ideia de M. Julia González Conde, senti-me acompanhado no meu inconformismo em relação a vozes desajustadas, leituras confusas e anomalias linguísticas que, sobretudo no âmbito informativo, em particular, comprometem a credibilidade de quem fala.

Como a palavra falada encerra muitos aspetos analisáveis, a autora elaborou um trabalho de campo com o objeto de determinar diferentes formas de fala em várias profissões, escolhidas pela sua necessidade de ser credíveis.

1. Voz, credibilidade e efeitos persuasivos

Pode-se enquadrar a voz dentro dos estímulos externos que, como afirmam muitas correntes de investigação e já diziam Demócrito, Platão ou Aristóteles como componentes de perceções inconscientes, provocam processos psíquicos que afetam e estimulam a nossa conduta à margem da nossa vontade. É a perceção subliminar de que tanto se fala no campo publicitário.

Através de uma voz de procedência oculta e que emerge de um aparelho de rádio, percebemos mensagens que os nossos olhos não vêm, mas a nossa mente constrói. Muitas vezes, a perceção não é consciente porque a recebemos sem resistência alguma, o que supõe um grande perigo sobretudo se existem informações conotativas associadas a valores políticos, sociais ou culturais, difíceis de ajuizar.

As mensagens radiofónicas tentam conseguir a máxima efetividade e significação no menor tempo possível; oferecendo, além disso, todas as armas persuasivas necessárias de atração do ouvinte a um ritmo demasiado acelerado para o conhecimento consciente.

Não há tempo para a reflexão.

Assim, outros fatores utilizados na linguagem radiofónica como a repetição de ideias e termos, a sobrecarga informativa, a falta de previsão da mensagem recebida ou o mascaramento de certos conteúdos com a incursão de elementos musicais ou efeitos de som, introduzem o discurso radiofónico nas técnicas subliminares, dispostas a conseguir um efeito imediato.

Se a tudo isto lhe juntarmos o ingrediente de uma voz radiofónica, pessoal e sedutora, as consequências efetivas não deixam lugar à dúvida.

2. A Voz como comunicação afetiva

O meio de comunicação que mais se consome é a televisão. Contudo, há um dado muito interessante segundo o qual mais de metade da população que ouve a rádio considera que as notícias que se dão neste meio lhe merecem bastante confiança. Isto é, vê-se mais televisão mas confia-se mais na rádio. A confiança e a credibilidade estão juntas, sendo os motivos pelos quais um meio ou outro tem mais ou menos êxito e, apesar desta asseveração, são poucos os autores que tocaram a questão da credibilidade e o porquê da sua existência. São aspetos que se tratam de passagem no momento de explicar as questões teóricas, sem as aprofundar. Portanto acreditamos que se torna necessário um estudo da questão; contudo, as investigações têm-se centrado fundamentalmente nas técnicas a seguir e na correta forma de as aplicar e não no que se obtém delas, isto é, na credibilidade que se projeta tendo em conta o emissor e a forma como delas faz uso.

A investigadora analisou a forma de falar de diferentes personagens, que representam diferentes profissões, com o fim de ver como aplicam as técnicas necessárias para conseguir uma maior credibilidade e analisar se se conseguiu ou não.

Evidentemente, nem toda a gente tem as mesmas características físicas (diferentes vozes, todas únicas e com qualidades diferentes) nem a mesma predisposição para a comunicação; contudo, é conveniente saber que existem técnicas e regras que se devem seguir para potenciar o êxito da mensagem. Deste modo, poderíamos dizer que qualquer voz pode chegar a ser credível se utilizar e dominar uma série de conhecimentos e técnicas expressivas, além de uma atitude adequada ao conteúdo do seu discurso.

3. Qualidades expressivas da Voz

Da mesma maneira que não há duas impressões digitais iguais, não há duas vozes idênticas. Cada voz tem um colorido próprio e inimitável, que é o que a torna única; uma série de características que a diferenciam das demais. Sendo verdade que as vozes se podem imitar, a emulação nunca chegará a ser exatamente igual ao modelo imitado.

Estas qualidades são a intensidade, o tom e o timbre, embora haja alguns autores, como Emma Rodero (2003:41), Cármen Pérez e Arturo Merayo (2001:79), que incluem “a duração” como uma quarta qualidade nesta classificação.

