Respiração, Expiração e Exercícios

 

Respiração, Expiração e Exercícios

 

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

Existem várias maneiras de respirar: respiração alta ou torácica, respiração média ou intercostal, respiração baixa ou abdominal, diafragmática. Vejamos agora qual é a melhor maneira de respirar.


1. A respiração alta ou torácica faz com que os ombros e o tórax se levantem, contraindo assim o abdómem que, por sua vez, choca contra o diafragma; pelo que este não se poderá expandir livremente, este sistema requer um máximo de esforço por um mínimo de benefício.

A respiração alta é provavelmente o pior método de respiração.

2. A respiração média ou intercostal é um sistema que faz com que o diafragma suba, que o abdómen se contraia e que o peito se dilate parcialmente. Este modo de respirar é muito comum e presta-se a confusão, já que o estudante instrumentista facilmente o confunde com a respiração abdominal ou diafragmática.

Atenção:

A respiração chamada abdominal não é correta; é o resultado de um treino erróneo e um esforço exagerado da respiração. Consiste em contrair o diafragma até ao exagero, pressionando assim a massa intestinal. Como esta pressão não se pode exercer sem que o estômago se pronuncie de uma maneira exagerada, confundiu-se com as causas e este modo de respiração foi qualificado como abdominal.

A inspiração costo-diafragmática é, sem dúvida alguma, a melhor de todas. Ela faz com que os pulmões se encham a todo a largura e comprimento.

Vejamos, pois, como se pode chegar a dominar a respiração.


Expiração

A expiração é por si mesma simples; em princípio devemos notar o que se sente ao inspirar, controlando que a garganta mantenha sempre a mesma abertura e que o som produzido seja sempre grave como ao inspirar; pronunciando sempre a vogal "A".

Em conclusão a inspiração e a expiração devem produzir o mesmo som grave.

A expiração deve ser lenta e contínua, que não haja espaço entre a inspiração e a expiração, quando expire imagine que a coluna de ar continua a descer em lugar de retornar para ser lançada.

Nota:

Uma vez tomado o ar por meio da inspiração grave; mantenha uma pressão exterior mediante o ponto chamado esterno e, em seguida, solte o ar lentamente sem relaxar a pressão do esterno, esta pressão é relativa de acordo com a situação.

Para um registo grave será menor a tensão do que para um registo médio e o mesmo para um registo agudo, a tensão será maior do que para o registo médio.

Esta pressão ou tensão do esterno para fora deve ser sem rigidez ou dureza. Não se esqueça que o corpo deve permanecer sempre flexível.

Exercícios preliminares de respiração

   


                                                                          

 

Tome, lenta e profundamente, o ar pela boca, mediante a pronúncia da vogal "O"; logo, no final, abre-se a garganta pronunciando a vogal "A". O som que isso produz deve ser grave e profundo; logo tomamos consciência de que o ar se dirige para a parte inferior dos pulmões a partir das costelas inferiores “note-se que a expansão se faz lateralmente e não abdominalmente e controle o tórax para não inflar e que os ombros não se levantem”. Quando trabalhe este exercício pratique-o pensando em bocejar; isso é inspirar com a sensação de bocejar para dentro.

Posição sentada

Sente-se na beira de uma cadeira, sem encostar nas costas, cruzando os dedos até que as palmas das mãos se encontrarem. Imediatamente, dobre os braços até tocarem na caixa torácica. Preste atenção para fechar os antebraços para que os cotovelos enviem o ar para a parte interna dos pulmões (não levante os ombros nem deixe inflar a caixa torácica).

Inspire devagar e não faça pausas entre inspiração e expiração.

Posição de pé:

 

Coloque as mãos à altura dos quadris, colocando o polegar sob as costelas inferiores e o resto da mão, o mais para diante possível; imediatamente dobre o tronco, que forma um ângulo debaixo das costelas inferiores e o resto da mão, em seguida dobre o tronco, que este forme um ângulo reto com as pernas; Uma vez adquirida esta posição respire pela boca tendo em conta como no exercício precedente de mandar o ar para a parte inferior dos pulmões.

Repita o mesmo exercício várias vezes em posições diferentes (para cima e para baixo), não se esqueça de concentrar a capacidade de armazenamento de ar das costelas inferiores de um movimento costo-diafragmático (faça lentamente estes exercícios)

Estes exercícios devem ser praticados todos os dias; o neófito pode, assim, controlar o seu progresso de uma maneira racional.

