Dezenas de anos de rádio dão muito que contar. É o que estou a fazer. Portuense Rádio Clube, Rádio Porto, Electro-Mecânico (E. do Norte Reunidos), Rádio Alto Douro, Rádio Clube Português, Rádio Clube do Uíge, Rádio Clube de Angola, Rádio Renascença (desporto), RDP, Antena 1 e Rádio Comercial foram portos da minha viagem de mais de 40 anos pela rádio. Em 1996, optei pelo ensino superior, fazendo o doutoramento na U. Pontificia de Salamanca. Lecionei no ISCIA, em Aveiro, na ESAD, e na UFP.
Alfredo Alvela, dos mais criativos de Rádio que conheci
Alfredo Alvela, dos
mais criativos de Rádio que conheci
Conheci Alfredo Alvela, no início dos anos 50, ainda no
Electro-Mecânico. Em 1957, passou a integrar os quadros do Rádio Clube
Português no Porto como locutor. Em 1963, passámos a ser colegas na Delegação
do Norte do RCP. Senhor de voz privilegiada, era criativo e possuía um grande
poder de improviso. Com ele aprendi que “o melhor improviso é o escrito”. Ou
seja, cada reportagem em direto deve ser devidamente estudada, preparada e
devemos ter sempre à mão elementos auxiliares de memória para que não haja
hiatos na narração. Ficou famosa a sua reportagem a bordo do Gil
Eanes acompanhando a saga da pesca do bacalhau.
Com ele partilhei reportagens que marcaram aquele tempo. A
inauguração da ponte da Arrábida e da ponte de Amarante, e a visita ao Porto do
presidente brasileiro Juscelino Kubitschek. Acompanhou a digressão do Orfeão
Universitário do Porto aos Estados Unidos (1968).
Alvela, além de excelente na cabine, animando uma emissão, era
um repórter de referência.
Enquanto em Lisboa; Aurélio Carlos Moreira alimentava a
ideia do Passatempo para Jovens, no Porto, Alvela, com Humberto Branco, também
de Rádio Clube Português, criava o programa Clube da Juventude (22:30-00:00),
com a frase “Em cada jovem há um homem, em cada homem houve um jovem; mantém em
ti o jovem” a acompanhar o indicativo do programa. O “Clube” transformou-se num
centro de debate cultural de literatura, artes plásticas, filatelia, jazz,
aviação, poesia, cultura física, música de concertos e participação de ouvintes
através de cartas.
Com Alfredo Alvela e Eugénio Alcoforado, participei em programas
culturais criados por Maria José Teixeira de Vasconcelos (descendente de
Teixeira de Pascoais) como a Paisagem Intelectual ou “Os grandes esquecidos”. Com
ele participei num programa de referência da época, o PBX, realizado por Carlos
Cruz e Fialho Gouveia,
Um conflito com a direção, afastou-o do Porto e levou-o para
Lisboa. A sua atividade passou a centrar-se, exclusivamente na informação. Alfredo
Alvela acabou a sua vida profissional no Porto. Era eu diretor da Delegação da
RDP no Norte, no fim da década de 80, quando me veio pedir “abrigo político”
por desajustamentos laborais em Lisboa.
Contra o parecer da administração, achei por bem acolhê-lo.
Pensava que era possível combater a instabilidade emocional que, por várias
razões, o abalou. Não foi. Mas para mim há-de ser sempre uma referência
profissional com quem muito aprendi.
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad
Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade Católica do
Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando
Pessoa
A rádio no contexto da comunicação multiplataforma
A rádio no contexto da comunicação multiplataforma
Mariano Cebrian Herreros foi um dos meus professores no
Curso de Doutorado que completei na Universidade Pontificia de Salamanca. A sua
obra é extensa e de indispensável consulta por quem se interesse pelo
audiovisual. O balanço que faz sobre a convergência mediática abre ampla
perspetiva sobre um ambiente em acelerada inovação e reformulação. Neste
trabalho, Mariano convida-nos a penetrar no contexto da inserção da rádio no
atual ecossistema comunicativo, analisando as suas especificidades e
adaptações.
