Alfredo Alvela, dos
mais criativos de Rádio que conheci
Conheci Alfredo Alvela, no início dos anos 50, ainda no
Electro-Mecânico. Em 1957, passou a integrar os quadros do Rádio Clube
Português no Porto como locutor. Em 1963, passámos a ser colegas na Delegação
do Norte do RCP. Senhor de voz privilegiada, era criativo e possuía um grande
poder de improviso. Com ele aprendi que “o melhor improviso é o escrito”. Ou
seja, cada reportagem em direto deve ser devidamente estudada, preparada e
devemos ter sempre à mão elementos auxiliares de memória para que não haja
hiatos na narração. Ficou famosa a sua reportagem a bordo do Gil
Eanes acompanhando a saga da pesca do bacalhau.
Com ele partilhei reportagens que marcaram aquele tempo. A
inauguração da ponte da Arrábida e da ponte de Amarante, e a visita ao Porto do
presidente brasileiro Juscelino Kubitschek. Acompanhou a digressão do Orfeão
Universitário do Porto aos Estados Unidos (1968).
Alvela, além de excelente na cabine, animando uma emissão, era
um repórter de referência.
Enquanto em Lisboa; Aurélio Carlos Moreira alimentava a
ideia do Passatempo para Jovens, no Porto, Alvela, com Humberto Branco, também
de Rádio Clube Português, criava o programa Clube da Juventude (22:30-00:00),
com a frase “Em cada jovem há um homem, em cada homem houve um jovem; mantém em
ti o jovem” a acompanhar o indicativo do programa. O “Clube” transformou-se num
centro de debate cultural de literatura, artes plásticas, filatelia, jazz,
aviação, poesia, cultura física, música de concertos e participação de ouvintes
através de cartas.
Com Alfredo Alvela e Eugénio Alcoforado, participei em programas
culturais criados por Maria José Teixeira de Vasconcelos (descendente de
Teixeira de Pascoais) como a Paisagem Intelectual ou “Os grandes esquecidos”. Com
ele participei num programa de referência da época, o PBX, realizado por Carlos
Cruz e Fialho Gouveia,
Um conflito com a direção, afastou-o do Porto e levou-o para
Lisboa. A sua atividade passou a centrar-se, exclusivamente na informação. Alfredo
Alvela acabou a sua vida profissional no Porto. Era eu diretor da Delegação da
RDP no Norte, no fim da década de 80, quando me veio pedir “abrigo político”
por desajustamentos laborais em Lisboa.
Contra o parecer da administração, achei por bem acolhê-lo.
Pensava que era possível combater a instabilidade emocional que, por várias
razões, o abalou. Não foi. Mas para mim há-de ser sempre uma referência
profissional com quem muito aprendi.
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad
Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do
Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando
Pessoa
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