Eufonia ou a harmonia das vozes na Rádio e na Televisão
Em 17/18 março
2005 participei no IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos e no II
Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos
Convidado a
apresentar uma comunicação, escolhi “Eufonia ou a harmonia das vozes na Rádio e
na Televisão”
É esse trabalho
que reconstruo.
A reflexão que
aqui se deixa é fruto de dezenas de anos de prática e da observação que se tem
feito ouvindo a rádio e a televisão que se fazem em Portugal. É preocupante a
leviandade com que a língua é tratada na sua expressão oral por quem serve,
apesar de tudo, de referente a uma população que, fundamentalmente, ouve e vê
informação mediática (e raramente lê). Rádios e televisões de dimensão nacional
descuidam-se na utilização da voz, da fala, da fonética e, por arrastamento,
comprometem a credibilidade do emissor. Quem acredita em alguém que, quando
quer informar, hesita, tropeça, mastiga, empastela aquilo que está a dizer? Não
será esse conjunto de “hums”, “mnhes”, “ããããs” uma fonte incomodativa de ruído,
fruto de quem não está convencido do que informa, resultado expressivo de quem
está inseguro? É uma espécie de moda que só pode ter sido lançada por quem não
gosta de rádio e quer dela afastar tudo o que seja ouvinte.
Assim, esta
reflexão tem por objetivo ponderar os diversos aspetos em que a comunidade
académica interessada nas Ciências da Comunicação pode dar o seu contributo de
forma a exigir-se que prepondere a eufonia sempre que haja comunicação para
públicos mais ou menos vastos.
Podemos definir
eufonia como uma emissão verbal harmoniosa e agradável ao ouvido. Do grego eu,
bem ou bom, e fonos, som, voz. À eufonia opõe-se a cacofonia (do grego cacos,
mau, feio, defeituoso, e fonos, som, voz). Eufonia é também um efeito rítmico e
harmónico agradável produzido pelas sequências fónicas de um sintagma, de uma
microestrutura textual. Eufonia significa, assim, som agradável, escolha
harmoniosa dos sons, suavidade de pronúncia. Efetivamente, o que se diz na
rádio ou na televisão deve soar bem, além do comunicador o dizer bem.
A eufonia (a
harmonia, a agradabilidade) deve ser, pois, uma finalidade do som em geral e da
rádio e da televisão muito em particular, já que marca uma relação que, para o
ser, tem de constar de satisfação mútua, dotar o ouvinte/espectador do sentido
da fruição, para que se sinta bem com o meio de comunicação. A rádio e a
televisão têm de assumir em todos os momentos que a voz, acima de todos os
outros elementos (música, efeitos, silêncios, imagem ou dados), é a garantia
sonora da compreensão mútua e do entendimento com os ouvintes/espectadores.
A propósito da
questão da linguagem radiofónica, por exemplo, considerando a rádio como meio
de difusão, comunicação e expressão, implica que se privilegie a expressividade
e o papel a desempenhar pela palavra mediada pela voz, pela música, pelos
efeitos sonoros e pelos silêncios. Pegando no conceito de eufonia, ligado à
agradabilidade do som da voz, alarga-se à harmonia que deve enformar a
expressividade radiofónica. As potencialidades abertas pela digitalização
apresentam-nos a rádio e a televisão como multimédias, o que levanta a questão
dos conteúdos que, cada vez mais, pedem ao comunicador de rádio ou de televisão
um permanente exercício da criatividade e alargada pela vertente interativa.
Entre 1968 e
1975, no Rádio Clube Português, realizei e apresentei o programa "Norte
Dia a Dia" onde experimentei, com sucesso, um noticiário regional escrito
para ser lido com o balanço e o ritmo de uma música de jazz de características
eletro-acústicas. Resultou de um trabalho conjunto de Gonçalo Nuno Faria, Rui
Lima Jorge e eu próprio. Normalmente o texto era do Gonçalo e eu ou o Lima
Jorge procedíamos à leitura e respetiva sonorização. Estava encontrada uma
fórmula que resultava em pleno, dotando a rádio que se fazia de uma
expressividade cativante. Quando, anos mais tarde, o Gonçalo tentou repetir a
fórmula na RDP, não encontrou nem vozes nem sensibilidades artísticas que
fizessem com que o processo resultasse. E aquilo que, anos antes, tinha sido um
sucesso, revelou-se, com outras vozes, um autêntico fracasso. A diferença não
estava na palavra escrita, mas na falada e na ausência de sentido de eufonia de
outros profissionais. O título do espaço noticioso era o mesmo, "Norte em
Notícia", o autor do texto continuava a ser o Gonçalo Nuno Faria, mas eram
outros os responsáveis pela expressividade radiofónica (ou sua ausência, para
ser mais correto).
