Marktest uma excelente fonte de informação para as empresas e para os estudiosos

 
Marktest uma excelente fonte de informação para todas as empresas e para os estudiosos da área de estudos de mercado e processamento de informação
A Marktest divulgou, recentemente, os dados relativos à primeira vaga de 2021 (fevereiro). Este estudo Bareme Rádio, revelou que 83.6% dos residentes no Continente com 15 e mais anos ouviu rádio pelo menos uma vez por semana e 56.6% fê-lo na véspera.


Por Grupos de estações, o Grupo Renascença Multimédia registou 32.4% de share de audiência[1], 48.8% de reach[2] semanal e 23.9% de audiência acumulada de véspera.
As estações do Grupo Media Capital Rádios asseguraram 39.5% de share de audiência, 50.9% de reach semanal e 26.8% de audiência acumulada de véspera.
As estações do Grupo RTP obtiveram 8.6% de share de audiência, um reach semanal de 14.2% e 7.3% de audiência acumulada de véspera.
A TSF registou 2.8% de share de audiência, com 8.3% de reach semanal e 3.3% de audiência acumulada de véspera.
É notável o estudo desenvolvido pela Marktest que, recentemente, inclui um maior número de estações, que apresenta a partir desta vaga resultados para todas as estações que tenham um mínimo de 30 referências na amostra, no indicador em questão.
É interessante notar a estratégia empresarial de juntar todas as suas rádios de forma a espelhar não só a audiência, mas também a dimensão da empresa mediática.
Com a devida vénia, reproduz-se o estudo em referência, plasmado no quadro anexo.






Reflexões vertidas para aulas por
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa
 
[1] Percentagem de tempo despendido, por um conjunto de indivíduos, na escuta de uma estação, relativamente ao tempo total de audição de Rádio, num dado período, segundo a Marktest.
[2] in Bareme Rádio, número ou percentagem de indivíduos que escutaram uma estação de rádio, no período de uma semana (sete dias), independentemente do tempo despendido.


Alfredo Alvela, dos mais criativos de Rádio que conheci

 

Alfredo Alvela, dos mais criativos de Rádio que conheci



Conheci Alfredo Alvela, no início dos anos 50, ainda no Electro-Mecânico. Em 1957, passou a integrar os quadros do Rádio Clube Português no Porto como locutor. Em 1963, passámos a ser colegas na Delegação do Norte do RCP. Senhor de voz privilegiada, era criativo e possuía um grande poder de improviso. Com ele aprendi que “o melhor improviso é o escrito”. Ou seja, cada reportagem em direto deve ser devidamente estudada, preparada e devemos ter sempre à mão elementos auxiliares de memória para que não haja hiatos na narração.   Ficou famosa a sua reportagem a bordo do Gil Eanes acompanhando a saga da pesca do bacalhau.

Com ele partilhei reportagens que marcaram aquele tempo. A inauguração da ponte da Arrábida e da ponte de Amarante, e a visita ao Porto do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek. Acompanhou a digressão do Orfeão Universitário do Porto aos Estados Unidos (1968).

Alvela, além de excelente na cabine, animando uma emissão, era um repórter de referência.

Enquanto em Lisboa; Aurélio Carlos Moreira alimentava a ideia do Passatempo para Jovens, no Porto, Alvela, com Humberto Branco, também de Rádio Clube Português, criava o programa Clube da Juventude (22:30-00:00), com a frase “Em cada jovem há um homem, em cada homem houve um jovem; mantém em ti o jovem” a acompanhar o indicativo do programa. O “Clube” transformou-se num centro de debate cultural de literatura, artes plásticas, filatelia, jazz, aviação, poesia, cultura física, música de concertos e participação de ouvintes através de cartas.

Com Alfredo Alvela e Eugénio Alcoforado, participei em programas culturais criados por Maria José Teixeira de Vasconcelos (descendente de Teixeira de Pascoais) como a Paisagem Intelectual ou “Os grandes esquecidos”. Com ele participei num programa de referência da época, o PBX, realizado por Carlos Cruz e Fialho Gouveia,

Um conflito com a direção, afastou-o do Porto e levou-o para Lisboa. A sua atividade passou a centrar-se, exclusivamente na informação. Alfredo Alvela acabou a sua vida profissional no Porto. Era eu diretor da Delegação da RDP no Norte, no fim da década de 80, quando me veio pedir “abrigo político” por desajustamentos laborais em Lisboa.