Exercício Nº 1

Pegue um lápis com a ponta entre os lábios e feche-os firmemente com o fim de manter o lápis perpendicular ao rosto o máximo tempo possível (máximo de 5 segundos). Não use os dentes para segurar o lápis, são apenas os lábios que devem funcionar; descanse um pouco após cada exercício, uma vez que estes causam fadiga nos músculos faciais, faça isso várias vezes e em momentos diferentes do dia, observe que para que este exercício seja eficaz, deve-se tomar a mesma posição que é usada com o bucal. Com este exercício tentamos evitar vazamentos de ar entre os lábios, bem como pelos lados do bucal (cantos dos lábios).

Exercício nº 2

Pronuncie a letra I - U exagerando a pronúncia e sem emitir som, faça isso várias vezes ao dia. É importante fortalecer e desenvolver a força e a resistência dos músculos dos lábios, uma vez que estes desempenham um papel muito importante no domínio do instrumento.

 

Exercício nº 3

Os exercícios de vibração dos lábios começam pelo DO central mantendo-o em nota longa sem forçar, tente fazer escalas e arpejos.


Exercício nº 4

Pegue no bucal e produza vibrações longas, faça o mesmo do exercício anterior, escalas e arpejos.


Exercício nº 5

O grande maestro James Stamp aconselhou a praticar o seguinte exercício, pegue o polegar e o indicador com a mão direita ou esquerda, insira esses dois dedos na frente dos caminhos superiores, morda os dedos com os lábios contraindo os músculos faciais, fazem várias contrações sucessivas de 3 a 4 segundos cada, repita este exercício várias vezes ao dia.

A máscara fisiológica

(embocadura)

É primordial para o aluno ou o executante de um instrumento de sopro conhecer as funções dos músculos faciais e sabê-los empregar como máquina de pressão de ar para produzir sons.


A máscara fisiológica é todo o conjunto de músculos que rodeiam a cara partindo da base do nariz. Nesta parte encontram-se os músculos pequenos Zigomáticos, grandes Zigomáticos Risorius, orbicular dos lábios e Triângulo dos lábios. Desenvolveremos estes músculos mediante alguns exercícios de ginástica facial


 Posição dos lábios

Quando se sopra dentro de um instrumento a vento na realidade não é o ar expulso que produz o som, são os lábios que ao fechá-los um contra o outro cria vibrações obtendo assim o som.

 


Posição do bucal

Uma vez obtida a posição dos lábios, coloque o bucal instintivamente no lugar que lhe convenha; nesse sentido, existe uma regra precisa. Claro que há casos particulares dependendo da morfologia; geralmente o lugar mais confortável é o centro da boca, bem como o mais estático, mas se um aluno se sente confortável colocando o bucal para o lado esquerdo ou direito fazê-lo sem hesitar.


Ataque ou emissão

O ataque é uma emissão brusca, violenta enquanto a emissão é um ataque suave doce, ambos se originam no golpe da língua chamado TU. Esta pronunciação devemos fazê-la com fonética TI, mas a fazer o gesto de pronunciar TU para logo pronunciar TI. Os franceses e os de fala inglesa não têm este problema de fonética já que existem estes sons na sua linguagem. TU francês, Tee inglês. O TU obrigaria a usar uma boa parte da língua o que faria o ataque pesado.


A PINÇA

Chama-se pinça à posição dos lábios no momento de emitir um som, pinças fechadas ou abertas depende do registo a executar; para um registo agudo ou médio não é a mesma pinça que para registo grave.


Para o ataque usar só a ponta mínima da língua, isto é, colocar a ponta da língua atrás dos dentes superiores para logo num movimento vertical descansar na parte baixa dos dentes inferiores.


Na realidade isto é um gesto muito natural. É aconselhável não exagerar este movimento vertical, mas, pelo contrário, manter a língua no limite dos dentes superiores; desta maneira o trajeto é mais curto e quase nulo, portanto maior velocidade.

Observação: a língua não deve tocar jamais os lábios

Explicações necessárias à boa execução dos exercícios

Procurar obter a facilidade de emissão do som pensando somente no choque do ar enviado pelo instrumentista sobre o ar contido na trompete. Recordando que a língua faz função de válvula e efetua um movimento vertical. Insisto sobre este ponto.

Não é um movimento de retrocesso, é um movimento vertical. O movimento da língua para diante que precede este movimento vertical, deve fazer-se maquinalmente. Fazer de tal forma que este seja um movimento automático.

