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O gosto pelas histórias da rádio

 

O gosto pelas histórias da rádio

Em 10 de maio de 1897, o governo britânico certificou Marconi para fazer a primeira transmissão rádio pelo Canal de Bristol. Da “invenção revolucionária” aos meios de comunicação de massa, passando pelo “instrumento de propaganda de guerra” afirma-se como sendo um meio de expressão pessoal.

Tudo isto implica o uso de tecnologia. O domínio da linguagem envolve sempre o uso da técnica, mas, no caso dos meios de comunicação, ela passou a Indústria e houve momentos em que mereceu a denominação de artística. Porém, agora que a Internet se afirma gradativamente como meio de comunicação de massa e individual, a antiga linguagem da rádio está a ser adotada pelos integrantes do novo meio. Portanto, a linguagem da rádio está a ser mantida enquanto as novas tecnologias vão sendo postas ao seu serviço. Esta linguagem “sonora” desenvolvida evoluiu em função da utilização de diferentes dispositivos que permitiram a sua criação.

Muitos investigadores estiveram envolvidos na descoberta da comunicação por ondas eletromagnéticas ao longo do século XIX. Oersted, Ampere, Faraday, Maxwell e Hertz lançam as bases sobre as quais assenta esta forma de comunicação. Mais tarde, Branly, Lodge e Popov realizaram as suas investigações, embora fosse Marconi quem ficaria com a patente para a radiocomunicação.

Édouard Branly, professor do Instituto Católico de Paris, em 1890, inventou o coesor, inovador na história da tecnologia da rádio. O coesor era um tubo de material isolante (geralmente vidro ou ebonite), contendo limalha metálica no seu interior e com um elétrodo (borne) em cada extremidade.

Figura 1 coesor

Era utilizado como detetor de sinais nos primórdios do rádio, sinais estes que, na época, eram produzidos por geradores de centelhas (faiscadores,"Spark Gaps") chamados "Bobinas de Ruhmkorff ou de Tesla”, acoplados a um dispositivo contendo duas esferas metálicas ocas, o "Ressoador de Hertz".

Figura 2 Esquema de coesor

Oliver Lodge melhorou o detetor coesor de ondas de rádio de Édouard Branly, acrescentando um "vibrador" que deslocava a limalha acumulada, restaurando assim a sensibilidade do aparelho.

Figura 3 coesor com vibrador


O recetor de rádio inventado por Popov foi exposto numa reunião do Departamento de Física da Sociedade Físico-Química Russa, no dia 7 de maio de 1895, enquanto o cientista italiano Guglielmo Marconi reivindicou a sua invenção apenas a 2 de junho de 1896.

Figura 4 Popov

Figura 5 Guglielmo Marconi

A amplificação do sinal ocorrerá graças ao “Diodo” de Ambrose Fleming.

 


Figura 6 “Diodo” de Ambrose Fleming

Ambrose Fleming pesquisou sobre válvulas termiónicas e inventou um díodo detetor para sinais de radiofrequência, o primeiro detetor eletrónico das ondas de rádio (1904), base para a invenção e melhoramento do primeiro equipamento de rádio utilizando dispositivos termiónicos.



Figura 6 Díodo termiónico

O "Audion" de Lee de Forest em 1906 permitiu estender a cobertura e melhorar a transmissão das ondas de rádio. Era um tubo de vácuo de amplificação ou deteção eletrónica. Foi o primeiro tríodo, consistindo de um tubo de vidro evacuado contendo três elétrodos: um filamento aquecido, uma grade e uma placa. Foi o primeiro dispositivo eletrónico amplamente utilizado que podia amplificar o som.

Figura 7 "Audion"

E será Fessenden quem fará a voz ser ouvida. Desenvolveu a ideia de sobrepor um sinal elétrico, oscilando nas frequências das ondas sonoras, sobre uma onda de rádio de frequência constante, de modo a modular a amplitude da onda de rádio na forma da onda sonora. (Este é o princípio de modulação de amplitude, ou AM.) O recetor dessa onda combinada separaria o sinal de modulação da onda portadora e reproduzia o som para o ouvinte. Em 23 de dezembro de 1900, na Ilha Cobb no Rio Potomac em Maryland, Fessenden conseguiu transmitir uma mensagem de voz breve e inteligível entre duas estações localizadas a cerca de 1 milha uma da outra.

Figura 8 Circuito recetor de rádio heteródino de Fessenden

Também em 1906 chega o recetor de rádio de cristal Dunwoody que será aperfeiçoado por Pickard com o detetor de silicone. (Díaz: 1990, p. 25)

Figura 9 recetor de rádio de cristal

É o tempo em que a rádio é dos cientistas e engenheiros. Logo os novos meios, mais baratos, mais rápidos e eficientes do que os usados ​​até então, atraíram a atenção de governos, empresários, banqueiros e até religiosos. Porém, também em outros setores menos abastados cresce um interesse especial e começam a ser criadas associações de rádios amadores que iniciam a fabricação de pequenos recetores e, em algumas ocasiões, também de grandes e caros transmissores. Graças a todos eles, a rádio espalhou-se pelo mundo.

