Quando tive de substituir José Mário Branco, em 1960

 




Quando tive de substituir José Mário Branco, em 1960

Em finais de 1960, começava a minha vida profissional como locutor, na Rádio Porto. Era uma das estações compunham os Emissores do Norte Reunidos. Tinha acabado o meu trabalho quando o António Miranda me veio dizer que tinha de continuar a emissão porque o Zé Mário ainda não tinha chegado.

O José Mário Branco era locutor da ORSEC, outra das componentes dos ENR. Éramos os dois muito jovens, 18 anos, e as nossas conversas apontavam para mudar o mundo. Tive pena de interromper ali as nossas conversas como participantes/autores de programas de rádio que, naquele tempo, era um meio de comunicação tão importante que entrava nas casas das pessoas sem pedir licença. Muito apreciado pelas famílias que quase lhe davam lugar de "santuário" nas suas casas, embora a televisão começasse a apeá-la do "altar".

O Zé Mário tinha partido para França, evitando a obrigatoriedade do serviço militar e a sequente mobilização para a guerra colonial. Coragem que eu não tive.

Encontrámo-nos, de raspão, logo a seguir ao 25 de Abril de 74. Depois, continuei a passar as músicas que o seu génio criava. Ele, Adriano, José Afonso, Fausto (e poucos mais) tinham presença obrigatória nos meus programas.
José Mário Branco mostrava já, quando fomos colegas na rádio, que a eufonia revestia (preenchia) a voz que dava força e intenção à expressão. Sei que ele vai detestar estas linhas porque nunca aceitou elogios, honrarias e, muito menos, manifestações de saudade do tempo passado.
 
A minha intenção é, simplesmente, agradecer o convívio (breve) mas, sobretudo, o talento que esbanjaste sobre todos nós.

Até sempre


Rui de Melo

Novembro de 2019


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