A linguagem jornalística: a expectativa do destinatário

 A linguagem jornalística

Reflexões vertidas para aulas por

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto

Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa

 

Para Núñez Ladevéze, ser jornalista é adestrar-se no conhecimento prático de um ofício.
Para conseguir isto, o jornalista vale-se de regras práticas, não normativas, que implicitamente se adquirem no decurso da profissão.

Três planos na actividade jornalística.
O plano contextual
Plano textual
Plano estilístico

O plano contextual
O jornalista actua como intérprete da actualidade e elabora uma série de juízos ou decisões que têm por objecto identificar os acontecimentos susceptíveis de ser notícia.
Esta actividade compreende vários tipos de selecção pois é preciso identificar as notícias, seleccionar os dados e comparar umas notícias com outras.

O plano textual
Os dados contidos numa notícia têm de ser tratados de acordo com as suas linhas textuais;
o jornalista organiza o acontecer no texto informativo.
Uma notícia é um tipo de texto que se distingue de outras espécies de textos;
as notícias têm títulos, parágrafos de entrada e uma ordem estabelecida dos dados.
A palavra “texto” entende-se num sentido amplo já que aplica estas mesmas regras a um texto audiovisual ou escrito pois as notícias são uma complexa unidade intertextual de informação em que se organiza a relação entre diferentes textos informativos.

O plano estilístico
São as propriedades expressivas específicas que distinguem um texto informativo de outros tipos de textos.
Também compreende o estilo particular dos diferentes géneros jornalísticos.
A função do jornalista na nossa sociedade é defendida por Nuñez Ladevéze pela necessidade dos cidadãos de saberem o que acontece ou o que pode acontecer e o jornalista é o profissional intermediário que se encarrega de elaborar a informação.
O jornalismo de qualidade guia-se pelo interesse do público.

O contexto jornalístico
O jornalista é um intérprete da actualidade e segue certas regras para a selecção, avaliação e apresentação das notícias, por isso, não estranhamos que a maioria dos acontecimentos destacados sejam os mesmos em todos os meios de comunicação.
Aceitamos passivamente a informação que nos oferece um jornal ou um telejornal sem dar conta de que se trata de um produto textual muito complexo, criado por alguém através da aplicação de certas regras fixas.

O jornalista é um intérprete do contexto, da actualidade

Como intérprete da actualidade ou informador, pode ajustar-se a diferentes graus ou níveis interpretativos (seguindo H. Borrat e L. Gomis):
textos informativos, textos interpretativos e textos de opinião.
Esta variedade de possibilidades consegue que, além de serem considerados meios de informação, sejam também meios de formação de opinião.

Dois tipos de regras
Há dois tipos de regras profissionais que os jornalistas aplicam na elaboração dos seus produtos, são as regras técnicas e as regras deontológicas.
As regras técnicas são as normas textuais que se aplicam para que o produto sirva a função social de informar.

As regras deontológicas são contextuais e referem-se aos critérios de valor a que tem de desempenhar a função social de informar.
O consumidor da informação deposita a sua confiança no informador que assume o compromisso de fazer as coisas segundo critérios profissionais e aplicar certas regras ao elaborar a informação.
O cumprimento das regras deontológicas é graduável.
A veracidade da informação não põe em jogo a sua verdade, sem que a notícia seja confirmada; por outro lado, a imparcialidade a que o jornalista também é obrigado é uma aspiração que admite graus.

Por exemplo, a tarefa de informar tem de ser neutral, mas a informação não é neutral.
Assim se entende a função dos gabinetes de imprensa de algumas empresas ou instituições;
a sua missão não consiste em servir os interesses do público, mas os da instituição a que pertence.
Embora utilize as regras técnicas de produção jornalística, a sua missão é uma missão subsidiária do jornalista a quem fornece (ou tenta ocultar) a informação.

Géneros jornalísticos

Núñez Ladevéze define o jornalista como um profissional especializado na interpretação do acontecer, cujo ofício consiste em distinguir e relacionar os factos que têm importância para a vida colectiva.
Há outros profissionais dedicados a interpretar a realidade social (os políticos e os sociólogos), mas o jornalista tem o seu modo característico de fazer e relacionar, tem de se habituar a identificar as subtilezas e matizes que o ajudem a relacionar acontecimentos passados com os presentes e prever o curso dos acontecimentos no futuro.

A função informativa do jornalista
Para seleccionar uma notícia, o jornalista tem que interpretar segundo os critérios de interesse do público, interesse psicológico, o ambiente local, a periodização temporal e o interesse temático.
A função informativa do jornalista separa-se nitidamente das suas opiniões pessoais.
Esta ideia base do jornalismo tem de ser ponderada, já que não existe função informativa que não inclua algum tipo de apreciação subjectiva de critério interpretativo (o próprio facto de seleccionar uma notícia e não outra é um tipo de interpretação).

A objectividade do jornalista assenta nas regras técnicas que exige o conhecimento da sua profissão para seleccionar e apresentar a informação.
O jornalismo adapta-se socialmente aos interesses dos seus destinatários não por interesses particulares (excepção feita aos gabinetes de imprensa).

A prática profissional salienta três tipos de géneros jornalísticos

1) de informação, que dá lugar ao jornalismo informativo que tem por objecto a informação de actualidade.
2) de interpretação, jornalismo interpretativo que é um modo de aprofundar a interpretação, relacionando a informação da actualidade com o seu contexto temporal e espacial
3) e de opinião, jornalismo de opinião em que a reunião de dados é subsidiária, o primordial é a tomada de partido do jornalista e a atitude apelativa .

A baralhar datas se esquece a história

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Ouço a pompa e a circunstância com que a rádio da RTP fala da comemoração dos 85 anos da emissora  nacional. A EN fez parte do grupo de emissoras que foi nacionalizado e integrado na nascente RDP, em 1975.  RDP desaparecida ou absorvida na RTP. A história diz que, naquele grupo de emissoras estava o Rádio Clube Português, nascido a 21 de Abril de 1931, quase a fazer 90 anos. No entanto, quem ouve aquela rádio da RTP só ouve falar da EN. O resto não conta?  Tal como a RDP já não existe na RTP. Qualquer dia o que conta para a história é 1957, o nascimento da RTP. Com gente que renega a história tudo é possível.

Se o arquivo sonoro do RCP foi sempre desvalorizado, ainda resta o riquíssimo espólio de Igrejas Caeiro com muita coisa feita nesta estação emissora.

Se isso não bastar, recorram à cinematografia portuguesa em que o cenário não era outro senão o das instalações do Rádio Clube Português e com histórias lá vividas.

Chego à conclusão que a história também é contada por sectários.

 

Rui de Melo

Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca

e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto.

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