Naqueles primeiros anos, a escuta é individualizada, pois era necessário usar fones de ouvido para ouvir as transmissões através daqueles recetores Galena que sintonizavam o sinal e eram alimentados por baterias. No final da década de 20 foram alcançadas importantes melhorias, fazendo com que os aparelhos - mais baratos também - pudessem ser ouvidos por meio de alto-falantes, fossem conectados à rede elétrica e o sistema de sintonia fosse simplificado para apenas um sintonizador. Essas modificações são elementos que permitem aumentar drasticamente o número de ouvintes, uma vez que a rádio poderia ser ouvida por mais de uma pessoa, tornando-se um dos elementos mais importantes da casa.

Na década de 1930, foram feitas melhorias nas instalações. A separação da área de emissão e os estúdios permitiram que as antenas ficassem em locais mais adequados para a emissão (principalmente em locais mais altos), melhorando a transmissão a uma distância maior. No final daquela década, a rádio saiu dos estúdios e passou a programa de rádio. Por outro lado, o diálogo multiplex – informativo - é introduzido por meio de múltiplas conexões entre correspondentes e a emissora. Eventos como a Crise de Munique tornarão esse procedimento comum, aumentando ainda mais o dinamismo e a velocidade de informação do meio. Como parte das melhorias deste palco, a montagem sonora é adicionada, o resultado da gravação elétrica, a mesa de mixagem, o aprimoramento dos microfones e o uso de efeitos sonoros.

Figura 10 Chamberlain na crise do acordp de Munique

A possibilidade de gravar sons de maior qualidade com o aparecimento do disco macio e a difusão do disco elétrico permite ultrapassar a realização total em direto. Até então, as mixagens eram feitas na frente de um único microfone, e qualquer intervenção simultânea dificultava especialmente a qualidade do produto. Em seguida, a pré-produção de programas ou partes deles começa a ser transmitida posteriormente. Graças a estas novidades, consegue-se um maior aperfeiçoamento técnico e complexidade, o que conduzirá à época áurea da criação da “imagem sonora” a partir de estímulos acústicos.

Ler obras literárias ou a atuação de músicos em estúdio já não é suficiente. Agora, são transmitidos shows e variedades ou peças, e surgem pesquisadores e criadores (Bertolt Brecht, Orson Welles, Heinrich Boll ou Friedrich Durremat) a moldar o que hoje pode ser entendido como linguagem de rádio.

                                                 

Figura 11 Bertold Brecht               

 


Figura 12 Orson Welles

Escrevem-se obras especialmente adaptadas ao meio, criando a "Rádio Literatura", na qual o teatro e o romance ocupam um lugar muito importante por várias décadas. Ainda que infelizmente para alguns, desde os anos setenta essa "Literatura" foi gradualmente desaparecendo da programação até à sua quase total extinção.

 

Figura 13 Heinrich Boll                        



  Figura 14 Friedrich Durremat

 

Mas esses anos trinta são "a era de ouro da rádio": o momento de máximo desenvolvimento da sua linguagem a partir de todos os elementos técnicos inventados até àquele momento. Na década seguinte, surgiu o “gravador”, aumentando ainda mais o avanço da “montagem” e da “linguagem sonora” e, sobretudo, permitindo a montagem linear fragmentada, economizando tempo e esforço na realização.

 

Figura 15 gravador de fio

Figura 16 gravador de fita

Já assisti a mudanças significativas da rádio desde a primeira vez que entrei num estúdio nos anos 40. De uma atividade em que quase toda a gente trabalhava sem qualquer remuneração até ao grande negócio dos nossos dias a movimentar milhões de dólares (o volume anual de negócios da rádio ultrapassa, anualmente, os 22 mil milhões de dólares) , tudo passou pela minha vida na rádio.

Algumas das mais recentes inovações incluíram o CD, o uso do computador, a automatização das emissões. Novas tecnologias despontaram e foram transformando este ramo de atividade.

Nas primeiras emissões a que assisti, feitas pelo meu pai, vi-o carregado de discos de 78 rpm e com uma caixa  de agulhas que ele ia substituindo à medida que mudava de disco. Embora ainda tenha trabalhado com alguns discos de 78 rpm, já entrei na rádio em plena era do vinil e da microgravação. Cresci a ouvir Júlio Silva, nos anos 50, a fazer na Ideal Rádio o seu programa A microgravação em marcha, em que apresentava os primeiros discos de 33 e de 45 rpm a surgirem no mercado.A qualidade do som é notavelmente desenvolvida. Altera o método de trabalho e toda a organização da estação, pois cada estúdio pode ter a sua própria unidade de gravação e reprodução, dando assim a cada programa mais opções criativas. Tal evolução exige o surgimento de novos departamentos, como os de cópia, trânsito de materiais e até a criação de outros centros de produção independentes da estação.

Figura 17 LP - longa duração

Como se não bastasse, surge o microgroove Meter Goldmark, ou seja, a microgravação com os discos EP e LP, que melhora tanto em qualidade quanto em duração em relação aos discos anteriores. O gravador e o microgroove fornecem maior controle sobre o tempo do programa. Agilidade, novo ritmo e menos seriedade acompanham a rádio. Isso torna-se evidente nos últimos anos com o desenvolvimento de uma nova programação e, portanto, com o desenvolvimento da “linguagem sonora” e também da “rádio”. A rádio industrializa-se e mantém a sua estrutura quase até os dias de hoje, em que o surgimento do sistema digital trouxe novas mudanças técnicas, humanas e de linguagem.