Contra o parecer da administração, achei por bem acolhê-lo. Pensava que era possível combater a instabilidade emocional que, por várias razões, o abalou. Não foi. Mas para mim há-de ser sempre uma referência profissional com quem muito aprendi.

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

A rádio no contexto da comunicação multiplataforma

 

A rádio no contexto da comunicação multiplataforma


Mariano Cebrian Herreros foi um dos meus professores no Curso de Doutorado que completei na Universidade Pontificia de Salamanca. A sua obra é extensa e de indispensável consulta por quem se interesse pelo audiovisual. O balanço que faz sobre a convergência mediática abre ampla perspetiva sobre um ambiente em acelerada inovação e reformulação. Neste trabalho, Mariano convida-nos a penetrar no contexto da inserção da rádio no atual ecossistema comunicativo, analisando as suas especificidades e adaptações.

A rádio atual ampliou o seu campo comunicativo próprio e entrou na disputa num conjunto complexo de plataformas comunicativas. Já não se pode examinar estas mudanças sem considerar as transformações internas e o grande desenvolvimento dos demais meios e serviços com que tem que estabelecer relações tensas de readequações para manter a sua implantação na sociedade. A rádio integra um ecossistema comunicativo em constante mutação, complexo e com adaptações.

Dentro desta complexidade os meios de comunicação e serviços congregam-se em unidades organizativas superiores. Já se ampliou a conceção de agrupar muitos meios nacionais e internacionais a uma organização mediante as grandes plataformas de comunicação. Plataformas com capacidade de congregar todos os meios de comunicação existentes, gerar outros e estabelecer novas relações entre elas. A rádio tradicional, concebida nas redes hertzianas, teve um desenvolvimento particular, ampliou o seu campo com a incorporação do FM e acrescentou às suas programações generalistas as ofertas especializadas por temas, por destinatários e por territórios. Posteriormente colocou-se nas redes de cabo e satélite em alguns países de maneira exclusiva e em outros ligadas com outros meios, como a televisão ou a telefonia. Deste modo, desenvolveram-se as três plataformas clássicas de difusão: ondas hertzianas, cabo e satélite com modelos fundamentalmente unidirecionais, salvo o caso da rádio, já que graças às suas ligações e alianças com o telefone sempre teve uma maior abertura ao diálogo direto com seus seguidores.

Durante a última década duas novas plataformas entraram em funcionamento, a internet e a telefonia móvel com uma ampla diversificação de subplataformas, as quais transformaram radicalmente o sistema comunicativo em geral e o da rádio em particular, o que criou um ecossistema comunicacional inovador, em permanente mudança e no qual as alterações de um de seus componentes repercutem nos demais.

Cebrián tem opinião sobre os “futuristas” que dão por mortos os meios de comunicação: média impressa, rádio e televisão, mas se esquecem de dizer que se tratam dos meios massivos, além de outros elementos que permitem a eles transformar-se e sobreviver. O importante não é o desaparecimento de determinados suportes, mas a continuidade do que cada um acrescenta como seu. É possível que a média impressa desapareça, mas o jornalismo escrito sobreviverá; é possível que as ondas hertzianas percam tanta audiência que se tornem irreconhecíveis como emissoras de rádio, mas o consumo de documentos sonoros, música e informação oral sobreviverá; é possível que a televisão generalista seja deslocada pelo público entusiasmado por conteúdos muito específicos, mas serão mantidas as transmissões ao vivo de grandes eventos, a informação audiovisual, a ficção e o entretenimento. A tecnologia é importante não como mero suporte de produção, registo, distribuição ou receção, mas porque introduz outras variáveis comunicativas, promove outros conteúdos e emprega outras linguagens de acordo com o grupo de usuários, com seus territórios e com cada período. Muda a tecnologia, renova-se a sociedade, modificam-se os gostos, mas prevalece a comunicação mediada pela inovação tecnológica entre os membros da sociedade.

Seguindo este investigador, a rádio entrou numa fase de transição permanente pela aceleração da tecnologia. Não se vislumbra um ponto de chegada fixo. Antes a FM foi introduzida e houve um tempo para sossegar, ensaiar, depurar e permanecer. Agora a internet penetra e tão logo experimentou uma oferta e imediatamente apareceram outros desenvolvimentos nela que superam a conceção ciber-radiofónica para iniciar outras modalidades comunicacionais sonoras. A oferta atual da internet mudou em relação aos últimos anos. Agora estabelece-se o início da rádio móvel, mas não se conhece o seu projeto de futuro.