A rádio atual ampliou o seu campo comunicativo próprio e
entrou na disputa num conjunto complexo de plataformas comunicativas. Já não se
pode examinar estas mudanças sem considerar as transformações internas e o
grande desenvolvimento dos demais meios e serviços com que tem que estabelecer
relações tensas de readequações para manter a sua implantação na sociedade. A
rádio integra um ecossistema comunicativo em constante mutação, complexo e com
adaptações.
Dentro desta complexidade os meios de comunicação e serviços
congregam-se em unidades organizativas superiores. Já se ampliou a conceção de
agrupar muitos meios nacionais e internacionais a uma organização mediante as
grandes plataformas de comunicação. Plataformas com capacidade de congregar
todos os meios de comunicação existentes, gerar outros e estabelecer novas
relações entre elas. A rádio tradicional, concebida nas redes hertzianas, teve
um desenvolvimento particular, ampliou o seu campo com a incorporação do FM e
acrescentou às suas programações generalistas as ofertas especializadas por
temas, por destinatários e por territórios. Posteriormente colocou-se nas redes
de cabo e satélite em alguns países de maneira exclusiva e em outros ligadas
com outros meios, como a televisão ou a telefonia. Deste modo, desenvolveram-se
as três plataformas clássicas de difusão: ondas hertzianas, cabo e satélite com
modelos fundamentalmente unidirecionais, salvo o caso da rádio, já que graças
às suas ligações e alianças com o telefone sempre teve uma maior abertura ao
diálogo direto com seus seguidores.
Durante a última década duas novas plataformas entraram em
funcionamento, a internet e a telefonia móvel com uma ampla diversificação de
subplataformas, as quais transformaram radicalmente o sistema comunicativo em
geral e o da rádio em particular, o que criou um ecossistema comunicacional
inovador, em permanente mudança e no qual as alterações de um de seus
componentes repercutem nos demais.
Cebrián tem opinião sobre os “futuristas” que dão por mortos
os meios de comunicação: média impressa, rádio e televisão, mas se esquecem de
dizer que se tratam dos meios massivos, além de outros elementos que permitem a
eles transformar-se e sobreviver. O importante não é o desaparecimento de
determinados suportes, mas a continuidade do que cada um acrescenta como seu. É
possível que a média impressa desapareça, mas o jornalismo escrito sobreviverá;
é possível que as ondas hertzianas percam tanta audiência que se tornem
irreconhecíveis como emissoras de rádio, mas o consumo de documentos sonoros,
música e informação oral sobreviverá; é possível que a televisão generalista
seja deslocada pelo público entusiasmado por conteúdos muito específicos, mas
serão mantidas as transmissões ao vivo de grandes eventos, a informação
audiovisual, a ficção e o entretenimento. A tecnologia é importante não como
mero suporte de produção, registo, distribuição ou receção, mas porque introduz
outras variáveis comunicativas, promove outros conteúdos e emprega outras
linguagens de acordo com o grupo de usuários, com seus territórios e com cada
período. Muda a tecnologia, renova-se a sociedade, modificam-se os gostos, mas
prevalece a comunicação mediada pela inovação tecnológica entre os membros da
sociedade.
Seguindo este investigador, a rádio entrou numa fase de
transição permanente pela aceleração da tecnologia. Não se vislumbra um ponto
de chegada fixo. Antes a FM foi introduzida e houve um tempo para sossegar,
ensaiar, depurar e permanecer. Agora a internet penetra e tão logo experimentou
uma oferta e imediatamente apareceram outros desenvolvimentos nela que superam
a conceção ciber-radiofónica para iniciar outras modalidades comunicacionais
sonoras. A oferta atual da internet mudou em relação aos últimos anos. Agora
estabelece-se o início da rádio móvel, mas não se conhece o seu projeto de
futuro.
A rádio é a transformação da tecnologia em sons. A rádio
nasceu como tecnologia, é tecnologia e continua a ser tecnologia. Não pode
prescindir dela ou deixa de ser rádio. Empregou e continua empregando a
tecnologia velha ou tradicional, as inovações que se produzem e se situa na
vanguarda com a tecnologia de ponta.
Mas a tecnologia pela tecnologia não tem sentido. A mediação
técnica não é puro instrumento. É um processo comunicacional. A técnica
interessa enquanto adquire capacidade para gerar novos símbolos e outras formas
de expressão e transmissão de significados.