Figura 18 FM

Os anos cinquenta são a altura de melhorar a qualidade do som. O FM reaparece e em seu suporte surgem outras novidades: transístor, Hi-Fi (alta fidelidade) e St (estéreo). Especialmente adequado para rádios locais, o Frequency Modulated é implementado de forma desigual em todo o mundo nas duas décadas seguintes.

Figura 19 transístor

O transístor cria uma revolução tecnológica ao miniaturizar equipamentos transmissores e recetores, baixando custos e renovando a sua qualidade, tornando a rádio ainda mais popular e, com aparelhos portáteis, saindo de salas para ir a qualquer lugar da casa, ou fora dela, até serem introduzidos nos automóveis. Enquanto o Hi-Fi aumentava a qualidade do som especialmente em FM, o estéreo permitia que os criadores de rádios emulassem a sensação de espaço, não só a profundidade, mas também o movimento.

Outro instrumento facilitador da mobilidade da rádio foi o minigravador de cassette. Nos anos 60, o repórter libertou-se de fios e de operadores.

Figura 20 Gravador de cassetes Philips

Na década de oitenta, a rádio atingiu a sua maturidade tanto no campo tecnológico quanto na comunicação. A sua linguagem foi definida: palavra, música, efeitos sonoros, silêncio, controle de tempo e espaço, gerenciamento de ritmo. A recriação da realidade está em condições de atingir o grau máximo de verossimilhança e, apesar de tudo, os espaços destinados a evocar as imagens sonoras praticamente desaparecem da rádio.

A privatização da rádio abre caminho às rádios temáticas, seguindo o exemplo americano. A informação, desde o início da rádio, protagonista por excelência, tem, em Portugal, uma rádio “só notícias”, a TSF. A Onda Media esvai-se no tempo. A fórmula da rádio musical é o outro grande protagonista da Frequência Modulada. Mas nas ondas da rádio quem manda é a publicidade, sem ela não há subsistência (exceto as estatais, claro). Por isso as rádios locais têm uma sobrevivência problemática o que tem levado muitas à desistência e venda a empresas centralizadas em Lisboa.

Figura 21 Centralização

 

Desde esses anos e até ao final do século 20, parece que a rádio estagna e até perde ouvintes.

Além disso, desde a década de 1950 outro meio - a televisão – impõe a sua tecnologia, linguagem, programas, produtores, e conquista o público. Não há escolha a não ser renovar ou morrer! Mais uma vez, há que alterar e melhorar os recursos técnicos. Desponta a digitalização.

Muita gente desconhece, ou esquece, que o sistema binário foi criado por Leibnitz criou em 1679.  Esteve ali a origem digital de que hoje desfrutamos em várias atividades. Com a introdução da tecnologia da informação na indústria audiovisual, ocorreu a última revolução tecnológica do século 20: a digitalização. A digitalização do som conduziu a um novo desenvolvimento no campo dos sistemas de gravação, processamento e reprodução, juntamente com os sistemas de transmissão. É possível resolver, tratar e simplificar muito trabalho dos procedimentos técnicos anteriores como o gravador, a mesa de mixagem e até mesmo os processadores e geradores de sinais. Isso levou ao desaparecimento quase total dos estúdios de rádio. Isto é, os estúdios onde trabalhei durante décadas desapareceram para dar lugar a auto-operados de várias opções. Foram substituídos pelo computador e seus recursos para edição e processamento de sinais sonoros. Assim, a edição de som hoje eliminou totalmente uma rotina de trabalho, como a edição em fita magnética, simplificando-a de tal forma que algumas funções tradicionalmente desempenhadas por operadores de som agora podem ser realizadas diretamente por jornalistas e outros profissionais. O CD que substituiu o vinil, está agora a ser trocado pelo disco rígido.

A dimensão da estação e respetivo quadro de pessoal vai sendo reduzido.  Surgem profissionais multifunções, capazes de desempenhar diversos trabalhos, todos eles relacionados com o domínio do som, da informação ou da criação. Novas técnicas agora retiradas da televisão ou do cinema, como a pós-produção de som, são utilizadas na rádio, melhorando a qualidade dos seus programas graças à facilidade de montagem não linear que os computadores permitem. Mais uma vez, a técnica de execução pode ser variada e o ritmo é melhor administrado. O áudio pode ser manipulado criando novas soluções sonoras. Com isso, a agilidade e o controle da mensagem são recuperados.

Os computadores estão, portanto, a tornar a rádio mais ágil, dinâmica e versátil. Permitem a automação da transmissão por longos períodos de tempo e com alta qualidade. Possibilitam o armazenamento e organização dos ficheiros de som em menos espaço e, consequentemente, o seu acesso é mais rápido e eficiente (a peça sonora pode vir por rede telemática do próprio produtor ou terminal do programador). E, claro, o acesso à informação é quase instantâneo, tanto na preparação do programa quanto na transmissão.