A rádio é a transformação da tecnologia em sons. A rádio nasceu como tecnologia, é tecnologia e continua a ser tecnologia. Não pode prescindir dela ou deixa de ser rádio. Empregou e continua empregando a tecnologia velha ou tradicional, as inovações que se produzem e se situa na vanguarda com a tecnologia de ponta.

Mas a tecnologia pela tecnologia não tem sentido. A mediação técnica não é puro instrumento. É um processo comunicacional. A técnica interessa enquanto adquire capacidade para gerar novos símbolos e outras formas de expressão e transmissão de significados.

A terceira grande transformação tecnológica e comunicacional da rádio ou o enquadramento histórico de Cebrián Herreros, explicando que a rádio empreendeu a terceira transformação, depois da primeira da década de 40-50 baseada nos contributos dos transístores, gravadores magnéticos, frequência modulada e estereofonia e a segunda da década de 80-90 da digitalização e convergência dos meios (CEBRIÁN, 1994, pp. 151-168). A terceira transformação produz-se pela presença das plataformas de internet e telefonia e a convergência das plataformas anteriores com as novas até gerar o ambiente multiplataforma atual. Passa-se da convergência de meios ou multimédia à convergência multiplataforma. Nasce uma nova conceção comunicacional interativa em que predominam, além das contribuições específicas de cada uma, as sinergias, inter-relações e ligações entre elas para explorar os meios, conteúdos e serviços com orientações de adaptação e criação de outras linguagens em que a navegação, hipertextos e interatividade se situam como eixos para o avanço.

Evidencia-se que o radiofónico se assemelha ao impresso, à televisão, ao cinema quando todos utilizam uma linguagem digital comum, mas cada um deles oferece o final do processo uma linguagem reconhecível pelos usuários. As linguagens utilizam os símbolos para representar a realidade. O digital, afinal, termina também sendo necessariamente analógico para que seja compreendido pelos sentidos do ser humano e sem os quais não poderia haver um conhecimento da sua realidade externa e não haveria um processo de conhecimento sequer.

Aprecia-se, então, uma convergência tecnológica, mas mantém-se a divergência expressiva de cada uma das linguagens e das formas expressivas utilizadas. A linguagem tecnológica potencializa e enriquece a linguagem expressiva e estética. Não existe oposição nem contradição alguma, ao contrário.

A edição apresenta outras potencialidades de tratamentos conhecidos como de pós-produção. Introduz uma linguagem digital para transformar e editar sons previamente registados ou gerar de maneira sintética outros novos, mediante a acusmática.

A difusão expande-se e converte-se em compartilhamento bidirecional entre usuários. As telecomunicações, que propiciam os processos de difusão tecnológica dos meios eletrónicos tradicionais, convergem com a informática para propiciar os tratamentos automáticos e origina a telemática, uma inovação tecnológica que transcende a convergência e que vai além da união num acrónimo original para contribuir para as redes de comunicação de ida e volta transformadoras das relações entre os usuários ao fomentar a mudança de papéis dos emissores e recetores tradicionais.

O telefone constituiu-se na tecnologia mediática de maior transformação para a rádio não sob o ponto de vista da convergência tecnológica entre dois meios, mas na perspetiva de mudança comunicativa. É a tecnologia que transforma a radiodifusão numa autêntica radiocomunicação. Incorpora-se uma enorme capacidade de diálogo, de comunicação horizontal e, em suma, de geração de uma cultura do diálogo, que é a que lhe permitiu em todo momento estar situada na vanguarda da participação e presença da audiência nos conteúdos radiofónicos com seus telefonemas, perguntas, propostas, informações, opiniões.

A rádio esteve sempre ligada ao telefone tanto para a produção: linhas de conexão entre emissoras para se organizarem em cadeia, o duplex e o multiplex, como para a transmissão. As inovações telefónicas foram sendo incorporadas para estabelecer uma conversa e incentivar as votações dos seguidores. É uma convergência inseparável na rádio atual tanto da tradicional como da cibermediática e da telefonia móvel em que todo o processo técnico-comunicativo junto às suas consequências se baseia na mediação telefónica de pleno intercâmbio de comunicações entre os usuários.

As emissoras desenvolveram novos serviços interativos através dos telefones fixos mediante números com prefixos diferenciados pela tarifação para os quais os usuários telefonam.