A intensidade da voz equivale ao volume e é a força ou potência de emissão das vibrações que procedem das cordas vocais. É a energia com que o ar é impulsionado desde os pulmões para as cordas vocais. Desta forma, se falamos em voz baixa, a intensidade é muito débil, enquanto se falamos em voz alta a intensidade será maior e necessitaremos de respirar com maior frequência. A intensidade baixa corresponde às sensações de tranquilidade, intimidade, tristeza ou proximidade; à intensidade alta associamos alegria, raiva, agressividade ou ânimo.

Conforme a atitude do falante, o seu estado físico e sentimental e as circunstâncias em que se encontre, a intensidade será maior ou menor, podendo inclusivamente variar durante o discurso; isto faz com que a carga emocional de uma pessoa se transmita através desta qualidade. Não obstante, também é preciso ter em conta o que se vai dizer, já que para um relato íntimo não se utiliza a mesma intensidade que se usa numa reunião social.

Assim, variar a intensidade quando se fala permite reter a atenção dos ouvintes e evitar a monotonia; além disso, também serve para diferenciar os sentidos de uma mesma palavra conforme se enuncia o som.

No meio radiofónico, os comunicadores devem ter em conta que, dada a sensibilidade que os microfones têm, não é necessário aumentar demasiado a intensidade quando o discurso o requeira, basta que subam um pouco o tom de voz. De contrário, produz-se a saturação do som e a mensagem fica incompreensível e, portanto, pouco credível. Desta forma, a sensação que o ouvinte percebe será similar à ouvida se realmente se tivesse aumentado a intensidade (como se o locutor num momento determinado, desse mais importância às palavras do discurso).

Ao ouvir certos apresentadores de televisão (que evito aturar), parece que “desconhecem” que há amplificadores de som e que não é preciso gritar, causando irritação ao ouvinte normal. A falta de cuidado na seleção das vozes tem dado passo a vozes de falsete de uma tal tonalidade aguda que confunde a identificação de género.

O tom (agudo ou grave) é a altura ou elevação da voz que resulta do número de vezes em que as nossas cordas vocais vibram. Quantas mais vibrações (maior frequência), mais aguda é a voz e mais alto o tom; pelo contrário, quantas menos vibrações (menor frequência), mais grave é a voz e mais baixo o tom. Desta maneira, o tom permite classificar o som em mais agudo ou mais grave.

De forma geral, o falante, seja homem ou mulher, terá um tipo de tom. As vozes graves são associadas aos homens e aos qualificativos de “séria”, “segura” ou “adulta”. As vozes médias e, sobretudo agudas, são associadas às mulheres e consideramos como mais “infantis”, “suaves”, “doces”, “familiares” e “alegres”. Todas, tanto masculinas como femininas, têm um tom, denominado “meio-tom”, que é o que usam habitualmente, e todas se podem mover numa escala de graves e agudos.

O estado de ânimo e a atitude do falante são qualidades da voz que determinam a sua forma. Assim, os sentimentos do emissor da mensagem transmitem-se através do tom com que fale. Por isso, é muito importante que os locutores (comunicadores, informadores, jornalistas) radiofónicos aprendam a controlar as suas emoções e o tom com que falam. Por outro lado, uma mensagem alegre poderia parecer triste, e vice-versa, diminuindo a sua credibilidade.

É recomendável também, e assim Arturo Merayo (meu professor no curso de doutoramento) considera que, para obter um melhor resultado seja o próprio redator da informação a dizê-la, posto que saberá com que intenção escreveu cada palavra e o tom que deve empregar para isso.

O timbre, que juntamente com o tom e a intensidade, a chamada “cor da voz”, é a qualidade que nos permite distinguir uma voz de outra ao ouvi-las. O timbre é o que faz com que uma voz seja agradável ou desagradável, e a partir daí, os ouvintes de rádio têm uma ideia própria de como é o rosto do locutor, já que tendemos a associar certas características físicas a determinados tipos. De facto, a constituição física (cara, queixo, dentes, palato, alvéolos ou nariz) determina um timbre determinado. Por isso, é normal que os membros de uma mesma família tenham timbres parecidos. De qualquer maneira, a voz é como o DNA das pessoas, não há dois iguais. Embora se possa modificar (variando as dimensões e a forma da cavidade bucal ou corrigindo as tensões dos músculos da laringe e respiratórios, entre outras fórmulas), por exemplo, para fazer imitações, o timbre é que faz com que cada voz seja única. Além disso, há diferentes tipos de timbre que o falante emite em função da sua atitude e do seu estado de ânimo (tal como com as demais qualidades). Se quem fala está alegre e feliz, o timbre será brilhante; se está triste ou tem medo, será opaco; se fala com normalidade, será absoluto; se transmite poder, energia ou certeza, será rotundo e se diz frases confidenciais ou amorosas, o timbre é apagado, quase ausente.