Mas não só a revolução digital ocorreu no campo das baixas frequências (estúdio de som): também na parte da radiodifusão (alta frequência) a revolução digital está a começar (tropeções, zig-zags, correções e… desistências).

Quem, como eu, trabalhou com fitas magnéticas, lamenta não ter disposto das ferramentas atuais para ter tido a vida mais facilitada.

A verdade é que a rádio tem acompanhado as evoluções tecnológicas. O multiplex[1], a miniaturização dos recetores, a diversificação das fontes de energia, a modulação de frequência e a melhoria substancial do conforto de escuta. A atualização tecnológica transformou a rádio num meio de grande mobilidade, de maior proximidade do ouvinte e de maior economia para o consumidor. O transístor foi uma invenção determinante para isso.

O equipamento digital dos estúdios, o som estereofónico e o Radio Data System, RDS, transforma a escuta radiofónica dos anos 90.

A RDP participou nos grupos técnicos da UER, encarregados da definição e do desenvolvimento do RDS, tornando-se assim uma das primeiras estações europeias a introduzi-lo nas suas redes de emissores (em setembro de 1988 na ANTENA 1).

 Rádio Digital

Na minha tese de doutoramento, no ano 2000, afirmava

“Dentro do crescimento em importância da rádio, não custa prever que, com o advento do Digital Audio Broadcasting (DAB), se venha a verificar nos próximos 10 a 15 anos um deslocamento da audiência do FM para o DAB, à semelhança do que ocorreu ao longo da década de 70 com a preferência progressiva do FM em relação à AM.”

A primeira referência sobre o estudo da possibilidade de emissões digitais localiza-se no Reino Unido. Em meados dos anos 70, o gabinete de pesquisa de engenharia da BBC desencadeou uma investigação sobre a possibilidade de digitalização da rádio através de um sinal NICAM stereo. Já aí foi constatado que a receção por meio de uma antena direcional em postos fixos era relativamente boa. O problema residia nas interferências que afetavam o sinal digital quando o recetor se deslocava de automóvel. A conclusão a que os engenheiros chegaram foi que um tão "simples" sinal digital como o do sistema NICAM, só podia ser usado em relação a recetores fixos dotados de antenas direcionais (como é o caso do som NICAM TV).

A rádio digital surge nos Estados Unidos em 1 de agosto de 1986. Foi a emissora WGBH-FM de Boston que, naquela data, começou a emitir a programação em formato PCM (Pulse Code Modulation) utilizando como portadorauma frequência de televisão da estação WGBX-TV da mesma rede e em simultâneo com as emissões analógicas de rádio. Embora naquele momento não tivesse consciência do grande passo que estava a ser dado, aquele formato foi utilizado durante anos para codificar digitalmente a banda sonora dos sinais de televisão. Ficou logo aqui patente o grande defeito dos sistemas digitais desenvolvidos nos anos oitenta: ocupavam um espaço excessivo num espectro radioelétrico já saturado

Em 1 de agosto de 1986, o primeiro experimento de transmissão de rádio digital foi realizado por uma estação de rádio e televisão. A partir desse momento, entra em cena o DAR (Digital Audio Radio), também conhecido como radiodifusão digital ou DAB. (Pohlmann: 2002). As primeiras transmissões digitais na Espanha começaram em abril de 1998 em Madrid, Barcelona e Valência. Atualmente existem serviços no País Basco, Catalunha e Galiza. A rádio digital transmite um sinal de rádio AM ou FM em formato digital, o que evita problemas de interferência e permite uma qualidade comparável ao disco compacto (CD). Além do áudio, essa forma de transmissão possibilita a inclusão de outros dados auxiliares como gráficos, texto e vídeo.

O DAB, por seu turno, começou a ser desenvolvido sobretudo, em França, pelo Centre Commun d’Études de Télédiffusion et Télécommunications (CCETT) e, na Alemanha, no Institut für Rundfunktechnik (IRT) no ano de 1981. Após a reunião interministerial de Estocolmo, em 1986.

O marco seguinte situa-se por alturas da realização da WARC (World Administrative Radio Conference), em 1988. Por iniciativa da UER teve lugar a primeira demonstração do DAB para equipamentos recetores móveis.

1989 conhece, de novo em Genebra, uma outra experiência de emissão e receção de DAB, por alturas do First World Electronic Media Symposium ITU-COM (89).

Os anos de 1993 e 94 refletiram nos radiodifusores e nos fabricantes de equipamento o pessimismo gerado pela crise económica que se tinha instalado no início da década de 90 (aliado ao facto de a Alemanha ter tido de fazer face à grande prioridade da reunificação do país).

O 10º Meeting of WorldDAB (Module 3) tinha lugar em Genebra, a 9 de junho de 1998, sendo aproveitado para a realização de demonstrações públicas de DAB. O mesmo aconteceu em Lisboa por ocasião da Expo98.

Desde o início desta corrida, instalou-se um processo de rejeição, reforçado pelos Estados Unidos não aceitarem a solução europeia. Os principais fabricantes de dispositivos não chegaram a acordo sobre os tipos de descodificadores, e os radiodifusores privados viam os seus interesses serem afetados com as alterações que o DAB implicava.