Um ponto importante: é preciso pensar em fazer vibrar o ar contido no instrumento o mais rápido possível; o resultado deve ser imediato, a sensação muito próxima dos lábios encontrando-se já um pouco o ar na cova do bocal.

Trate de obter um som puro, depois ensaie para ter um número de vibrações sobre uma nota dada, por exemplo: o DO médio, depois ao SI, pode ser que o DO seja ligeiramente opaco, nasal ou tapado. Deve-se tratar de corrigir esta falha à primeira repetição desta nota. Jamais será demasiado exigente em comparação com a redondeza, a pureza, a ressonância e qualidade do som.

 

 

 

Referências

Este artigo teve como fonte um trabalho da Rádio BETANIA:        

Http://www.radiobetania.com/portal

 

Quando tive de substituir José Mário Branco, em 1960

 




Quando tive de substituir José Mário Branco, em 1960

Em finais de 1960, começava a minha vida profissional como locutor, na Rádio Porto. Era uma das estações compunham os Emissores do Norte Reunidos. Tinha acabado o meu trabalho quando o António Miranda me veio dizer que tinha de continuar a emissão porque o Zé Mário ainda não tinha chegado.

O José Mário Branco era locutor da ORSEC, outra das componentes dos ENR. Éramos os dois muito jovens, 18 anos, e as nossas conversas apontavam para mudar o mundo. Tive pena de interromper ali as nossas conversas como participantes/autores de programas de rádio que, naquele tempo, era um meio de comunicação tão importante que entrava nas casas das pessoas sem pedir licença. Muito apreciado pelas famílias que quase lhe davam lugar de "santuário" nas suas casas, embora a televisão começasse a apeá-la do "altar".

O Zé Mário tinha partido para França, evitando a obrigatoriedade do serviço militar e a sequente mobilização para a guerra colonial. Coragem que eu não tive.

Encontrámo-nos, de raspão, logo a seguir ao 25 de Abril de 74. Depois, continuei a passar as músicas que o seu génio criava. Ele, Adriano, José Afonso, Fausto (e poucos mais) tinham presença obrigatória nos meus programas.
José Mário Branco mostrava já, quando fomos colegas na rádio, que a eufonia revestia (preenchia) a voz que dava força e intenção à expressão. Sei que ele vai detestar estas linhas porque nunca aceitou elogios, honrarias e, muito menos, manifestações de saudade do tempo passado.
 
A minha intenção é, simplesmente, agradecer o convívio (breve) mas, sobretudo, o talento que esbanjaste sobre todos nós.

Até sempre


Rui de Melo

Novembro de 2019


Como a rádio digital, começando mal, teve de acabar mal

 A propósito das patacoadas, desvarios e bambochatas a que o comum dos cidadãos já se habituou a chamar "relvadas", achei por bem publicar a obra científica por mim desenvolvida. Na linha do que se ia passando com a inovação tecnológica que irrompia, os profissionais estudiosos preocuparam-se em conhecer as virtualidades que as novas ferramentas traziam e que possibilitavam "maravilhas".

 O que aqui vai ficar exposto é só um ponto de vista, o meu, com preocupações científicas mas com uma grande carga de vida de experiência feita em 36 anos de rádio. Aquilo que nos anos 90 eu via como um renascer da rádio, tornou-se no seu grande pesadelo.
O entusiasmo das primeiros tempos enfermou do espírito de certezas absolutas de que sempre tem vivido a elite da inteligentzia europeia, que ficou muito escandalizada com a resistência que os americanos opuseram.
 Hei-de ir manifestando a minha opinião no propósito de descobrir e pôr a nu as razões do fracasso (temporário) da rádio digital. Para já fica o desencadear das hostilidades.
 Como é que é possível, em Portugal, gastar-se milhões de euros em emissores e todo o instrumental inerente e deitar tudo fora?

1. Não assistimos a uma campanha empenhada de fabrico de receptores e respectiva comercialização.
2. Porque é que a RDP, que tinha uma execução financeira impoluta, sem problemas, foi absorvida por uma empresa afogada em dívidas (a RTP)?
3. Porque é que, sendo o serviço público de radiodifusão um valor das sociedades ocidentais (com objectivos traçados em foruns internacionais como a UER, a UNESCO ou a ONU), é tão desajeitadamente abordada por gentinha que pretende travesti-la de concessão, vendê-la a retalho ou qualquer outra reservada finalidade que passa ao lado da sua razão de ser.
4. Essa gente saberá que os Estados Unidos da América também têm rádio e televisão públicas precisamente porque os privados não preenchiam necessidades de educação e formação? ("Public Broadcasting Act de 1967)
5. Garanto-vos que os americanos não estão à espera de qualquer "brilhante" decisão dos "iluminados" do nosso governo.
6. O problema RTP/RDP é muito simples de resolver. A classe dirigente é tanta e gasta tanto que há alturas em que julgo que não é só nas notícias que a pirâmide está invertida. Toda aquela organização tem o topo muito mais largo que a base. E os governos (todos) que tivemos sabem porquê. Este também. Todos os dias tenho notícia de conselheiros e supervisores que surgem do nada...