A terceira grande transformação tecnológica e comunicacional
da rádio ou o enquadramento histórico de Cebrián Herreros, explicando que a
rádio empreendeu a terceira transformação, depois da primeira da década de
40-50 baseada nos contributos dos transístores, gravadores magnéticos,
frequência modulada e estereofonia e a segunda da década de 80-90 da
digitalização e convergência dos meios (CEBRIÁN, 1994, pp. 151-168). A terceira
transformação produz-se pela presença das plataformas de internet e telefonia e
a convergência das plataformas anteriores com as novas até gerar o ambiente
multiplataforma atual. Passa-se da convergência de meios ou multimédia à
convergência multiplataforma. Nasce uma nova conceção comunicacional interativa
em que predominam, além das contribuições específicas de cada uma, as
sinergias, inter-relações e ligações entre elas para explorar os meios,
conteúdos e serviços com orientações de adaptação e criação de outras
linguagens em que a navegação, hipertextos e interatividade se situam como
eixos para o avanço.
Evidencia-se que o radiofónico se assemelha ao impresso, à
televisão, ao cinema quando todos utilizam uma linguagem digital comum, mas
cada um deles oferece o final do processo uma linguagem reconhecível pelos
usuários. As linguagens utilizam os símbolos para representar a realidade. O
digital, afinal, termina também sendo necessariamente analógico para que seja
compreendido pelos sentidos do ser humano e sem os quais não poderia haver um
conhecimento da sua realidade externa e não haveria um processo de conhecimento
sequer.
Aprecia-se, então, uma convergência tecnológica, mas
mantém-se a divergência expressiva de cada uma das linguagens e das formas
expressivas utilizadas. A linguagem tecnológica potencializa e enriquece a
linguagem expressiva e estética. Não existe oposição nem contradição alguma, ao
contrário.
A edição apresenta outras potencialidades de tratamentos
conhecidos como de pós-produção. Introduz uma linguagem digital para
transformar e editar sons previamente registados ou gerar de maneira sintética
outros novos, mediante a acusmática.
A difusão expande-se e converte-se em compartilhamento
bidirecional entre usuários. As telecomunicações, que propiciam os processos de
difusão tecnológica dos meios eletrónicos tradicionais, convergem com a
informática para propiciar os tratamentos automáticos e origina a telemática,
uma inovação tecnológica que transcende a convergência e que vai além da união
num acrónimo original para contribuir para as redes de comunicação de ida e
volta transformadoras das relações entre os usuários ao fomentar a mudança de
papéis dos emissores e recetores tradicionais.
O telefone constituiu-se na tecnologia mediática de maior
transformação para a rádio não sob o ponto de vista da convergência tecnológica
entre dois meios, mas na perspetiva de mudança comunicativa. É a tecnologia que
transforma a radiodifusão numa autêntica radiocomunicação. Incorpora-se uma
enorme capacidade de diálogo, de comunicação horizontal e, em suma, de geração
de uma cultura do diálogo, que é a que lhe permitiu em todo momento estar
situada na vanguarda da participação e presença da audiência nos conteúdos
radiofónicos com seus telefonemas, perguntas, propostas, informações, opiniões.
A rádio esteve sempre ligada ao telefone tanto para a
produção: linhas de conexão entre emissoras para se organizarem em cadeia, o
duplex e o multiplex, como para a transmissão. As inovações telefónicas foram
sendo incorporadas para estabelecer uma conversa e incentivar as votações dos
seguidores. É uma convergência inseparável na rádio atual tanto da tradicional
como da cibermediática e da telefonia móvel em que todo o processo
técnico-comunicativo junto às suas consequências se baseia na mediação
telefónica de pleno intercâmbio de comunicações entre os usuários.
As emissoras desenvolveram novos serviços interativos
através dos telefones fixos mediante números com prefixos diferenciados pela
tarifação para os quais os usuários telefonam.
As plataformas tradicionais perdem valor à medida que outras
ofertas fragmentam os mercados. A limitação do espaço radioelétrico, a
necessidade de licença e o elevado custo de manutenção da rede na plataforma
perdem no confronto com a internet que tem como limite apenas a capacidade do
cabo que se emprega e da largura de banda com que se queira transmitir. Os
usuários acedem aos conteúdos sem restrições, nem intermediação alguma.