Na verdade, a rádio digitalizada que passa ao lado de toda esta polémica, muito mais barata em custos de produção, estrutura comercial e que também tem milhões de ouvintes em potencial está na Internet.

Consultei o site https://www.internetworldstats.com/news.htm#radiotv

Tomei consciência da grandeza da situação. Assim, a TuneIn fornece aos ouvintes acesso a mais de 100.000 estações de rádio reais e mais de quatro milhões de podcasts em streaming de todos os continentes.

O Streema é um sintonizador de rádio online gratuito. Dá para ouvir mais de 70.000 estações de rádio e assistir a mais de 10.000 estações de TV.

A https://www.radioguide.fm/, fornece links para estações de rádio da Internet de todo o mundo.

A https://www.accuradio.com/ disponibiliza mais de mil estações de rádio grátis na Internet.

Esta realidade não passou pelo imaginário de quem, como eu, lidou sempre com limites de espaço, de tempo e de meios tecnológicos.


Reflexões vertidas para aulas por
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa


[1] Multiplex é a combinação num bloco de frequências de vários serviços de programas e até de serviços auxiliares.

A rádio no contexto da comunicação multiplataforma

 

A rádio no contexto da comunicação multiplataforma


Mariano Cebrian Herreros foi um dos meus professores no Curso de Doutorado que completei na Universidade Pontificia de Salamanca. A sua obra é extensa e de indispensável consulta por quem se interesse pelo audiovisual. O balanço que faz sobre a convergência mediática abre ampla perspetiva sobre um ambiente em acelerada inovação e reformulação. Neste trabalho, Mariano convida-nos a penetrar no contexto da inserção da rádio no atual ecossistema comunicativo, analisando as suas especificidades e adaptações.

A rádio atual ampliou o seu campo comunicativo próprio e entrou na disputa num conjunto complexo de plataformas comunicativas. Já não se pode examinar estas mudanças sem considerar as transformações internas e o grande desenvolvimento dos demais meios e serviços com que tem que estabelecer relações tensas de readequações para manter a sua implantação na sociedade. A rádio integra um ecossistema comunicativo em constante mutação, complexo e com adaptações.

Dentro desta complexidade os meios de comunicação e serviços congregam-se em unidades organizativas superiores. Já se ampliou a conceção de agrupar muitos meios nacionais e internacionais a uma organização mediante as grandes plataformas de comunicação. Plataformas com capacidade de congregar todos os meios de comunicação existentes, gerar outros e estabelecer novas relações entre elas. A rádio tradicional, concebida nas redes hertzianas, teve um desenvolvimento particular, ampliou o seu campo com a incorporação do FM e acrescentou às suas programações generalistas as ofertas especializadas por temas, por destinatários e por territórios. Posteriormente colocou-se nas redes de cabo e satélite em alguns países de maneira exclusiva e em outros ligadas com outros meios, como a televisão ou a telefonia. Deste modo, desenvolveram-se as três plataformas clássicas de difusão: ondas hertzianas, cabo e satélite com modelos fundamentalmente unidirecionais, salvo o caso da rádio, já que graças às suas ligações e alianças com o telefone sempre teve uma maior abertura ao diálogo direto com seus seguidores.

Durante a última década duas novas plataformas entraram em funcionamento, a internet e a telefonia móvel com uma ampla diversificação de subplataformas, as quais transformaram radicalmente o sistema comunicativo em geral e o da rádio em particular, o que criou um ecossistema comunicacional inovador, em permanente mudança e no qual as alterações de um de seus componentes repercutem nos demais.

Cebrián tem opinião sobre os “futuristas” que dão por mortos os meios de comunicação: média impressa, rádio e televisão, mas se esquecem de dizer que se tratam dos meios massivos, além de outros elementos que permitem a eles transformar-se e sobreviver. O importante não é o desaparecimento de determinados suportes, mas a continuidade do que cada um acrescenta como seu. É possível que a média impressa desapareça, mas o jornalismo escrito sobreviverá; é possível que as ondas hertzianas percam tanta audiência que se tornem irreconhecíveis como emissoras de rádio, mas o consumo de documentos sonoros, música e informação oral sobreviverá; é possível que a televisão generalista seja deslocada pelo público entusiasmado por conteúdos muito específicos, mas serão mantidas as transmissões ao vivo de grandes eventos, a informação audiovisual, a ficção e o entretenimento. A tecnologia é importante não como mero suporte de produção, registo, distribuição ou receção, mas porque introduz outras variáveis comunicativas, promove outros conteúdos e emprega outras linguagens de acordo com o grupo de usuários, com seus territórios e com cada período. Muda a tecnologia, renova-se a sociedade, modificam-se os gostos, mas prevalece a comunicação mediada pela inovação tecnológica entre os membros da sociedade.

Seguindo este investigador, a rádio entrou numa fase de transição permanente pela aceleração da tecnologia. Não se vislumbra um ponto de chegada fixo. Antes a FM foi introduzida e houve um tempo para sossegar, ensaiar, depurar e permanecer. Agora a internet penetra e tão logo experimentou uma oferta e imediatamente apareceram outros desenvolvimentos nela que superam a conceção ciber-radiofónica para iniciar outras modalidades comunicacionais sonoras. A oferta atual da internet mudou em relação aos últimos anos. Agora estabelece-se o início da rádio móvel, mas não se conhece o seu projeto de futuro.