As plataformas tradicionais perdem valor à medida que outras ofertas fragmentam os mercados. A limitação do espaço radioelétrico, a necessidade de licença e o elevado custo de manutenção da rede na plataforma perdem no confronto com a internet que tem como limite apenas a capacidade do cabo que se emprega e da largura de banda com que se queira transmitir. Os usuários acedem aos conteúdos sem restrições, nem intermediação alguma.

Com a rádio tradicional emerge a ciber-rádio e a rádio móvel. O desenvolvimento técnico-mediático produz-se em várias fases. A primeira constitui-se pela consideração da nova tecnologia como um mero instrumento de radiodifusão. A rádio tradicional utiliza a internet como outro suporte de difusão. A segunda incorpora certas adaptações à nova tecnologia e nascem outras iniciativas, mas copiando a anterior. A rádio tradicional adapta algumas das possibilidades da internet: fragmentações de programação, inclusão de processos de interatividade e diálogo entre a emissora e os usuários com sistemas eletrónicos, chats, fóruns. A terceira compreende uma proposta original muito diferenciada no seu tratamento em relação à anterior. São geradas novas opções: interatividade entre usuários, ligação a redes sociais, versões diferenciadas para cada inovação. Em alguns destes casos já se discute sobre se pertencem à perspetiva do radiofónico ou se se criam meios sonoros diferentes. Neste momento e até que não existam ruturas claras é preferível continuar falando de extensões da rádio e da ciber-rádio (CEBRIÁN HERREROS, 2009, pp. 11-23).

São três fases de desenvolvimento progressivo. A presença de uma fase posterior não elimina as anteriores. Da mesma maneira, pode-se considerar como na internet se mantém a função instrumental de radiodifusão da programação da emissora matriz de forma simultânea.

Algo similar acontece na plataforma de telefonia móvel. Ela ainda se encontra na transição da primeira para a segunda fase, do uso instrumental às adaptações, sem que apareçam, ainda, inovações realmente diferentes e originais em relação à ciber-rádio.

Este processo observa-se nas inovações mais avançadas. Ainda existem emissoras de rádio que não passaram da etapa inicial. Por isso deve-se examinar a evolução de cada emissora em particular para compreender em que situação realmente se encontra e quais suas contribuições originais em relação às demais ciber- rádios.

Sou de opinião que o que Paula Cordeiro concluía no seu trabalho de 2003 se mantém perfeitamente atual.

“Portugal apresenta um panorama que revela uma ideia de transição de paradigma comunicacional que respeita aos conceitos de consensos, dialogismos e interatividade, expostos na aceção do carácter monológico – dialógico que tem traduzido a evolução da comunicação radiofónica. A fase que atravessamos é ainda de transição, entre uma condição dialógica e outra, manifestamente interativa, com as hesitações de percurso inerentes à passagem da palavra analógica para a conceptualização de um modelo plenamente interativo e digital que se traduzirá num novo desenho do panorama mundial, pela implementação de um novo sistema de conceção, produção, difusão e receção da comunicação radiofónica.”

Mais recentemente, em 2018, num trabalho centrado na Rádio Fundação de Guimarães, Ana Isabel Araújo, chegava à conclusão de que o aparecimento da internet não reconfigurou a relação entre a rádio e ouvintes.

“O fraco investimento que a Fundação fez nas suas plataformas digitais, como as redes sociais ou o site, foi bastante percetível através da análise realizada aos mesmos, bem como nas entrevistas e observação direta. Significa que a emissora ainda não reconheceu verdadeiramente a importância do online e prefere continuar a utilizá-lo apenas como um complemento”.

As experiências vão-se sucedendo numa variedade desafiante da imaginação dos radialistas. Um vetor parece ter o caráter determinante do que é indispensável: a voz.

Uma das minhas melhores alunas, hoje doutorada, a Nair Moreira da Silva[1], expressava com clareza uma evidência que devia ser óbvia no ambiente rádio:

          A voz humana continua a ser o único laço afetivo, numa rádio que encerra um modelo demasiado concentrado em playlists, sem explicações e sem intimidade, ao admitir uma nova conceção estética que desenvolva uma cumplicidade que estimule a criação e participação e envolva sensorialmente o ouvinte e com ele crie um vínculo intenso e duradouro. A principal conclusão a tirar desta dissertação é que na Internet a rádio perde a sua identidade, já que a sua especificidade é quase toda ela eliminada ao apresentar-se em sites multimédia idênticos aos sites de milhares de outros órgãos jornalísticos. A voz humana, quando é intimista, emerge desse cenário, no entanto, como o elemento identitário radiofónico pode possibilitar à rádio na web um reencontro parcial com essa sua identidade perdida.”