Carlos Silva – a rádio sempre gostou dele

 

 Carlos Silva – a rádio sempre gostou dele

Carlos Pereira da Silva despediu-se esta semana dos ouvintes, aos 89 anos. No final dos anos 40 apareceu no Portuense Rádio Clube, ao lado de muita gente que esteve na génese da consciência de que a rádio se faz com ouvintes.
Depressa se destacou e foi convidado a integrar a Rádio Porto, com sede na Rua dos Clérigos.
Uma estação que se caracterizava pelo seu conteúdo de música clássica e de sentido de serviço cultural. Carlos Silva lidou como poucos com esta circunstância e participou activamente numa interessante divulgação dos clássicos num público despreocupado (desconhecedor) em relação à música elaborada.
Em 1953, as várias estações radiofónicas do Porto juntaram-se num mesmo edifício e numa mesma sociedade, os Emissores do Norte Reunidos. O Portuense Rádio Clube tinha sido desactivado, a rádio dos espectáculos ao vivo desmotivou-se e criou-se um certo marasmo (disco/anúncio).
Carlos Silva foi dos primeiros a manifestar o seu inconformismo e, na sequência de uma experiência anterior fracassada, propôs o alargamento das emissões para além da meia-noite. Naquela época, partia-se do princípio que, a essa hora, estava tudo a dormir e não havia ouvintes. A empresa de então, ENR, decidiu aceitar o desafio de Carlos Silva mas teria ele que arcar com todas as despesas.
Nos anos cinquenta aparecia o primeiro programa depois da meia-noite, o “Última Hora” que, inicialmente, ia até à uma hora “da madrugada”. Surgia um estilo único de fazer rádio, com música antecipada ao lançamento no mercado. Os principais fornecedores eram Arnaldo Trindade, a Vadeca e a Rádio Triunfo que faziam questão de oferecer ao Carlos Silva os sucessos em disco antes de serem lançados no mercado (eram “as novidades”).
A publicidade usava um texto literário de extremo cuidado e bom gosto da autoria de António Leite que, mais tarde, se dedicaria à publicidade. Nunca houve mais do que um anúncio de disco para disco o que valorizava a publicidade e criava aceitação por parte do ouvinte.
Com o surgir da RTP no Monte da virgem, Carlos Silva foi dos primeiros apresentadores de programas com conjuntos musicais do Porto: Pedro Osório, Walther Beherend e vários outros.
Foi escolhido por António Mafra para apresentar os espetáculos do grupo numa digressão à América do Norte.
O programa “Última Hora” durou até 1976, altura em que os ENR foram integrados na RDP hoje, por sua vez, absorvida pela RTP.
O ambiente radiofónico tinha sofrido alterações radicais em todos os aspetos. Carlos Silva entendeu remeter-se a uma atividade discreta, nos bastidores da RDP. A confusão era muita, o oportunismo proliferava e o profissionalismo ia alterando os valores e os objetivos à medida dos circunstancialismos das conjunturas.
Contactei com vários colegas do jornalismo escrito e senti-me limitado na capacidade de esclarecer a importância de um profissional dos anos 50/60, o ato destemido de levar a rádio para além da meia-noite, a inovação que representou divulgar música em simultâneo com os mercados londrino ou parisiense a sacudidela que representou dar roupagem literária à publicidade.
Sei que a Internet pulverizou todos estes momentos. A memória da comunicação social é cada vez mais curta embora seja cada vez mais vasta. Talvez seja por isso que me sinta obrigado a contar histórias à volta da rádio que vivi como ouvinte e como profissional. Olho à minha volta e parece que só eu posso funcionar como memória viva. Por enquanto…    
Rui de Melo
30 de Outubro de 2014

HOJE HÁ COISAS

A linguagem sedutora da rádio

A linguagem sedutora da rádio Cristina Romo A rádio é o meio sonoro por excelência. É, seguindo McLuhan, a extensão da boca, da laring...

SUGESTÃO