A rádio é a transformação da tecnologia em sons. A rádio nasceu como tecnologia, é tecnologia e continua a ser tecnologia. Não pode prescindir dela ou deixa de ser rádio. Empregou e continua empregando a tecnologia velha ou tradicional, as inovações que se produzem e se situa na vanguarda com a tecnologia de ponta.

Mas a tecnologia pela tecnologia não tem sentido. A mediação técnica não é puro instrumento. É um processo comunicacional. A técnica interessa enquanto adquire capacidade para gerar novos símbolos e outras formas de expressão e transmissão de significados.

A terceira grande transformação tecnológica e comunicacional da rádio ou o enquadramento histórico de Cebrián Herreros, explicando que a rádio empreendeu a terceira transformação, depois da primeira da década de 40-50 baseada nos contributos dos transístores, gravadores magnéticos, frequência modulada e estereofonia e a segunda da década de 80-90 da digitalização e convergência dos meios (CEBRIÁN, 1994, pp. 151-168). A terceira transformação produz-se pela presença das plataformas de internet e telefonia e a convergência das plataformas anteriores com as novas até gerar o ambiente multiplataforma atual. Passa-se da convergência de meios ou multimédia à convergência multiplataforma. Nasce uma nova conceção comunicacional interativa em que predominam, além das contribuições específicas de cada uma, as sinergias, inter-relações e ligações entre elas para explorar os meios, conteúdos e serviços com orientações de adaptação e criação de outras linguagens em que a navegação, hipertextos e interatividade se situam como eixos para o avanço.

Evidencia-se que o radiofónico se assemelha ao impresso, à televisão, ao cinema quando todos utilizam uma linguagem digital comum, mas cada um deles oferece o final do processo uma linguagem reconhecível pelos usuários. As linguagens utilizam os símbolos para representar a realidade. O digital, afinal, termina também sendo necessariamente analógico para que seja compreendido pelos sentidos do ser humano e sem os quais não poderia haver um conhecimento da sua realidade externa e não haveria um processo de conhecimento sequer.

Aprecia-se, então, uma convergência tecnológica, mas mantém-se a divergência expressiva de cada uma das linguagens e das formas expressivas utilizadas. A linguagem tecnológica potencializa e enriquece a linguagem expressiva e estética. Não existe oposição nem contradição alguma, ao contrário.

A edição apresenta outras potencialidades de tratamentos conhecidos como de pós-produção. Introduz uma linguagem digital para transformar e editar sons previamente registados ou gerar de maneira sintética outros novos, mediante a acusmática.

A difusão expande-se e converte-se em compartilhamento bidirecional entre usuários. As telecomunicações, que propiciam os processos de difusão tecnológica dos meios eletrónicos tradicionais, convergem com a informática para propiciar os tratamentos automáticos e origina a telemática, uma inovação tecnológica que transcende a convergência e que vai além da união num acrónimo original para contribuir para as redes de comunicação de ida e volta transformadoras das relações entre os usuários ao fomentar a mudança de papéis dos emissores e recetores tradicionais.

O telefone constituiu-se na tecnologia mediática de maior transformação para a rádio não sob o ponto de vista da convergência tecnológica entre dois meios, mas na perspetiva de mudança comunicativa. É a tecnologia que transforma a radiodifusão numa autêntica radiocomunicação. Incorpora-se uma enorme capacidade de diálogo, de comunicação horizontal e, em suma, de geração de uma cultura do diálogo, que é a que lhe permitiu em todo momento estar situada na vanguarda da participação e presença da audiência nos conteúdos radiofónicos com seus telefonemas, perguntas, propostas, informações, opiniões.

A rádio esteve sempre ligada ao telefone tanto para a produção: linhas de conexão entre emissoras para se organizarem em cadeia, o duplex e o multiplex, como para a transmissão. As inovações telefónicas foram sendo incorporadas para estabelecer uma conversa e incentivar as votações dos seguidores. É uma convergência inseparável na rádio atual tanto da tradicional como da cibermediática e da telefonia móvel em que todo o processo técnico-comunicativo junto às suas consequências se baseia na mediação telefónica de pleno intercâmbio de comunicações entre os usuários.

As emissoras desenvolveram novos serviços interativos através dos telefones fixos mediante números com prefixos diferenciados pela tarifação para os quais os usuários telefonam.

As plataformas tradicionais perdem valor à medida que outras ofertas fragmentam os mercados. A limitação do espaço radioelétrico, a necessidade de licença e o elevado custo de manutenção da rede na plataforma perdem no confronto com a internet que tem como limite apenas a capacidade do cabo que se emprega e da largura de banda com que se queira transmitir. Os usuários acedem aos conteúdos sem restrições, nem intermediação alguma.