Com a rádio tradicional emerge a ciber-rádio e a rádio
móvel. O desenvolvimento técnico-mediático produz-se em várias fases. A
primeira constitui-se pela consideração da nova tecnologia como um mero
instrumento de radiodifusão. A rádio tradicional utiliza a internet como outro
suporte de difusão. A segunda incorpora certas adaptações à nova tecnologia e
nascem outras iniciativas, mas copiando a anterior. A rádio tradicional adapta
algumas das possibilidades da internet: fragmentações de programação, inclusão
de processos de interatividade e diálogo entre a emissora e os usuários com
sistemas eletrónicos, chats, fóruns. A terceira compreende uma proposta
original muito diferenciada no seu tratamento em relação à anterior. São
geradas novas opções: interatividade entre usuários, ligação a redes sociais,
versões diferenciadas para cada inovação. Em alguns destes casos já se discute
sobre se pertencem à perspetiva do radiofónico ou se se criam meios sonoros
diferentes. Neste momento e até que não existam ruturas claras é preferível
continuar falando de extensões da rádio e da ciber-rádio (CEBRIÁN HERREROS,
2009, pp. 11-23).
São três fases de desenvolvimento progressivo. A presença de
uma fase posterior não elimina as anteriores. Da mesma maneira, pode-se
considerar como na internet se mantém a função instrumental de radiodifusão da
programação da emissora matriz de forma simultânea.
Algo similar acontece na plataforma de telefonia móvel. Ela
ainda se encontra na transição da primeira para a segunda fase, do uso
instrumental às adaptações, sem que apareçam, ainda, inovações realmente
diferentes e originais em relação à ciber-rádio.
Este processo observa-se nas inovações mais avançadas. Ainda
existem emissoras de rádio que não passaram da etapa inicial. Por isso deve-se
examinar a evolução de cada emissora em particular para compreender em que
situação realmente se encontra e quais suas contribuições originais em relação
às demais ciber- rádios.
Sou de opinião que o que Paula Cordeiro concluía no seu
trabalho de 2003 se mantém perfeitamente atual.
“Portugal apresenta um panorama que revela uma ideia de transição de
paradigma comunicacional que respeita aos conceitos de consensos, dialogismos e
interatividade, expostos na aceção do carácter monológico – dialógico que tem
traduzido a evolução da comunicação radiofónica. A fase que atravessamos é
ainda de transição, entre uma condição dialógica e outra, manifestamente interativa,
com as hesitações de percurso inerentes à passagem da palavra analógica para a
conceptualização de um modelo plenamente interativo e digital que se traduzirá
num novo desenho do panorama mundial, pela implementação de um novo sistema de conceção,
produção, difusão e receção da comunicação radiofónica.”
Mais recentemente, em 2018, num trabalho centrado na Rádio
Fundação de Guimarães, Ana Isabel Araújo, chegava à conclusão de que o
aparecimento da internet não reconfigurou a relação entre a rádio e ouvintes.
“O fraco investimento que a Fundação fez nas suas plataformas digitais,
como as redes sociais ou o site, foi bastante percetível através da análise
realizada aos mesmos, bem como nas entrevistas e observação direta. Significa
que a emissora ainda não reconheceu verdadeiramente a importância do online e
prefere continuar a utilizá-lo apenas como um complemento”.
As experiências vão-se sucedendo numa variedade desafiante da
imaginação dos radialistas. Um vetor parece ter o caráter determinante do que é
indispensável: a voz.
Uma das minhas melhores alunas, hoje doutorada, a Nair Moreira
da Silva[1], expressava com clareza
uma evidência que devia ser óbvia no ambiente rádio:
“A voz humana continua a ser o único laço afetivo,
numa rádio que encerra um modelo demasiado concentrado em playlists, sem
explicações e sem intimidade, ao admitir uma nova conceção estética que
desenvolva uma cumplicidade que estimule a criação e participação e envolva
sensorialmente o ouvinte e com ele crie um vínculo intenso e duradouro. A
principal conclusão a tirar desta dissertação é que na Internet a rádio perde a
sua identidade, já que a sua especificidade é quase toda ela eliminada ao
apresentar-se em sites multimédia idênticos aos sites de milhares de outros
órgãos jornalísticos. A voz humana, quando é intimista, emerge desse cenário,
no entanto, como o elemento identitário radiofónico pode possibilitar à rádio
na web um reencontro parcial com essa sua identidade perdida.”