Pude aqui
descobrir duas das funções da linguagem de que fala Jackobson. A função fática
ao procurar estabelecer e manter a atenção do ouvinte, em que o prazer de
comunicar quer dos criadores (emissor) quer do ouvinte (recetor) estabelece uma
comunhão de interesse e atenção partilhados. A função metalinguística, do
código, em que os criativos numa linguagem radiofónica, por certo arbitrária,
mas que se afirmou naquele específico contexto social. Aliás, a necessidade de
passar informação que apelasse à inteligência para uma descodificação do
sentido verdadeiro, era um recurso utilizado com frequência para iludir a
censura.
O profissional
de rádio tem de ter presente que é pela voz e pelo ouvido que o homem adquire o
seu estatuto de sujeito. Ouvir alguém na rádio é ouvir a sua voz e, cada vez
que o ouvinte concentra a sua atenção na escuta, deixa ecoar dentro de si a
fala do outro. É pela voz que o ouvinte vai descobrir o "não dito", o
sentido profundo da mensagem. Se o profissional não tem consciência disto, as
suas palavras ficam vazias. Ao abdicar da coloquialidade está a colocar o
ouvinte à distância. Não comunica com ele. O afeto deve passar através da fala
num esforço permanente do profissional da rádio fazer sentir ao ouvinte de que
está com ele e que partilha um código de compreensão, ou seja, de comunicação.
"A voz
permite que a linguagem fique retida no corpo do sujeito sem se alienar:
inversamente, garante à linguagem o seu peso como matéria, sem o qual se
converteria apenas em código vazio". Isto leva-me a deduzir, sem
dificuldade, que a eufonia, a harmonia, a agradabilidade deve ser uma
finalidade do som em geral e da rádio muito em particular, já que marca uma
relação que, para o ser, tem de constar de satisfação mútua, dotar o ouvinte do
sentido da fruição, para que se sinta bem com a rádio.
"Al
margen de que la palabra que se difunde sea improvisada o leída, escrita por
uno mismo o por otro, de carácter sugestivo o meramente informativo, el primer
contacto sensitivo del oyente con el emisor es la voz. Ella es la que
identifica y sitúa psicológicamente al
hablante en la mente de quienes se encuentran al outro lado del recetor"
(Muñoz y Gil, 1986: 53)
Aqui têm
influência três fatores fundamentais: a vocalização, a entoação e o ritmo.
Quanto à vocalização, basta referir que uma pronúncia deficiente dos fonemas
tem como consequência imediata a perda da clareza da mensagem.
A entoação diz
respeito ao facto de a linguagem oral incorporar uma musicalidade que, através
do timbre, do tom e da intensidade da voz (convenientemente modulada)
transporta maior carga semântica e possibilidades expressivas mais ricas.
Conforme Rodríguez (1998: 85), reconhece-se que o timbre é uma sensação
auditiva complexa que nos possibilita perceber a estrutura acústica interna dos
sons compostos e que é independente da duração, do tom e da intensidade, sendo-lhes,
contudo, simultânea.
"Intensidad
o propiedad por la que un sonido es más o menos fuerte.(.../...) Tono o
propiedad por la que un sonido es más o menos gráve o agudo. (.../...) Duración
o persistencia durante un tiempo. Es la velocidade com que aparece el sonido:
rápido, lento" (Cebrián,1995: 359)
A propósito da
entoação, Balsebre fala da melodia da palavra, componente desprezada com
frequência desmesurada na rádio que se ouve. Para ele, a expressão musical da
palavra radiofónica e a sua significação linguística são definidas
conjuntamente pela melodia ou pela entoação. Na expressão de Constantin
Stanislavski (citado em Balsebre, 1996: 57):
“El
subtexto es un tejido de esquemas innumerables y diversos dentro de la obra y
del personaje, hecho de "síes mágicos", cir¬cunstancias dadas, todo
tipo de ficiones de la imaginación, movi¬mientos internos, objetos de atención,
verdades pequeñas y gran¬des y la creencia en ellas, adaptaciones, ajustes y
otros elementos similares. Es el subtexto lo que nos hace decir las palabras
que de¬cimos en una obra»”.