Com a rádio tradicional emerge a ciber-rádio e a rádio móvel. O desenvolvimento técnico-mediático produz-se em várias fases. A primeira constitui-se pela consideração da nova tecnologia como um mero instrumento de radiodifusão. A rádio tradicional utiliza a internet como outro suporte de difusão. A segunda incorpora certas adaptações à nova tecnologia e nascem outras iniciativas, mas copiando a anterior. A rádio tradicional adapta algumas das possibilidades da internet: fragmentações de programação, inclusão de processos de interatividade e diálogo entre a emissora e os usuários com sistemas eletrónicos, chats, fóruns. A terceira compreende uma proposta original muito diferenciada no seu tratamento em relação à anterior. São geradas novas opções: interatividade entre usuários, ligação a redes sociais, versões diferenciadas para cada inovação. Em alguns destes casos já se discute sobre se pertencem à perspetiva do radiofónico ou se se criam meios sonoros diferentes. Neste momento e até que não existam ruturas claras é preferível continuar falando de extensões da rádio e da ciber-rádio (CEBRIÁN HERREROS, 2009, pp. 11-23).

São três fases de desenvolvimento progressivo. A presença de uma fase posterior não elimina as anteriores. Da mesma maneira, pode-se considerar como na internet se mantém a função instrumental de radiodifusão da programação da emissora matriz de forma simultânea.

Algo similar acontece na plataforma de telefonia móvel. Ela ainda se encontra na transição da primeira para a segunda fase, do uso instrumental às adaptações, sem que apareçam, ainda, inovações realmente diferentes e originais em relação à ciber-rádio.

Este processo observa-se nas inovações mais avançadas. Ainda existem emissoras de rádio que não passaram da etapa inicial. Por isso deve-se examinar a evolução de cada emissora em particular para compreender em que situação realmente se encontra e quais suas contribuições originais em relação às demais ciber- rádios.

Sou de opinião que o que Paula Cordeiro concluía no seu trabalho de 2003 se mantém perfeitamente atual.

“Portugal apresenta um panorama que revela uma ideia de transição de paradigma comunicacional que respeita aos conceitos de consensos, dialogismos e interatividade, expostos na aceção do carácter monológico – dialógico que tem traduzido a evolução da comunicação radiofónica. A fase que atravessamos é ainda de transição, entre uma condição dialógica e outra, manifestamente interativa, com as hesitações de percurso inerentes à passagem da palavra analógica para a conceptualização de um modelo plenamente interativo e digital que se traduzirá num novo desenho do panorama mundial, pela implementação de um novo sistema de conceção, produção, difusão e receção da comunicação radiofónica.”

Mais recentemente, em 2018, num trabalho centrado na Rádio Fundação de Guimarães, Ana Isabel Araújo, chegava à conclusão de que o aparecimento da internet não reconfigurou a relação entre a rádio e ouvintes.

“O fraco investimento que a Fundação fez nas suas plataformas digitais, como as redes sociais ou o site, foi bastante percetível através da análise realizada aos mesmos, bem como nas entrevistas e observação direta. Significa que a emissora ainda não reconheceu verdadeiramente a importância do online e prefere continuar a utilizá-lo apenas como um complemento”.

As experiências vão-se sucedendo numa variedade desafiante da imaginação dos radialistas. Um vetor parece ter o caráter determinante do que é indispensável: a voz.

Uma das minhas melhores alunas, hoje doutorada, a Nair Moreira da Silva[1], expressava com clareza uma evidência que devia ser óbvia no ambiente rádio:

          A voz humana continua a ser o único laço afetivo, numa rádio que encerra um modelo demasiado concentrado em playlists, sem explicações e sem intimidade, ao admitir uma nova conceção estética que desenvolva uma cumplicidade que estimule a criação e participação e envolva sensorialmente o ouvinte e com ele crie um vínculo intenso e duradouro. A principal conclusão a tirar desta dissertação é que na Internet a rádio perde a sua identidade, já que a sua especificidade é quase toda ela eliminada ao apresentar-se em sites multimédia idênticos aos sites de milhares de outros órgãos jornalísticos. A voz humana, quando é intimista, emerge desse cenário, no entanto, como o elemento identitário radiofónico pode possibilitar à rádio na web um reencontro parcial com essa sua identidade perdida.”

Por tudo isto, insisto: “Na rádio a voz é a matéria-prima dos seus profissionais e o veículo facilitador da identificação da estação de rádio”. Tanto nas ondas hertzianas como nos traços digitais.

 “As vozes chamam a atenção dos ouvintes, sinalizam as mudanças de assunto e a procedência das notícias, informam sobre a identidade e o contexto.”

Continuo a entender que a voz é razão de ser da rádio. Por isso há que tratá-la bem e ser exigente quanto à sua qualidade nos quatro fatores: intensidade, volume, intervalo (pausas), ritmo.

 

 

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa



[1] A RÁDIO E A WEB - UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS RÁDIOS DE INFORMACAO NACIONAIS E A BBC RADIO

A linguagem jornalística: a expectativa do destinatário

 A linguagem jornalística

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

Para Núñez Ladevéze, ser jornalista é adestrar-se no conhecimento prático de um ofício.
Para conseguir isto, o jornalista vale-se de regras práticas, não normativas, que implicitamente se adquirem no decurso da profissão.