Por tudo isto, insisto: “Na rádio a voz é a matéria-prima
dos seus profissionais e o veículo facilitador da identificação da estação de
rádio”. Tanto nas ondas hertzianas como nos traços digitais.
“As vozes chamam a
atenção dos ouvintes, sinalizam as mudanças de assunto e a procedência das
notícias, informam sobre a identidade e o contexto.”
Continuo a entender que a voz é razão de ser da rádio. Por
isso há que tratá-la bem e ser exigente quanto à sua qualidade nos quatro
fatores: intensidade, volume, intervalo (pausas), ritmo.
Reflexões vertidas para aulas por
Rui de Melo
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na
Universidad Pontificia de Salamanca e licenciado em Direito pela Universidade
Católica do Porto
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando
Pessoa
José Afonso e uma experiência única
José Afonso e uma experiência única
Estávamos em 1962, em Coimbra, no período de exames de outubro. Cabia-me fazer a aptidão ao curso de direito da Universidade. Empreendimento em que tive sucesso.
O dinheiro não abundava e não dava para ir para uma pensão. Tinha um amigo que estava ligado à Rás-te-Parta, conhecida “república” de estudantes, a quem pedi que conseguisse que me deixassem pernoitar até acabar o exame de aptidão. O Sérgio Martins era muito bom aluno e não precisava da época de outubro o que dificultava a “cunha”. No entanto, o relacionamento do meu pai com o Rás-Mor facilitou as coisas. E assim pernoitei na Rás-te-parta.
O Rás-Mor disse para ficar tranquilo a estudar no quarto e que não me incomodasse com o “movimento” que ia acontecer durante a noite. Havia outros convidados para passar a noite naquela casa. José Afonso era um deles. Fui-lhe apresentado com a indicação de que trabalhava na rádio no Porto. Fomos conversando sobre música, discos e, inevitavelmente, fado de Coimbra. José Afonso surpreendeu-me quando disse que estava cheio de fados de Coimbra. Ele que tinha discos editados pela Valentim de Carvalho! Disse-me que queria gravar outras coisas que não fado e pediu-me que sugerisse editoras do Porto. Falei-lhe da Rádio Triunfo, do Arnaldo Trindade e da Rapsódia. Pôs logo a Rádio Triunfo de lado e disse que não conhecia a Rapsódia. Dei-lhe o contacto e insisti no Arnaldo Trindade. Depois disse para eu ir estudar porque o exame que ia fazer não era brincadeira.
Por volta de uma da manhã começo a ouvir cantar uma música bem conhecida, mas com uma letra diferente:
A 13 de maio,
Na Cova da Iria
Não aconteceu nada
É tudo mentira!
Divertiram-se com mais uns temas populares até que, solicitado pelos colegas e com Rui Pato à viola, ouvi, pela primeira vez, “Os Vampiros”. Poema de numa força nunca antes ouvida por mim. Não me atrevi a sair do quarto. Olhando pela janela, encostado à parede, estava um homem que desconfiei ser da polícia política. Temi que a noite tivesse consequência funestas No dia seguinte, disseram-me que, com os estudantes em grupo, os “pides” não se atreviam.
Passados uns meses aparecia no mercado “Os vampiros”, em lançamento da Casa Rapsódia, da Rua de Sto António (hoje, 31 de janeiro). Depois, foi o que toda a gente sabe. Arnaldo Trindade acabaria por dar a José Afonso as condições de trabalho que o seu valor exigia. A Rapsódia foi um episódio isolado.
Devo dizer que, no encontro da Rás-te-Parta, estava também um rapaz de Avintes, chamado Adriano Correia de Oliveira. Ele será o tema da minha próxima história.
Voltei a encontrar José Afonso quando ele veio aos estúdios do RCP por altura da I Convenção Internacional do Disco, realizada em Ofir por Arnaldo Trindade, em 1969. Um acontecimento de criação só possível por Arnaldo Trindade.
Propositadamente nunca tratei José Afonso por Zeca. Só os mais íntimos o tratavam assim. E eu, infelizmente, não o era.
José Afonso foi sempre obrigatório nos programas de rádio que realizei e apresentei.
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