No que diz
respeito ao ritmo, devemos ter em conta que varia em cada tipo de mensagem ou,
inclusivamente, ao longo da mesma mensagem. Não deve ser demasiado apressado
nem exageradamente lento. O primeiro pode “cansar” o ouvinte e o segundo pode
aborrecê-lo. Em qualquer dos casos ele “desliga” do que está a ser dito e até
pode "ligar" para outra emissora.
"En
un sentido más subjetivo, entendiendo el proceso de percepción ¬radiofónica
como una aprehensión de formas sonoras ininterrumpidas ¬en una secuencia, y
como percepción de una periodicidad previsible (…/…), ritmo es la periodicidad
percibida, la dimensión que fija la naturaleza de la periodicidad percibida, la
proporción en que son percibidas las distintas secuencias sonoras"
(Balsebre, 1996: 69)
A rádio,
tenho-o dito com frequência aos meus alunos, é o meio mais motivador de
imaginação no contexto mediático. A experiência mostrou-me isso inúmeras vezes.
Cito o exemplo de um colega de profissão que era dotado de uma voz jovial e de
grande expressividade. Estávamos no início dos anos 70 e os estúdios do Rádio
Clube Português, no Porto, ficavam perto de uma escola secundária feminina.
Umas quantas alunas pediram autorização para visitar os estúdios e disseram que
gostariam de conhecer o locutor tal. Lá veio o meu colega, careca, gordo,
baixinho. Desilusão completa para as meninas cuja imaginação tinha colocado
aquela voz num corpo muito mais interessante e sedutor. O cumprimento foi
cerimonioso e, no fim de contas, a visita aos estúdios não passou do hall de
entrada porque, estava visto, o que as meninas queriam era conhecer de perto o
seu “ídolo”. Só que ele estava nos antípodas daquilo que imaginaram e a
debandada foi imediata. Para desgosto do meu colega...
Guy Rossolato
(citado por Castarède, 1991:161) identificava na voz uma origem corporal,
orgânica e de excitação, e considerava-a uma força, um campo, um objetivo, de
prazer, ligado a uma tensão que é preciso reduzir, um objeto, para atingir um recetor,
assegurar uma comunicação. “Pode-se considerar a voz, e, por conseguinte, a
música, como uma metáfora do impulso em geral - o impulso sem outro representante
a não ser a própria música”.
Este impulso de
afeto e até de representação (não só através da música, mas também dos efeitos
e do silêncio) compõe a expressividade harmónica estruturada e estruturante,
dotando de sentido a mensagem apelativa da imaginação do ouvinte que a
completa. O que leva Balsebre (Ibd. 41) a dizer que
"El
tratamiento musical de la voz, sin perjuicio para la significación semántica
(inteligibilidad del texto en un contexto comunicativo), há de estar presente
también en la connotación estética de la palabra radiofónica. En la radio, la
componente estética del mensaje radiofónico transciende el significado
puramente lingüistico de la palabra. De outra manera, será muy difícil aceptar
la importancia de dimensiones acústicas, como la intensidad, el tono, el timbre
o el ritmo en la codificación de la palabra radiofónica".
A rádio digital
vem colocar todas estas exigências em relação à palavra radiofónica como
condição sine qua non para o comunicador avançar com novas propostas de
composição harmónica dotada de sentido estético, envolvendo agora uma
específica qualidade sonora e a particularidade de lidar com outros elementos
representativos traduzidos em dados (que podem representar, sons, textos,
imagens ou gráficos).
A receção das mensagens radiodifundidas
Os quatro tipos
clássicos de receção das mensagens radiofónicas foram explicados por Abraham
Moles (citado por Ortriwano, 1985: 82):
"a)
ambiental: quando o ouvinte deseja que a rádio lhe propor¬cione um "pano
de fundo", seja através de música ou de palavras;
b)
companhia: o ouvinte presta uma atenção marginal interrompida pelo
desenvolvimento de alguma atividade paralela;
c)
atenção concentrada: supõe que o ouvinte, mesmo exercendo outras atividades
paralelas, aumenta o volume do recetor, concentrando a atenção na mensagem que
lhe interessa;
d) seleção
intencional: é a seleção de um programa concreto por parte do ouvinte".