Portanto, é conveniente que o comunicador na rádio domine tanto esta qualidade como as demais. Para isso, necessita de educar e treinar a sua voz e, uma vez que o tenha conseguido, a sua credibilidade e a sua expressividade serão maiores.

Um quarto fator que é introduzido por alguns autores, é a duração. Uma qualidade que faz com que os sons sejam apreciáveis devido à sua extensão num período de tempo. Se o som tivesse uma duração de um milésimo de segundo não seria percetível ou não o identificaríamos. Cada pessoa tem uma velocidade média própria (uma duração própria) quando fala. Para compreender uma locução, a velocidade média da fala é de entre 125 e 190-200 palavras por minuto, incluindo velocidades lentas e rápidas (Rodero, 2003: 206-214). A duração da voz está em função da quantidade de ar que sejamos capazes de armazenar nos pulmões para logo o expirar na leitura, e este processo é diferente em cada indivíduo. Por isso, é importante que qualquer comunicador saiba qual é a sua capacidade, já que influi no ritmo da locução e, com isso, na leitura do seu discurso. Se não armazena suficiente ar, terá que parar, ao acaso, quando o corpo o exigir, a meio da frase para respirar de novo. Desta forma, a mensagem perde sentido, o que não contribui positivamente para a credibilidade do seu conteúdo nem da do informador.

O estado de ânimo também é uma parte muito importante quando falamos e que não se deve descuidar, já que a velocidade em que nos expressemos depende de se estamos contentes e felizes (duração menor, falamos mais rápido) ou de se estamos tristes (duração maior, falamos mais devagar). Os ouvintes percebem-no e, assim, obtêm informação do estado anímico do informador.

3.1. A voz conforme a sua tonalidade

Há muitos tipos de vozes e fizeram-se diferentes classificações atendendo a diferentes aspetos da voz. Para o estudo da professora Júlia, ela escolheu a disposição segundo o tom, que é a qualidade da voz que permite distinguir as femininas das masculinas, além de diferenciar os sons agudos dos graves.

As vozes graves, em geral, valorizam-se mais que as médias ou as agudas, sejam masculinas ou femininas, embora quanto a estas últimas existe uma maior tolerância se não são tão graves. Uma voz grave é mais intensa e, segundo Rodero (10/05/05) “a voz força-se menos e pode-se falar durante mais tempo sem sobre-esforço”. É uma voz agradável porque é cálida e próxima para o ouvinte além de trazer segurança e tranquilidade, algo que se valoriza em grande medida. Por isso, uma voz grave “percebe-se como mais segura e credível”. (Rodero, 10/05/05)

Por outro lado, o autor Rodríguez Bravo[1], diz que “o locutor construirá uma voz muito melhor aceite pelos ouvintes sempre que procure falar situando-se acusticamente em torno dos seus registos mais graves.”

Segundo o estado de ânimo do falante (homem ou mulher), a sua voz será mais ou menos grave. Os estados de ânimo que se associam ao tom grave são a tristeza, a tranquilidade, ou o abatimento. Também uma voz determinada poderá utilizar-se para criar ambientes mais ou menos íntimos.

As vozes graves nos homens caracterizam-se por ser muito masculinas, têm muito volume e grande sonoridade e alguns autores descrevem-nas como “robustas e poderosas”.

As vozes médias são as mais comuns, as que estamos mais habituados. Dentro desta categoria podemos encontrar vozes médias-agudas, vozes médias e vozes médias graves. Este tipo de vozes tem a vantagem de se poder modular dentro de uma gama mais ampla de tons quer de vozes agudas ou de vozes graves, o que dá lugar a uma maior variedade.

São mais ricas, tonalmente falando. Isto faz com que a audição da mensagem, por parte do ouvinte, seja mais agradável, mais amena e, portanto, se preste mais atenção ao conteúdo da informação.

 

 

Referência disponível on line

https://www.ucm.es/data/cont/media/www/pag-79436/cv_julia_gonzalez.pdf



[1] Citado por Rodero Antón, Emma em A voz informativa radiogénica”. Em Revista mexicana de Comunicação.

Disponível em http://www.mexicanadecomunicacion.com.mx/Tables/RMC/rmc79/voz.html

Citação recolhida por Rodríguez Bravo, Ángel Andrés (1989), a construção de uma voz radiofónica. Tesis Doctoral, departamento de Comunicação Audiovisual e Publicidade da Universidade Autónoma de Barcelona, Barcelona.

 

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