Três planos na actividade jornalística.
O plano contextual
Plano textual
Plano estilístico

O plano contextual
O jornalista actua como intérprete da actualidade e elabora uma série de juízos ou decisões que têm por objecto identificar os acontecimentos susceptíveis de ser notícia.
Esta actividade compreende vários tipos de selecção pois é preciso identificar as notícias, seleccionar os dados e comparar umas notícias com outras.

O plano textual
Os dados contidos numa notícia têm de ser tratados de acordo com as suas linhas textuais;
o jornalista organiza o acontecer no texto informativo.
Uma notícia é um tipo de texto que se distingue de outras espécies de textos;
as notícias têm títulos, parágrafos de entrada e uma ordem estabelecida dos dados.
A palavra “texto” entende-se num sentido amplo já que aplica estas mesmas regras a um texto audiovisual ou escrito pois as notícias são uma complexa unidade intertextual de informação em que se organiza a relação entre diferentes textos informativos.

O plano estilístico
São as propriedades expressivas específicas que distinguem um texto informativo de outros tipos de textos.
Também compreende o estilo particular dos diferentes géneros jornalísticos.
A função do jornalista na nossa sociedade é defendida por Nuñez Ladevéze pela necessidade dos cidadãos de saberem o que acontece ou o que pode acontecer e o jornalista é o profissional intermediário que se encarrega de elaborar a informação.
O jornalismo de qualidade guia-se pelo interesse do público.

O contexto jornalístico
O jornalista é um intérprete da actualidade e segue certas regras para a selecção, avaliação e apresentação das notícias, por isso, não estranhamos que a maioria dos acontecimentos destacados sejam os mesmos em todos os meios de comunicação.
Aceitamos passivamente a informação que nos oferece um jornal ou um telejornal sem dar conta de que se trata de um produto textual muito complexo, criado por alguém através da aplicação de certas regras fixas.

O jornalista é um intérprete do contexto, da actualidade

Como intérprete da actualidade ou informador, pode ajustar-se a diferentes graus ou níveis interpretativos (seguindo H. Borrat e L. Gomis):
textos informativos, textos interpretativos e textos de opinião.
Esta variedade de possibilidades consegue que, além de serem considerados meios de informação, sejam também meios de formação de opinião.

Dois tipos de regras
Há dois tipos de regras profissionais que os jornalistas aplicam na elaboração dos seus produtos, são as regras técnicas e as regras deontológicas.
As regras técnicas são as normas textuais que se aplicam para que o produto sirva a função social de informar.

As regras deontológicas são contextuais e referem-se aos critérios de valor a que tem de desempenhar a função social de informar.
O consumidor da informação deposita a sua confiança no informador que assume o compromisso de fazer as coisas segundo critérios profissionais e aplicar certas regras ao elaborar a informação.
O cumprimento das regras deontológicas é graduável.
A veracidade da informação não põe em jogo a sua verdade, sem que a notícia seja confirmada; por outro lado, a imparcialidade a que o jornalista também é obrigado é uma aspiração que admite graus.

Por exemplo, a tarefa de informar tem de ser neutral, mas a informação não é neutral.
Assim se entende a função dos gabinetes de imprensa de algumas empresas ou instituições;
a sua missão não consiste em servir os interesses do público, mas os da instituição a que pertence.
Embora utilize as regras técnicas de produção jornalística, a sua missão é uma missão subsidiária do jornalista a quem fornece (ou tenta ocultar) a informação.

Géneros jornalísticos

Núñez Ladevéze define o jornalista como um profissional especializado na interpretação do acontecer, cujo ofício consiste em distinguir e relacionar os factos que têm importância para a vida colectiva.
Há outros profissionais dedicados a interpretar a realidade social (os políticos e os sociólogos), mas o jornalista tem o seu modo característico de fazer e relacionar, tem de se habituar a identificar as subtilezas e matizes que o ajudem a relacionar acontecimentos passados com os presentes e prever o curso dos acontecimentos no futuro.

A função informativa do jornalista
Para seleccionar uma notícia, o jornalista tem que interpretar segundo os critérios de interesse do público, interesse psicológico, o ambiente local, a periodização temporal e o interesse temático.
A função informativa do jornalista separa-se nitidamente das suas opiniões pessoais.
Esta ideia base do jornalismo tem de ser ponderada, já que não existe função informativa que não inclua algum tipo de apreciação subjectiva de critério interpretativo (o próprio facto de seleccionar uma notícia e não outra é um tipo de interpretação).

A objectividade do jornalista assenta nas regras técnicas que exige o conhecimento da sua profissão para seleccionar e apresentar a informação.
O jornalismo adapta-se socialmente aos interesses dos seus destinatários não por interesses particulares (excepção feita aos gabinetes de imprensa).

A prática profissional salienta três tipos de géneros jornalísticos

1) de informação, que dá lugar ao jornalismo informativo que tem por objecto a informação de actualidade.
2) de interpretação, jornalismo interpretativo que é um modo de aprofundar a interpretação, relacionando a informação da actualidade com o seu contexto temporal e espacial
3) e de opinião, jornalismo de opinião em que a reunião de dados é subsidiária, o primordial é a tomada de partido do jornalista e a atitude apelativa .

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