Considerando
que a enunciação discursiva na rádio é de base verbal, a voz é o elemento
principal da expressividade radiofónica. Num meio desprovido de imagem visual,
a voz adquire mais importância do que no teatro, no cinema ou na televisão.
Por definição,
eufonia significa som agradável, escolha harmoniosa dos sons, suavidade de
pronúncia. Efetivamente, o que se diz na rádio deve soar bem, além do
comunicador o dizer bem. Copeau (citado por Merayo, 1992: 296) dizia:
“Será
necessário que as vozes sejam bonitas. Será necessário que sejam simpáticas.
Será necessário que sejam diversas em maturidade. Será necessário que estejam
organizadas. Será necessário que sejam capazes de todos os tons, do mais
ligeiro murmúrio à declamação mais ampla e sustentada, até ao canto”.
Tais
exigências, imprescindíveis nos programas de criação, são também,
prudentemente, aplicáveis à informação. A alternância de vozes de timbres
diferentes e tom agradável melhora a apresentação das notícias, torna os
noticiários mais dinâmicos e, portanto, mais “fáceis” de ouvir.
A eufonia tem
muito a ver com uma locução adequada e também com a combinação harmónica da
palavra com os outros elementos sonoros. Embora de forma muito limitada, já é
possível ouvir efeitos sonoros e até musicais, a enquadrarem as notícias,
servindo de cortina separadora de temas. Mas, em tempos, o Rádio Clube
Português chegou a utilizar efeitos sonoros a separar cada notícia, fazendo
para o ouvido aquilo que o ponto e parágrafo fazem na escrita. Sabia o ouvinte
que tinha acabado uma notícia e ia começar outra.
Se ao caráter
expressivo da voz humana lhe acrescentarmos efeitos e cortinas musicais, como
timidamente alguns vão fazendo, a informação radiofónica identifica-se mais com
o meio que vive exclusivamente do som, adquire mais vivacidade e resulta num
verdadeiro espetáculo para o ouvido que se espera que a rádio seja. Tudo isto
no pressuposto estético e deontológico de não cair no ridículo e dispersar a
atenção do que verdadeiramente é importante - a notícia. A combinação dos
recursos sonoros que integram a mensagem radiofónica, deve não só adequar-se à
ética profissional como perseguir o sentido estético de uma verdadeira harmonia
acústica.
O princípio
essencial assenta no facto de os espaços de emissão deverem constituir um
conjunto harmónico com o todo da programação em que estão inseridos. Esta
harmonia, ambientação eufónica por extensão, exige que a todo o momento, os
diferentes elementos da mensagem radiofónica (palavras, música, efeitos ou
silêncios) se ajustem esteticamente, sem que transpareçam combinações bruscas,
desordenadas ou cacofónicas.
O nosso ouvido,
perante uma simultaneidade acústica, pode combinar vários sons, percebê-los
todos juntos e selecionar os que mais lhe interessem, subalternizando ou
desprezando todos os outros. Após a seleção, estão criadas condições para
corresponder à atenção dirigida e concentrar-se no que lhe interessa. Também
acontece que o nosso ouvido está condicionado por um determinado ritmo à
sucessão de sons que lhe apresentam. Assim, o ritmo musical ou o ritmo da
linguagem falada repercutem-se na audição e correspondente compreensão das
mensagens.
A saúde da voz
Depois do que
se disse sublinhe-se que as características da voz falada exigem que a
respiração seja natural. Assim, o ciclo completo de respiração varia de acordo
com a emoção e o comprimento das frases e a velocidade de fala, o que implica
uma inspiração relativamente lenta e nasal nas pausas longas, sendo mais rápida
e bucal durante a fala, com uma pequena movimentação pulmonar e da expansão da
caixa torácica. Estamos aqui no domínio da coordenação pneumofonoarticulatória.