Por tudo isto, insisto: “Na rádio a voz é a matéria-prima dos seus profissionais e o veículo facilitador da identificação da estação de rádio”. Tanto nas ondas hertzianas como nos traços digitais.

 “As vozes chamam a atenção dos ouvintes, sinalizam as mudanças de assunto e a procedência das notícias, informam sobre a identidade e o contexto.”

Continuo a entender que a voz é razão de ser da rádio. Por isso há que tratá-la bem e ser exigente quanto à sua qualidade nos quatro fatores: intensidade, volume, intervalo (pausas), ritmo.

 

 

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa



[1] A RÁDIO E A WEB - UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS RÁDIOS DE INFORMACAO NACIONAIS E A BBC RADIO

José Afonso e uma experiência única


 

José Afonso e uma experiência única

 

Estávamos em 1962, em Coimbra, no período de exames de outubro. Cabia-me fazer a aptidão ao curso de direito da Universidade. Empreendimento em que tive sucesso.

O dinheiro não abundava e não dava para ir para uma pensão. Tinha um amigo que estava ligado à Rás-te-Parta, conhecida “república” de estudantes, a quem pedi que conseguisse que me deixassem pernoitar até acabar o exame de aptidão. O Sérgio Martins era muito bom aluno e não precisava da época de outubro o que dificultava a “cunha”. No entanto, o relacionamento do meu pai com o Rás-Mor facilitou as coisas. E assim pernoitei na Rás-te-parta.

O Rás-Mor disse para ficar tranquilo a estudar no quarto e que não me incomodasse com o “movimento” que ia acontecer durante a noite. Havia outros convidados para passar a noite naquela casa. José Afonso era um deles. Fui-lhe apresentado com a indicação de que trabalhava na rádio no Porto. Fomos conversando sobre música, discos e, inevitavelmente, fado de Coimbra. José Afonso surpreendeu-me quando disse que estava cheio de fados de Coimbra. Ele que tinha discos editados pela Valentim de Carvalho! Disse-me que queria gravar outras coisas que não fado e pediu-me que sugerisse editoras do Porto. Falei-lhe da Rádio Triunfo, do Arnaldo Trindade e da Rapsódia. Pôs logo a Rádio Triunfo de lado e disse que não conhecia a Rapsódia. Dei-lhe o contacto e insisti no Arnaldo Trindade. Depois disse para eu ir estudar porque o exame que ia fazer não era brincadeira.

Por volta de uma da manhã começo a ouvir cantar uma música bem conhecida, mas com uma letra diferente:

A 13 de maio,

Na Cova da Iria

Não aconteceu nada

É tudo mentira!

Divertiram-se com mais uns temas populares até que, solicitado pelos colegas e com Rui Pato à viola, ouvi, pela primeira vez, “Os Vampiros”. Poema de numa força nunca antes ouvida por mim. Não me atrevi a sair do quarto. Olhando pela janela, encostado à parede, estava um homem que desconfiei ser da polícia política. Temi que a noite tivesse consequência funestas No dia seguinte, disseram-me que, com os estudantes em grupo, os “pides” não se atreviam.

Passados uns meses aparecia no mercado “Os vampiros”, em lançamento da Casa Rapsódia, da Rua de Sto António (hoje, 31 de janeiro). Depois, foi o que toda a gente sabe. Arnaldo Trindade acabaria por dar a José Afonso as condições de trabalho que o seu valor exigia. A Rapsódia foi um episódio isolado.

Devo dizer que, no encontro da Rás-te-Parta, estava também um rapaz de Avintes, chamado Adriano Correia de Oliveira. Ele será o tema da minha próxima história.

Voltei a encontrar José Afonso quando ele veio aos estúdios do RCP por altura da I Convenção Internacional do Disco, realizada em Ofir por Arnaldo Trindade, em 1969. Um acontecimento de criação só possível por Arnaldo Trindade.

Propositadamente nunca tratei José Afonso por Zeca. Só os mais íntimos o tratavam assim. E eu, infelizmente, não o era.

José Afonso foi sempre obrigatório nos programas de rádio que realizei e apresentei.

 

 

HOJE HÁ COISAS

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