O objetivo da
voz falada é, então, a transmissão da mensagem, com articulação precisa
mantendo a identidade dos sons. Vogais e consoantes com duração definida pela
língua que se fala. O padrão de articulação sofre grande influência dos aspetos
emocionais do falante e do discurso. Fala aparece espontânea e articulada.
Em nenhum lado
se aprende a falar com hesitações, com ruídos, com tropeções. Então onde é que
alguns dos nossos profissionais da rádio e da televisão, nomeadamente
jornalistas, vão buscar as bases para falar tão deficientemente?
Há tantos e tão
divertidos exercícios para fazer. Há tantos aspetos a cuidar na nossa voz. São
enormes as vantagens que obtemos conhecendo coisas elementares que os
profissionais da saúde nem acreditam que os comunicadores tudo façam para
menosprezar o seu instrumento de trabalho: a voz.
Daí que seria
interessante motivar os comunicadores, professores incluídos, a terem
conhecimentos de fisiologia (mecanismos e funções) da voz e cuidados com o
aparelho fonador, a evitar o abuso e o mau uso da voz no trabalho e,
principalmente, nas atividades extra profissionais. Evitar condições adversas:
ambiente refrigerado, poeiras, acústica inadequada, pressões psicológicas,
falta de hidratação adequada, falar fora de seu registo vocal, dinâmica
corporal inadequada, hábitos alimentares inadequados, consumo de tabaco,
álcool, e por aí fora.
Conclusão
A formação do
ouvinte/espectador, na minha compreensão, passa pela formação da sua cidadania.
Esse é o compromisso de quem é comunicador profissional.
Os cidadãos têm
uma forte componente de formação na medida em que os profissionais dos media
estimulem o seu gosto pela informação e lhes proporcionem estratégias de
conhecimento que lhes possibilitem a fruição máxima dos sentidos textuais. Daí,
então, as duas condições necessárias para a formação do
ouvinte/espectador/leitor: ter o prazer de ouvir par depois poder contar.
A primeira
condição não se circunscreve, é claro, apenas ao prazer estético ou ao lazer,
mas inscreve-se no atendimento das mais diversas necessidades de informação do
cidadão; a segunda, por sua vez, não é exclusiva dos media nem das salas de
aulas.
Os media e os
jornalistas não são os únicos responsáveis pela formação do cidadão: a família,
a escola e a sociedade, conforme os desenvolvimentos que a agenda setting tem
evidenciado, são corresponsáveis no processo formativo fundamental. Porque uma
criança recebe as influências da família, por cujas figuras parentais modela a
sua personalidade. Para ela, o ato de ler, por exemplo, não pode pertencer
apenas ao universo escolar. Assim, o indivíduo que vive em sociedade se quer
participar com consciência no processo de decisão tem de se informar.
É preciso,
então, termos a clara noção da partilha dessa responsabilidade de
formação/informação a fim de não remeter para o jornalista (apenas) ou a escola
(somente) ou a família (unicamente) ou a sociedade (exclusivamente) a sensação
de fracasso e o complexo de culpa pelo défice de cidadania. O problema que aqui
se colocou está antes de tudo isso. Localiza-se em razões tão elementares como
o saber escrever e saber falar para poder veicular informações. Ora se nós que
“O Papa foi internado com um problema cardio-respiratório” porque é que o
jornalista de rádio ou de televisão há-se dizer:
“a mmmmm o Papa aaaa foi internado mnhhhhh,
com um problema a cárdio-respiratório”?
Quem leva a
sério uma leitura nestes termos? Onde está a credibilidade de quem assim nos
fala?
Da forma como
raciocinei acima, posso ter dado a entender que todos os jornalistas optaram, a
partir dos anos 90, pela “mastigação” dos textos objetos das suas
leituras/notícia; não é, de forma alguma, tanto assim: o que tentei foi apontar
muito sumariamente a situação que se vive em alguma da nossa comunicação
mediática audiovisual.
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RODRÍGUEZ,
Ángel, 1998, La dimensión sonora del lenguaje audiovisual, ed. Paidós,
Barcelona.
Rui de Melo
Professor Associado, aposentado, da Universidade Fernando Pessoa
Doctor en Periodismo y Ciencias de la Información na Universidad Pontificia de Salamanca
e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto
IV Congresso
Luso-Galego de Estudos Jornalísticos
II Congresso
Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos
17/18 MARÇO
2005